Livre Estou

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"Uma hora você tem que tomar uma decisão. As fronteiras não mantêm as pessoas para fora; elas te prendem dentro de si." - Grey's Anatomy.

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《》 GIZELLY 《》

A pergunta de Fernanda não saia dos meus pensamentos, me rondava e eu tentava solucionar como se fosse um problema matemático.

Quem eu sou? Quem sou eu? Por que é tão difícil chegar em uma resposta? Fazia algumas horas que estava sentada na cama com meu baú de recordações, a pasta de arquivos de meu pai, e, o livro de regras.

Utilizando esses objetos havia montado uma linha cronológica da minha vida, na qual observa e tentava lembrar o contexto e como me sentia, em letras gritantes eu me perguntava: QUEM EU ERA?

Como mágica, às memórias começam à preencher às lacunas que me transformaram ao longo dos anos.

Cercada de lembranças, fotos, cartas e mensagens, aos poucos meu problema matemático se resolve. E a resolução não poderia ser mais simples.

- Sei quem eu sou.- Digo em um sussurro.- EU SEI QUEM SOU! - Falo alto e em bom som, como se fosse um ato de liberdade.

Levanto, deixo tudo para trás, coloco meu tênis, jogo o celular na bolsa e pego às chaves do carro. Eu sabia o que precisava fazer.

¤

Aperto a campainha esperando que ela esteja em casa. "Por favor, atenda". Insisto, repetindo a ação. Quando percebo a demora para abrir a porta e me dou por vencida, sinto um toque em meu ombro.

- Olá. - Ela diz tímida, fazendo com que eu me vire e se jogue em seus braços, sem ligar para o que segurava.

- Mãe.- Minha voz sai como um lamento. - Me desculpa, mãe.

- Oh, filha. - Minha mãe me aperta com a mesma intensidade, como se estivesse sempre me esperando. Eu me aninho em seus braços. - Bilu, eu te amo tanto.- Entre lágrimas consigo sorrir ao escutar o apelido. - Você não sabe o quanto senti saudade filha. - Meu sonho estava se tornando real, minha mãe quebrou sua casca dura e estava sendo afetuosa.

- Senti saudade também, - nos soltamos.- meu orgulho e a raiva fez com que eu demorasse para vir.

- Eu sei, bebê. - Passa a mão limpando meu rosto. - Vamos entrar. - Minha mãe faz menção em recolher as compras que deixou no chão, mas eu sou mais rápida e recolho. Entramos em sua casa extremamente arrumada, levo as coisas para a cozinha, porém ela não deixa que eu arrume na despensa. - As compras podem esperar Bilu.

- Podem sim, vamos conversar? - Ela acena, pega minha mão e nos encaminhamos para a sala.- Eu começo, ok?

- Sim. - O olhar de minha mãe era tão fraternal que nem por um minuto recuei no que iria lhe dizer.

- Comecei à fazer terapia...na verdade, voltei a fazer com uma nova profissional.- Digo-a tranquilamente.- Tenho que lhe dizer que não aceitei tudo que aconteceu, e não falo da descoberta da sua omissão. Mas sim do abandono do papai, a morte da Pamela, minha sexualidade, - Mamãe está igualmente tranquila enquanto escuta o que falo. - V indo embora, abandonos.. enfim.. Fiz um exercício com intuito de saber quem sou eu, recorri para as minhas memórias, observei o meu eu em diferentes fases.. Tudo que aconteceu comigo me moldou, me transformou. - Choro enquanto faço meu relato.- Mas durante a resolução desse exercício, escutei uma voz baixinha falando dentro de mim.

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