decisão

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Sérgio

{Hurt - Johnny Cash}

Gritei alto mais uma vez. Morar em um local um pouco mais afastado da cidade tinha essa vantagem e era pouco provável que um vizinho aparecesse. Eu já havia bebido o suficiente para derrubar um cavalo, e ainda assim não conseguia esquecer nem que por um momento que fosse os olhos de Raquel incrédulos inundados de lágrimas. Eu jamais me perdoaria por ter feito isso com ela.

Quis voltar atrás e explicar toda a situação para ela no exato segundo que a mentira de dizer que não a queria mais saiu de minha boca. Mas eu estaria sendo egoísta. Raquel não entenderia que eu era uma ameaça real a ela. E assim não se afastaria. Essa mulher é mestra em seduzir e me atrair para ela de uma forma que quando eu menos esperasse já estaria em seus braços novamente. Eu cederia. Eu não consigo resistir a Raquel. Eu sei que cederia. A colocando em perigo mais uma vez. E então eu também teria que ceder as ameaças contra mim.

"Vamos Sérgio, você aguenta dor. Muita dor. Você perdeu Sol. Sol se foi e levou consigo grande parte sua. Você sobreviveu a dor de perder a sua pequena, amor da sua vida e a sua mãe. Você sobrevive a tudo. E agora, vai sobreviver a isso. Felizmente ou infelizmente, você vai sobreviver a dor de deixar Raquel ir embora."

Poderia parecer insuportável essa dor agora. Mas eu sei que seria só mais uma em minha vida. No máximo se somaria a todas as outras. E se não me matasse, me tornaria mais forte. Mais forte para seguir com essa vida medíocre de merda que eu levava.

Minha alma queimava. Parecia que eu incendiava de dentro para fora e alguma coisa me rasgava por dentro. A dor em meu peito era tanta que eu senti que poderia morrer aquela noite. A bebida já estava intragável e eu ainda não esquecia de quem eu era. Do que eu fiz e do que eu fazia.

De Raquel.

Pensei em ir até o coldre e pegar minha pistola e finalmente dar um fim a tudo isso. Mas apenas em imaginar aqueles olhos ainda mais tristes e temendo por toda a vida que mais uma pessoa se fora por culpa sua, não conseguiria fazê-lo. Que ironia pensar que eu não queria acabar com a minha própria vida somente porque temia como seria a dela após fazer isso. Pensar que eu sentia mais por ela de que por mim mesmo.

Eu não deixava de me culpar por ter deixado com que Raquel permanecesse em minha vida. Eu sempre soube que eu era um perigo para toda e qualquer pessoa ao meu redor, mas me deixei levar pelo que sentia. E pelo bem que ela me fazia. Eu sabia que a irmandade poderia estar entrando em guerra e que isso a colocaria ainda mais em vulnerabilidade. Puro egoísmo. Raquel era a única forma de me fazer sentir vivo depois de tanto tempo na escuridão. E eu simplesmente só pensei em mim. Não sei como me apaixonei por ela em tão pouco tempo.

Apenas sei que não a esquecerei...

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Raquel

Eu não tinha a mínima ideia do quão alto eu chorava. Eu nem mesmo conseguia pensar logicamente em porquê eu estava tão mal por Sérgio ter terminado tudo comigo dessa forma. Se eu mentia para mim mesma todo esse tempo sobre não estar apaixonada, a minha ficha caia agora da pior maneira possível. Eu estava apaixonada por Sérgio. Sim, talvez até o amasse.

Como pude ser tão ingênua? Eu estava ali para enganá-lo, e quem acabou iludida fui eu...

Como pude acreditar em suas palavras? Acreditar que a forma que ele me tratava era diferente. Que ele fosse uma pessoa honesta...

Cada vez que eu pensava que aquela situação estava um tanto quanto estranha, eu chacoalhava a cabeça afastando aqueles pensamentos os quais julgava serem obra do meu inconsciente que não queria acreditar que ele havia realmente me deixado daquela forma.

My fatal paradiseOnde histórias criam vida. Descubra agora