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Zoey

Acordei com o som dos portões. Ao sair do quarto devagar, por causa de estar ainda sob o efeito do comprimido, percebi que estava tudo completamente escuro, e as únicas luzes que se viam eram as luzes da escola e as da rua, o que demonstrava ser noite cerrada.

Sabia que a minha mãe queria vir para aqui, portanto das duas uma: ou eram os meus amigos, ou eram os meus pais. Sinceramente, apesar de me sentir uma pessoa terrivelmente egoísta ao pensar assim, eu queria que fossem os meus amigos. Porque eles saíram para arriscar as suas vidas por mim, enquanto os meus pais saíram para não arriscarem as suas vidas por mim e pelo meu irmão. Por muito que sentisse que tinha de os amar porque são os meus pais, não conseguia sentir mais nada se não ódio. Ódio porque se preocuparam mais com eles do que os filhos. Sempre tinha sido assim mas, numa situação destas, sempre pensei que eles pensassem antes de se retirarem de vez. Mas não, eles nem pensaram um segundo em nós. Enquanto tínhamos deixado tudo preparado para eles, com um bilhete e tudo, eles nem tempo tinham perdido para falar connosco, indo embora à primeira oportunidade.

Fui ter com Chandler, que estava sentado no chão à porta do pavilhão onde eu estava, a mexer no seu chapéu de cowboy.

- Quem chegou? - perguntei, estendendo-lhe uma mão para ele se levantar.

- Eu ainda não saí daqui, estava à espera que viesses também. Mas, desculpa desiludir-te assim, os teus amigos não são... Eram dois carros, portanto desculpa. - ele levantou-se sem a minha ajuda.

- Então isso significa que podem ser os meus pais?! - nem queria acreditar.

- Sim, devem ser os teus pais... Queres ir lá ver? - perguntou-me.

- Claro Chandler! - dei-lhe a mão e corri com ele para os carros.

Já lá se encontrava quase toda a gente: Marcus, Murphy e Sandra falavam com uns adultos que eu não fazia ideia quem eram enquanto Ashton estava a falar com um rapaz e uma rapariga adolescentes e um casal mais velho, mas na casa dos vintes.

Aproximei-me deles quando vi Ashton olhar para mim com ar triste, assim como eles.

- Os pais? - perguntei, enquanto me aproximava com Chandler.

Quando Ashton olhou para mim é que percebi que ainda estava a agarrar a mão do rapaz do chapéu do cowboy, fazendo-me largá-la logo. Não que eu e Chandler tivéssemos qualquer tipo de relação afectuosa, mas o rapaz dava-me força. Eu via-o como alguém com quem eu podia falar como me apetecesse, porque era uma pessoa de fora. E também era a pessoa que me salvou.

- Mana... Acabaram de me contar... A mãe está no carro em choque, o pai não sobreviveu.

Aquela acertou-me de uma forma bastante dolorosa. Sendo egoísta e provavelmente bastante cruel, eu não me sentia mal por ele ter realmente morrido, mas sim por causa dos pensamentos que eu tinha acabado de ter quando ouvi os portões.

- Ele foi cobarde. - comentou o rapaz que devia de ser mais ou menos da idade do meu irmão. - Desculpa... Eu sou o Calum, e eu não queria dizer o que acabei de dizer.

- Por favor conta-me o que é que se passou... Quero saber antes de ver a minha mãe. - pedi baixinho. - E o meu nome é Zoey.

O rapaz contou-me, com ajuda dos outros três, que eu percebi chamarem-se Bellamy, Clarke e Mali. Nada do que eles me contaram espantou-me, e eu percebi que essa também era a opinião do meu irmão assim que ele se manifestou.

- Sempre soube que eles seriam uns cobardes e que não iriam aguentar muito tempo se não tivessem quem os protegesse. - o meu irmão manifestou-se. - Vê-se logo o tipo de pessoas que são quando deixam os filhos para morrer apenas para se salvarem! Eu quero ver a minha mãe. - cuspiu.

Long Way Home (parada)Onde histórias criam vida. Descubra agora