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Calum

O Mundo estava um autêntico caos. Nada do que conhecíamos antes funcionava agora: não havia escolas, não havia trabalho, não havia polícias, não havia sistema. Tudo estava quebrado, e tudo num espaço de poucos dias. O Mundo que existia antes, tinha deixado de existir, tudo por causa de uma epidemia esquisita. A epidemia dos mortos, como dizia a minha irmã.

Desde que as emissões tinham sido cortadas mais nada sabíamos do que se passava à nossa volta, a não ser que tínhamos de nos esconder e que estavamos a toda a hora a correr perigo. Não sabíamos sequer bem as causas de haver tamanha epidemia, mas sabíamos que já estava tudo a acontecer à escala Mundial, o que não era nada favorável para quem quer que fosse.

Neste momento, estava com os meus pais e a minha irmã com um grupo de pessoas que também tinham sobrevivido até agora e nos tinham encontrado. Para além de nós, tínhamos connosco um casal de uma cidade a sul, que tinha deixado os filhos para trás, nem sei com que coragem. Tínhamos também connosco um casal de namorados entre os seus vinte e cinco e trinta anos. Ou seja, eu e a minha irmã éramos os únicos adolescentes, mas também parecia que éramos os mais inteligentes.

Estávamos no último andar de um prédio, a acender velas para conseguirmos ver algo, pois já tinha caído a noite. Olhava pela janela e via que estávamos numa rua cheia daqueles bichos nojentos a quem eles chamam zombies.

- Mali, olha aqui. - chamei a minha irmã.

- Que se passa? - ela espreitou comigo, falando num sussurro.

- A rua está cheia, e o prédio também tem alguns. Quando é que encontraremos um sítio seguro para ficar?

- Estamos no sítio mais seguro que encontrámos filho. - respondeu-me a minha mãe, que nos ouvia.

Toda a gente nos ouvia, para dizer a verdade. Estávamos todos concentrados no chão da sala, para também a luz estar concentrada num lugar.

Vi a luz de um telemóvel, e eu olhei para onde vinha: a mão da senhora que tinha deixado os filhos para trás. Nem sabia que os telemóveis ainda funcionavam, visto que já nem electricidade tínhamos aqui.

Puxei Mali para o chão e sentámo-nos os dois, e foquei-me em tentar ouvir a conversa não só do que a mulher dizia, mas o que diziam do outro lado da linha.

"- Mãe?!" - ouvi a voz de uma rapariga aflita do outro lado da chamada.

- Zoey, querida! Oh meu Deus, como é que estás?! Como está o teu irmão? - a senhora ia-se levantar mas o marido puxou-a de volta para o chão, provavelmente porque também queria ouvir a conversa.

"- Nós estamos bem e em segurança! Onde estás tu mãe? Não viste o nosso papel em casa?"

- Não consegui ir a casa filha.

"- Mas estás com o pai?"

A senhora olhou para todos nós, e eu desviei o olhar, porque a fitava desde que tinha começado a chamada. No entanto, ao perceber que toda a gente estava a olhar para ela, percebi que não valia a pena estar a fingir que não estava interessado em ouvir. Estávamos todos. Se havia um lugar para estar em segurança então devíamos aproveitá-lo.

- Sim... Viemos para uma cidade a norte. Estamos com um grupo que encontrámos aqui, neste momento estamos no andar de cima de um prédio, e vocês? Estão sozinhos?

"- Não, também estamos num grupo grande até. Temos um polícia connosco e tudo. E ficámos na escola."

Numa escola? Não era nada mau pensado...

- Estão em segurança? Venham ter connosco.

"- Mãe, nós aqui estamos em mais segurança do que vocês. A escola é toda nossa e as grades impedem tudo o que quiser atravessar."

Long Way Home (parada)Onde histórias criam vida. Descubra agora