Loucura

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Dicionário:


X9: traidor, pessoa que entrega o grupo com uma informação secreta, delator, dedo-duro

Expressão "morte de caixão fechado": Quando a morte se dá por fatores que acabam por desfigurar o rosto ou corpo do indivíduo, opta-se por não se realizar o funeral com o caixão aberto.

Rachas: corridas ilegais de carros

Arritmia: quando o coração entra em arritmia, os batimentos saem do normal. Sejam mais lentos ou mais rápidos que o comum.

Parada cardiorrespiratória: Quando coração e pulmões deixam de funcionar. Quando ocorre o diagnóstico o essencial é que se realizem as manobras de reanimação cardiorespiratória até que o paciente tenha acesso a uma unidade de saúde. Utiliza-se também uma aparelho chamado desfibrilador para reanimação.

Roleta-russa: Jogo extremamente perigoso, geralmente feito em grupo, onde uma bala é colocada dentro de uma das câmaras de um revólver e cada jogador deve apertar o gatilho com a arma apontada para sua cabeça (geralmente). Pode ser considerado uma forma de suicídio, coletivo ou individual.


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{O mundo é um moinho - Cartola}

Raquel

Eram quatro e pouca da madrugada e eu estava na sacada da varanda de meu quarto fumando o meu terceiro cigarro de blusão e calcinha. O celular vibrou sobre a pequena mesa que havia ali quase toda ocupada por um cacto. Era Alícia novamente perguntando se não gostaria de sua companhia. E novamente recusei. Na verdade eu gostaria sim, mas eu estava simplesmente cansada de preocupá-la tanto. De ocupá-la tanto. Apenas acreditei que deveria sentir toda aquela dor sozinha.

Olhei para baixo. Uma altura considerada bem alta. E simplesmente não me autotutelei quando um pensamento veio... "E se?"

Sacudi a cabeça e olhei novamente para frente. Já não sabia qual sensação era pior: Aquela angústia sufocante que parecia arrancar aos poucos meu coração para fora de meu peito, ou o vazio profundo e desesperador que me anestesiava e me fazia sentir morta por dentro.

E assim eu passei os dias seguintes.

Intercalando dores. Vivendo com a sensação de morte que me rodeava. E eu nem mesmo sabia se isso era um temor ou um desejo.

Eu não me sentia pronta para ter a inevitável conversa com Prieto para lhe contar que eu falhei com tudo e nem mesmo queria cogitar o que ele decidiria fazer quando soubesse. Então o disse que eu estava muito doente e que assim que estivesse melhor iria a seu encontro.

Assim, tive alguns dias livres para tentar equilibrar as coisas um pouco dentro de mim, antes que tudo se desestabiliza-se em minha vida novamente, pra variar.

Sofria de volta o luto de Fábio. O único amor da minha vida. A única oportunidade que tive de ser inteiramente feliz e realizada. Que burrice pensar que um dia eu poderia amar novamente. Eu também não merecia ser amada novamente. Eu estraguei a minha própria felicidade, como sempre estrago tudo.

Eu me odiava por estar tão mal pelo acontecido entre mim e Sérgio. Ele definitivamente me deixou ir. E por mais que eu dissesse o odiar agora e não querer vê-lo nunca mais, o mais fundo da minha consciência me sussurrava que ele estava fazendo a coisa certa. Estava fazendo o que eu deveria ter feito com Fábio, quiçá agora ele estivesse vivo e feliz longe de mim. Mas o que mais doía era que eu amava tanto Fábio, que fui egoísta. Não conseguiria de forma alguma me afastar dele, e sabia que ele também me amava e jamais se afastaria de mim. Mas Sérgio não reagiu da mesma forma. O que também faz a minha mente doentia se perguntar se ele não me queria da mesma forma.

My fatal paradiseOnde histórias criam vida. Descubra agora