Até que a morte nos separe

428 9 77
                                    


Sérgio


Ela estava ali. Sim... ela estava!

Seu peso doce estava sobre os meus braços novamente. Seu cabelo fazia cócegas em minha pele. Nossas respirações estavam igualadas e provavelmente nossos batimentos também. Ela estava serena como uma criança inocente.

Ela estava ali.

Estava ali com todas as suas pintas, com o dourado do cabelo e o vermelho dos lábios. Os seios belos e agora mais fartos. A pele firme que fazia duvidar sua idade real. E a calma de quem anda despreocupado. Raquel estava dormindo ao meu lado novamente.

Aquilo não era um sonho. Eu também não estava bêbado ou drogado. Eu lembrava do que havíamos feito durante a noite. Havíamos feito amor como nunca antes e eu lhe disse com toda a clareza da minha alma que a amava bem mais que a mim mesmo. Eu mentiria se dissesse que estava arrependido. Eu não tinha arrependimentos quanto aquela visão. Era um privilégio enorme. E eu gostava tanto do que sentia quando com ela. Me fazia sentir vivo como nunca antes.

Como eu a amava!

Oh... Ela estava machucada. Tomei tanto cuidado para não ferí-la enquanto a tocava. A pele avermelhada ao redor dos pontos , alguns hematomas se desfazendo, mas ainda visíveis coloridos sobre sua pele. Meu peito apertou a vendo daquela forma, me senti como culpado por aquilo, mesmo sabendo que não era. Aquilo estava longe de ser minha culpa, e, para ser sincero, nem mesmo era culpa dela. A culpa que senti era por não poder protegê-la. Me sentia um fracassado por não poder protegê-la sempre.

Mas eu não podia protegê-la dela mesma.

Me deitei de lado na cama com cuidado para não deixar que meu braço, aonde ela tinha a cabeça apoiada, não se movimentasse tanto. Deitei naquela posição apenas para poder admirar seu rosto tão de perto enquanto ela ainda dormia.

Ela era a mulher mais bonita que eu já havia conhecido. E eu sabia que eu dizia aquilo apenas por estar totalmente apaixonado. Mas é que, olhando para ela naquele momento, eu não conseguiria - e nem gostaria - de lembrar de nenhuma mulher mais bonita que ela. Seus traços eram tão finos e delicados, nem mesmo aparentava ser a mulher de personalidade forte e firme que era. Nem parecia que aquele belo rosto poderia expressar tamanho ódio. Que sua cabeça tão bonita guardava lembranças tão ruins e que seus olhos tão calmos já tinham vistos tamanhas atrocidades. Talvez ela não aparenta dar porque ninguém deveria aparentar a barbárie. Muito menos Raquel. Talvez ela não aparenta dar porque aquilo não significava ela.

Ela havia ganhado um pouco de peso desde que a conheci, e ele havia se distribuido perfeitamente sobre seu corpo. Suas linhas estavam mais voluptuosas e eu não poderia estar mais encantado por isso.

A coberta cobria seu corpo abaixo de seus seios, me impedindo de vê-la um pouco mais. Então apenas acariciei com as costas de meus dedos a linha de seu abdômen, e a segurei com cuidado pela cintura. Oh... eu não podia esperar para vê-la ao avançar da gravidez. Com toda certeza ela ficaria ainda mais bela. Mal podia esperar para vê-la daquela forma. Curvilínea, com as bochechas rosadas e os cabelos longos brilhosos. Ela ficaria encantadora e eu seria um grande idiota a protegendo de tudo e todos, como sempre, e ainda bem mais exagerado.

Eu queria passar o resto da minha vida com aquela mulher. Eu estava cansado demais para lutar contra aquilo. E ela tinha razão, eu não deveria. Lutar contra o que eu sentia subjugaria nossas vidas e a de nosso filho a uma incertidão sem fim. Eu sentia algo ruim quando lembrava o que ela me havia feito, algo tão ruim que eu nem mesmo saberia dar nome. Mas eu não tinha mais forças de pesar em uma balança irreal esse sentimento passageiro e dolorido contra o alívio que eu sentia quando a minha pele estava junto a da dela. Eu não duvidava dela. Não mais. Talvez eu estava tentando enganar a mim mesmo que ela não me amava, porque talvez assim fosse mais fácil tentar deixá-la ir.

My fatal paradiseOnde histórias criam vida. Descubra agora