Cena I

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VALENTIM ()

Dantes era regalo ir a uma súcia,
daquelas onde a gente bravateia
sem ninguém lho estranhar. Cada confrade
chamava à sua a flor das raparigas,
empinava um copázio em honra dela,
e, fincando na mesa os cotovelos,
quedava-se todo ancho. Eu, do meu canto,
ia-os mui pachorrento ouvindo, ouvindo,
a sorrir-me, e a anediar este bigode;
depois, erguendo ao alto o copo cheio,
proclamava: «Não digo menos disso;
porém que iguale à minha Margarida,
nem lhe deite água às mãos, quitam buscá-la;
sou seu irmão, e ufano-me de sê-lo.»
«Toque! Faço a razão!» vozeavam todos,
todos à uma, ao terlintim dos copos.
— «Não diz nada de mais: a Margarida
é realmente a jóia das mulheres!»
Não se ouvia outra coisa; os roncadores
nem chus nem bus...
E agora! Dão-me ganas
de arrancar estas barbas de vergonha,
e esmagar numa esquina esta cabeça!
Agora, pode já qualquer patife
mirar-me de revés, e até deitar-me
sua picuinha; e eu moita, sem ousio
para me erguer sequer, suando em bagas,
que nem ruim-paguilha, atanazado
diante do credor. Fazer em postas
um bruto desses não custava muito;
mas desmenti-lo...

(Vem do fundo do teatro acercando-se Mefistófeles e Fausto, e conversando entre si sem ser ouvidos. Valentim começa a coser-se com a casa de Marta.)

Enxergo além dois vultos.
Para cá se encaminham... Vem pisando
com passo de patrulha. Alto! observemos!
Dá-me no coração que estes figuros
hão-de ser os meus dois. Se apanho o melro,
já o não largo, senão feito em postas.

O Fausto (1790)Onde histórias criam vida. Descubra agora