É você

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"A vida passa muito rápido. E se você não curtir de vez em quando, a vida passa e você nem vê."

- Eu confio em você. - Falo ao ver a foto de Rafaella.

Assim que retornei para o aplicativo, a primeira foto que apareceu no meu feed foi ela. Observo cada detalhe e sinto saudade dê tê-la comigo. Ignoro a solicitação de Marcela. E entro no wpp novamente, procuro o contato de Rafaella e resolvo enviar um áudio.

🗣 Oi Rafa, já estou em casa. Procurei por você, mas não te encontrei.. enfim.. é isso, espero te ver em breve. Beijo!

Assim que envio o áudio, escuto um toque de notificação vindo do lado oposto que estou. Levanto da cama e vou até minha bolsa, abro-a e vejo o celular de Rafaella dentro.

- Droga.

Eu sabia que mesmo que o celular estivesse com ela, a mensagem não seria visualizada naquele momento, ou hoje, a bichinha já estava bem alterada. Meus pensamentos voltam para ela, aposto que ficará procurando o aparelho que nem doida. Por fim, faço a única coisa que eu não deveria fazer, envio uma mensagem para Manu, informando que o celular estava comigo e se ela poderia avisar Rafaella.

Antes mesmo de enviar a mensagem me arrependo e depois de enviar, a tensão se instala no meu corpo. Manoela é atenta, aposto que vai criar alguma teoria de porque o celular da influencer estava comigo.

Verifico que a mensagem foi entregue, mesmo com meu nervosismo não apago. Rolo por outras conversas, até parar em uma de minha mãe. Na mensagem, em tom autoritário ela me cobrava uma visita. Tento pensar em uma desculpa para responder.

Quando comecei a me envolver com Rafaella, - diferente de quando estava com Marcela -, eu não conseguia evitar de falar o nome da influencer, estar com ela ou incluí-la em alguma atividade comigo. Uma dessas atividades foram almoços entre minha mãe e eu.

Nossos almoços aconteciam de forma esporádica, no entanto, estavam indo bem, até que durante o último que tivemos, percebi um desconforto em relação a minha mãe. Ela estava inquieta, falou pouco e logo foi embora. Eu li os seus olhos, algo a incomodava. Desde então, tenho tentado ficar alheia a ela.

Eu amo minha mãe, amo está próxima dela e sei que ela me ama. Seria tolice e ingratidão, dizer que não temos uma relação bela e de amor. Que trocamos conversas e diálogos importantes, porem alguns assuntos são evitados. Eu tenho vontade de falar sobre tudo com ela, mas algo me prende quando se trata de falar sobre minha vida e meus relacionamentos.  Não só me prende, como também me afasta e me isola. A percepção que minha mãe possa ter sobre mim, me causa medo. Portanto, eu uso a minha capa protetora.

Nos duas nunca tivemos muitas conversas sobre sentimentos e problemas, sempre preferimos deixar o tempo correr e as coisas se acertarem sozinhas. Aprendi isso conforme fui crescendo, identificando seus olhares, sim nossa relação mãe e filha é estranha. Quando eu era criança imaginava nossa relação como acontece naquelas cenas de novela, em que mãe e filha sentam, tomam um café e conversam abertamente. Às vezes acho que essa cena pode ser real, eu chegando nela e contando tudo, quem eu amo e o que eu quero.

Fuzilo o celular, esperando que com o poder da mente, uma resposta aparecesse. Decido não responde-la, pretendo seguir o que ela sempre fala: que o tempo conserte tudo. Quando resolvo sair do aplicativo, vejo Baixinha está digitando. Prendo a respiração, ficando tensa de novo. Mordo o lábio, encaro a tela do celular, ansiosa para saber o que Manu tanto digitava. De repente, sobe a notificação.

"Oi Titchela. Tudo bem? Rafa está comigo, ela passou um pouquinho do álcool e pediu para sair da festa... Agora, estou estacionada na garagem há uns cinco minutos tentando tirá-la do carro🙃."

Depois de ler a mensagem, levo a mão ao cabelo. O que eu deveria fazer? Leio novamente e digito rapidamente.

"Estou indo te ajudar!"

Meus relacionamentos afetivos foram marcados pelo abandono. E isso tornou-se o esperado. Em algum momento na vida, alguém irá me deixar. E está tudo bem. Não sou âncora para segurar ninguém. Mas eu não perderia Rafaella, não sem lutar por ela.

Não verifico a resposta, troco de roupa, colocando um moletom. Jogo meu celular na bolsa, pego as chaves. E sigo para casa de Manu.

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