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Terça-feira

Boa parte da noite de segunda para terça passei acordada, algum tempo orando e outro lendo o novo testamento e aprendendo mais sobre Jesus. Boa parte das minhas palavras eram destinadas a cura de Sam, pedia com todas as minhas forças, as vezes, queria até fazer algum tipo de troca com Deus, algo que eu pudesse dar a ele para que ele trouxesse a saúde do meu Sam de volta, é óbvio que as coisas com Deus não acontecem assim. Rabisquei alguns desenhos e algumas palavras aleatórias nos rascunhos, com a expectativa de ter alguma possibilidade de entender o que acontecia. O momento atual era o que eu mais tinha certeza sobre a minha vida e os meus sentimentos. Meses sem automutilação, meses sem desejar morrer e tentar, de alguma forma, tirar a minha vida. Isso com Sam não fazia sentido. Será que de alguma forma Deus estava me punindo pelos meus erros passados? Interrogo-me. Ele sabe que mexer com a minha saúde não me causaria nem 1/3 da dor que estou sentindo ao ver Sam deitado nessa cama. Sem muitas perspectivas de melhora.

O dia de hoje havíamos programado jogar xbox com Sam. É uma das coisas que ele mais gosta de fazer em seu tempo livre, até Artur, apesar de ter chegado a pouco tempo, já havia jogado várias horas com ele.

Meus pais chegaram logo cedo, como nos outros dias. A aparência da minha mãe estava pior ainda esta manhã, ela estava pálida e havia emagrecido um pouco nos últimos dias. Acredito que todos nós mudamos fisicamente desde que descobrimos a doença de Sam. A barba do meu pai estava grande, parecia que tinham muitos dias em que ele não a fazia.

-Bom dia, Liz- meu pai me cumprimenta beijando meu rosto.

-Bom dia, pai.

-Bom dia, minha linda- minha mãe me abraça. Sinto seu cheiro invadir minhas narinas. Ela tem um cheiro único.

-Bom dia, mamãe- Essa palavra sai como se tampasse um pedacinho do meu coração.

Sam já estava acordado e já tinha recebido os seus cumprimentos. Artur não demorou a chegar e tomamos café todo juntos. Após comermos, iniciamos a disputa nos jogos. Acessamos a rede de Wi-fi do hospital, Sam tinha uma conta que o possibilitava ter uma variedade de jogos.

 Montamos vários tipos de competição fizemos duplas e trios. Homens contra mulheres. Sam sorria o tempo todo, mas as vezes tinha que descansar um pouco, parecia que em alguns momentos era mais difícil ele conseguir respirar. Depois de algumas horas, minha mãe me convida para irmos até a lanchonete do hospital e meu pai brinca dizendo que queria ter uma conversa séria com Artur. Rimos quando ele disse isso, mas Artur pareceu que ficou com medo. É quase como se fôssemos uma família normal. Quase. Tirando a internação do hospital e a piora do quadro clínico de Sam.

Descemos no elevador e nos direcionamos para a lanchonete, minha mãe continuava pálida e em questões de segundos ela desequilibrou e eu segurei impedindo-a de tocar o chão.

-Mãe, está tudo bem? O que aconteceu?- eu a questionei, enquanto ajudava-a sentar na cadeira. Uma enfermeira se aproximou quando viu a movimentação.

-O que aconteceu? - a enfermeira também questionou

-Eu só senti um pouco de tontura- minha mãe tentou explicar, mas foi interrompida com uma corrida as pressas à lata de lixo próximo de nós, ela vomitou um liquido verde, enquanto eu segurava os seus cabelos impedindo que se sujasse. Quando o fluxo interrompeu, a enfermeira havia trago uma cadeira de rodas para que ela pudesse sentar. Nós acomodamos ela e nos direcionamos para um consultório mais próximo. Uma médica sorridente, de cabelo castanho, com um jaleco amarelo nos atendeu.

-Oi, Rose. O que houve com essa paciente?- questionou a médica para a enfermeira.

-Ela quase desmaiou e em seguida teve episódio de hêmese- respondeu a enfermeira.

-Meu nome é Josiane, sou clínica geral e vou te examinar para que possamos entender o seu caso, tudo bem? Qual o seu nome?

-Mônica.

-Posso te fazer algumas perguntas?- a médica perguntou e iniciou um questionário sobre a minha mãe, os sintomas, perguntou se ela já tinha feito laqueadura e se a menstruação dela era regulada. Fiquei meio inquieta durante a consulta, preocupada com a possibilidade da minha mãe também estar doente. A enfermeira colheu uma amostra de sangue da minha mãe e aplicou um soro contendo algum medicamento que não entendi direito o nome. Ela nos informou que o tempo para terminar a administração do soro era correspondente ao resultado dos exames que ela solicitou. Fiquei no quarto durante todo o tempo com a minha mãe, havia pedido para a enfermeira ir até o quarto de Sam avisar que precisamos fazer outra coisa na cidade, tive que mentir para não deixá-los mais preocupados.

Em alguns momentos, percebi que ela despertava do sono. Acredito eu que essa medicação a deixou sonolenta. Umas 2 horas depois a médica retorna já com o resultado dos exames.

-Oi, os exames já estão prontos. Não sei como isso aconteceu, por causa da sua idade mais avançada, mas todos os seus sintomas já suspeitavam isso- a médica iniciou o seu discurso e no mesmo momento gelei.

-O que ela tem? - cortei a fala dela sem conseguir nem pensar em outra coisa, só na possibilidade da minha mãe também já estar com câncer. Minha mãe estava mais pálida que nunca.

-Não, não é nada grave. Na verdade, é uma bênção. Parabéns, você vai ser mãe novamente- a médica diz. Minha mãe e eu paralisamos. Grávida. Novamente. Eu com 18 anos vou ter um novo irmão ou irmã. Com quase 19 anos. Como isso pode acontecer? Mas, que felicidade!-

Vou em direção a minha mãe e a abraço. Ela se derrama em lágrimas no meu colo.

-Esses sintomas de fraqueza, enjoo e vomitos são característicos do primeiro trimestre da gravidez. E está tudo bem. Nós temos que fazer ultrassom pra saber como ele está e identificar direito qual a semana de gravidez. Mas fiquem tranquilas.

Nem eu nem a minha mãe sabíamos direito o que responder. Mas ela também estava feliz, era como se esse bebe tivesse trago uma esperança aos nossos corações.

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⏰ Última atualização: May 22, 2021 ⏰

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