Cena IV

26 1 0
                                    

MEFISTÓFELES, FAUSTO adormecido, depois uma ratazana

MEFISTÓFELES

Agora toca a ver se desfazemos
o encalhe da soleira. Quem nos dera
dente de rato aqui!... Pedi-lo e tê-lo,
tudo foi um; já lhe oiço a roedura;
não tarda uma unha negra. Esconjuremo-lo!
«O Senhor dos ratos, murganhos e moscas,
«das rãs, percevejos e mais sevandijas,
«ordena que roas as figuras toscas,
«que ele unta de azeite nestas pedras rijas.

(Sai do buraco uma ratazana, e chega-se à soleira da porta do fundo)

Saiu do buraco; já chega à soleira.
Brio, ratazana, que a obra é só tua!
Rapa do triângulo a ponta cimeira
do degrau na aresta que dá para a rua!

Ali é que o pé do diabo esbarrou.
Mais dois raspõesinhos, e acabas, meu filho.
... Zan... zan...Belamente. Mil graças te dou.
Podes-te ir embora; desfez-se o empecilho.

(Volta o rato para o buraco)

Sonha, Fausto, sonha, que eu salto a soleira. Fica-te, meu sábio, e até à primeira.

O Fausto (1790)Onde histórias criam vida. Descubra agora