Improviso

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Sérgio não raciocinava tão logicamente quando o assunto era Raquel. Ela o desequilibrava por inteiro, e ele, que odiava a instabilidade, correu disso desde o princípio. Mas Raquel era pior que um vício. Pior do que o pior dos vícios, e se pensarmos que de vícios Sérgio entendia bem, ele sabia que estava fodido.

Tudo o que ele pensava enquanto uma arma era apontada para a cabeça de sua amada era que ele faria o que fosse preciso para tirá-la daquela situação. Ele se esqueceu de absolutamente tudo. Que se foda o plano, que se foda a banda, que se foda tudo. Ele escolheria Raquel quantas vezes fosse preciso. Nem que isso implicasse naquele homem alertando as máfias e dentro de minutos brotassem irmãos e fiéis por ali para que todos fossem pegos.

Olhou para Raquel mais uma vez. Ela estava muito menos nervosa que ele. Seus olhos já brilhavam pela dor de ver a mulher que amava diante daquela situação. Ela o pedia calma com o olhar.

Sérgio levantou as mãos devagar colocando o cano da pistola para cima e se entregando ao pedido do homem. Mas este nem mesmo teve chance de comemorar a vitória ou dizer qualquer coisa. Raquel cravou uma faca afiada em sua coxa e forçou a mão onde tinha a arma para cima, milímetros acima de sua cabeça e milésimos de segundos antes que a arma disparasse para o alto três vezes seguidas. Sérgio olhava para os dois temendo atirar e acertar Raquel que travava uma luta corporal com o homem. Raquel reuniu de toda a força que tinha para empurrar o homem contra a grade da embarcação o forçando a cair em alto mar. O adversário finalmente rolou sobre a grade da embarcação, mas antes de cair totalmente ao mar conseguiu alcançar a roupa de Raquel, a fazendo rolar sobre a grade junto a ele.

Antes que Raquel pudesse cair em alto mar sendo puxada pelo homem, Sérgio a segurou com força de volta á estabilidade de dentro do barco, atirando também certeiramente na cabeça do homem e o fazendo cair e finalmente soltando Raquel.

Sérgio a ajudou a voltar totalmente para dentro da embarcação, onde ambos puderam finalmente respirar. Se entreolharam assustados e um pouco incrédulos diante do acontecido. Sérgio não mediu gestos antes de tomá-la em um abraço e apertá-la em seus braços como para ter certeza que ela estava realmente ali, com ele. Raquel retribui o gesto finalmente relaxando sob os braços do homem que amava e que tinha acabado de salvá-la. Sérgio a beijou no topo da cabeça e roçou o rosto por seus cabelos inúmeras vezes.

- Por Deus, Raquel. Por Deus... - Disse ele incrédulo enquanto tocava o rosto de Raquel e roçava seu nariz, testa e lábios contra o dela.

- Tudo bem, está tudo bem! - Ela o acalmou deitando a cabeça sob seu peito e sentindo como seu coração se acalmava conforme ela o apertava e passava as mãos por seus braços e costas.

- Que passou? - Tóquio perguntou aflita sendo seguida pelo restante da banda. Todos muito assustados com os barulhos de tiro.

O casal se separou delicadamente ainda se olhando incrédulos e assustados.

- Não importa agora! O que importa é que devemos achar a metralhadora com a numeração indicada o mais depressa possível e separar as armas que levaremos! Com o barulho dos tiros e a demora na comunicação com a tripulação a irmandade e a fidelidade devem estar a caminho! Vamos, vamos! - Sérgio ordenou e toda a banda obedeceu com muita agilidade.

- Você, para dentro do barco. Por favor, Raquel! - Sérgio intimou e Raquel estava cansada demais para não obedecê-lo.

Ele segurou em suas mãos e a puxou até a escada por onde tinham subido, a ajudando também a descer até o barco com cuidado, onde Raquel ajudou Marselha a organizar as bolsas com armas que chegavam e escolhia as que levariam e as que jogariam ao mar. Assim, em tempo invejável a banda encontrou a metralhadora com a numeração indicada a qual continha o GPS instalado e esvaziou todo o carregamento da embarcação.

My fatal paradiseOnde histórias criam vida. Descubra agora