Mistérios

303 17 12
                                    


Raquel

— Então você deixou ele de pau duro e foi embora? — Alícia me indagou deitada em minha cama enquanto eu me maquiava.

— Uhum...— Disse apertando os lábios para espalhar melhor o batom vermelho que passei.

— E você acha que ele espera o que depois da apresentação de hoje? No mínimo uma apresentação particular também né Raquel... E você tá disposta a trepar com um cara que você terá que matar? — Perguntou minha amiga com uma careta engraçada. Eu sabia que independente da resposta, Alícia jamais me julgaria e isso era uma das coisas que eu mais gostava em minha amiga.

— Talvez nem será preciso, Alí! Bem, Prieto ainda não me disse tudo o que eu precisaria conseguir. O contei o que já consegui descobrir pra ver se ele se empolga mais com a missão com uma demonstração de profissionalismo de minha parte e tudo mais...Mas enfim, acredito que posso enrolar o carinha até...

— Hum...— Minha amiga respondeu olhando para o lustre no teto, como se pensasse em alguma coisa.

— E você? Hum? Nunca transou com um cara que mandaram matar? — Brinquei caminhando até a cama e deitando de lado sobre ela, apoiando a cabeça com uma das mãos.

Alícia me olhou asustada e fez um bico e piscou rapidamente, mais uma das suas caras e bocas, e então virou o rosto novamente para o lustre segurando a risada. Abri a boca em surpresa com o silêncio e a expressão que entregava a respostas de minha amiga.

— Alícia, meu Deus! — A repreendi tacando um dos travesseiros no rosto da ruiva que já gargalhava com a minha surpresa.

*****************************************************************************************************************************************

Sérgio

— Que porra é essa Andrés? — perguntei pro meu amigo enquanto ele enchia meu copo com água com gás e um limão, e não com o whisky que eu havia pedido.

Eu juro que se não gostasse tanto desse desgraçado, quebraria sua cara sempre que ele ao invés de me responder, expressasse uma careta entre as suas tantas. Andrés é uma daquelas pessoas que só conhecemos uma em toda a vida, e sou agradecido por ter essa peça única em minha vida. Nos conhecemos na máfia enquanto minha filha ainda era viva, em uma missão, ele era especialista em furtos inteligentes de especiarias artísticas raras e joalherias de luxo. Era o melhor que Tamayo tinha e eles já tinham um relacionamento - não se chama um homem como Tamayo de amigo - de longa data. Até que um problema gravíssimo de saúde obrigou Tamayo a afastá-lo dos negócios, porém, confiando em mim para mantê-lo por perto como se eu fosse seu vigia particular... Andrés foi proibido de sair da Europa e quiçá da Espanha. Logo ele que adorava viajar.

E percebi o quanto eu me importava com esse cara tão excêntrico quando tive que reanimá-lo em uma cena de crime, com as sirenes da polícia se aproximando. Lembro de ouvir o meu próprio coração enquanto tentava fazer com o que o do meu melhor amigo voltasse a bater. Em seguida o deixei como indigente em um hospital, sabendo que aquela com certeza não era sua vontade, e depois meu amigo foi utilizado como um rato de laboratório entre exames e experimentos quando descobriram que ele era portador de uma síndrome no coração até então desconhecida.

Posso considerá-lo meu melhor amigo, até mesmo porque é um dos únicos. Uma das únicas pessoas que tenho nessa merda de vida. A única pessoa que sabe tudo sobre a minha vida e ainda assim faz questão de permanecer nela. É o irmão que eu nunca tive mas que o destino me deu de presente talvez para tentar amenizar toda a merda que me havia acontecido. Que merda eu tô falando? Eu não acredito em destino. Acredito em escolhas, e em consequências.

My fatal paradiseOnde histórias criam vida. Descubra agora