This Will Also Pass

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Seis anos antes; 

Em algum lugar da Europa.

Durante toda minha vida ouvi as pessoas abusarem da expressão "dor no coração", mas nunca tinha entendido de verdade o que ela significava, até agora. 

Quer dizer, como é possível que uma emoção, algo que não tem massa ou forma exceto a que lhe damos, seja capaz de se enroscar em nosso coração feito uma serpente e apertá-lo até fazer doer cada ventrículo e aurícula? Até que o sangue, que não sente nada, arraste arame farpado pelas nossas artérias a cada batida descompassada? Não deveria ser possível. 

Porém, é exatamente assim que me sinto enquanto olho pela janela do avião que me leva para casa para o Natal. 

Está tudo errado. Estou sozinho, e todas as partes de mim que não deveriam doer doem. As partes que achavam que o nosso amor conseguiria superar suas inseguranças se sentem bem burras. As partes que estavam em chamas de tanto prazer há menos de vinte e quatro horas se sentem envenenadas e frias. 

Estou com tanta raiva que tenho vontade de desabafar e quebrar coisas, mas a dor... a dor ilógica no coração... me mantém enroscado no meu assento da janela, segurando as lágrimas e tentando ignorar a náusea que brota em meu estômago. 

Odeio o que ele fez. 

Odeio os motivos pelos quais ele o fez.

A palavra ressoa, quente, no meu peito. 

Ódio. 

Uma emoção tão forte. Tão fácil de trazer à tona. Grande o suficiente para silenciar toda a dor. 

Ela me distrai do quanto eu o amo. 

Quando pousamos, saio do avião. 

— Querido. — minha mãe me abraça antes de se afastar para me dar sua habitual olhada de cima a baixo. 

Eu suspiro e me viro para meu pai. Ele me abraça e me aperta, e quando sussurra: "Senti saudade, cara", eu desabo. Não costumo chorar, mas quando a questão é ele, tudo me deixa sensível demais, frágil demais.

A mãe diz "oooohhh's" e "shhh's" enquanto soluço contra a camisa do meu pai. Ela acha que esse espetáculo é porque eu senti falta deles. Ela fica com os olhos molhados e diz que também sentiu saudade. Meu pai fica sem graça enquanto me dá palmadinhas nas costas. Ele nunca foi bom em lidar com as emoções. 

Até que pegamos minha bagagem e chegamos ao carro, estou para lá de esgotado. A viagem de volta até Doncaster passa em um borrão enevoado. 

Quando chegamos em casa, vou direto para meu quarto e me apronto para dormir. Enquanto escovo os dentes, canções de Natal ecoam escadas acima, assim como a voz desafinada de minha mãe. 

Ela adora o Natal. 

Normalmente eu também gosto muito, mas não este ano. 

É só quando subo na cama da minha infância que encontro alívio. 

Na manhã seguinte, desço as escadas feito um zumbi.

— Feliz Natal, querido! 

Recebo uma porção de abraços e ganho uma caixa grande. Os abraços me deixam claustrofóbico. A caixa contém uma cópia, encadernada em couro, das obras completas de Kripke. É lindo, mas eu tenho uma enorme e urgente vontade de arrancar as páginas de John & Jean e jogá-las na lareira. Essa peça vai me lembrar para sempre do meu primeiro papel de protagonista. E da primeira vez que Harry me beijou. Foi nos bastidores do segundo dia de ensaio. 

Rosing Star (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora