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Zoey

Corri para longe de tudo e de todos. Precisava de apanhar ar, fugir um bocado da realidade que me atormentava desde o maldito dia em que o Mundo desabou. Parece que estou neste pesadelo há anos, sendo tudo tão surreal. Sei que o meu irmão vai culpar o Luke por eu ter fugido, mas não foi isso que realmente me motivou.

Estava simplesmente a precisar de um escape, de algo longe deles, porque precisava realmente de poder chorar sozinha e respirar fundo, libertar toda a tristeza que sentia em mim. O Luke apenas me deu um pretexto para o fazer, talvez a gota de água, como se costuma dizer.

Corri ainda na madrugada, estando o sol a nascer. Não parei para pensar enquanto percorria as ruas perto da escola, onde nenhum movimento havia a não ser animais necrófagos que esvoaçavam no local à procura de alimento. Tive o cuidado de não ir pela rua onde Jasper tinha ficado, por isso contornei-a, indo dar ao coração da cidade umas horas mais tarde.

Boa Zoey, és tão esperta! Gritava-me o meu subconsciente. Tinha acabado de entrar numa rua enorme, com arranha-céus dos dois lados, onde o único som que se ouvia eram as lamúrias enervantes daqueles que não estão nem vivos nem mortos. E só tinha trazido uma minúscula navalha para o meio deste Mundo terrível. Bom, muito bom mesmo.

Continuei a correr até entrar no arranha-céus que me parecia mais sossegado e que tinha a porta aberta, mas não parei para ver como se encontrava, deixando os barulhos falar por si. Corri até ao elevador e chamei-o, com medo do que encontraria lá dentro.

Depressa ouvi barulho atrás de mim. Pois... Devia ter fechado a porta. Entrou um bicho horrendo, mesmo na altura que o elevador se abriu. Apressei-me a entrar e a premir o botão que me levaria ao último andar de todos, mas a porcaria da porta não fechava. Enquanto o premia vezes sem conta, a criatura avançava cada vez mais para perto de mim, e o suor já me escorria pela cara. Só pedi para que o elevador fechasse as portas, e pus toda a minha fé nisso. O que acabou por resultar, bem em cima do acontecimento. Quando o monstro chegou à porta do elevador este fechou-se e subiu até ao último andar, onde outro bicho se encontrava, deitado no chão.

Olhei para ele e percebi que não poderia arriscar. Fiz um enorme esforço para não passar perto da boca dele, dando um salto que quase me fez cair no chão. O bicho levantou-se, mas já era tarde de mais para ele. Subi a correr as escadas que provavelmente me levaria ao terraço e fiquei a olhar para ele, com medo. Porém, como as escadas eram altas, ele tentou em vão subi-las, caindo sem sequer subir um degrau.

Suspirei de alívio e cheguei ao terraço, onde um vento muito frio me atravessou. Olhei em volta e sorri, percebendo que estava sozinha. Até que esse sentimento me esmagou. A solidão, a doce solidão.

Encostei-me às grades que me faziam distanciar do precipício que era cair no vazio daquele arranha-céus. Olhei para baixo e respirei fundo. Era só uma questão de saltar a vedação, subi-la.

E assim o fiz, subi-a. Mas não fui capaz de fazer nada. Limitei-me a olhar para o vazio, debruçada naquelas grades. Não conseguia pensar em fazer algo assim, desistir só porque era mais fácil. Não era capaz de deixar as pessoas que amo e que continuam vivas, não era justo para elas. Tinha de continuar a ser forte e a fazer o que tinha começado a fazer desde o que aconteceu: sobreviver. Sobreviver à morte de Jasper, à possível morte dos meus pais, e às mortes que se avizinhavam.

Grossas lágrimas escorriam-me pelos olhos, caíndo no precipício à minha frente. Eu era uma pessoa fraca, muito fraca. Só queria acabar com este pesadelo, só queria desaparecer. Mas não o podia fazer, e isso ainda me matava mais por dentro. Como eu gostava de ter a força do meu irmão.

Olhei para baixo e senti vertigens. Se não saísse daquelas grades muito provavelmente iria acabar por cair... E não queria ser comida para aqueles animais. Levantei-me e deixei-me ficar encostada às grades, mas na segurança do lado de dentro.

Long Way Home (parada)Onde histórias criam vida. Descubra agora