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No século XIX, o mundo foi invadido com uma das primeiras doutrinas norte-americanas, a doutrina Monroe, com o lema "América para os americanos"

No século XX, surgiu a Doutrina Truman que dividiu o mundo entre "Team EUA" e "Team URSS".

No século XXI, existiram duas doutrinas, a Bush- que fundou a existência de um "eixo do mal" com uma lista de países que ameaçava os interesses norte-americanos- e a Trump- que houve o crescimento do nacionalismo e da xenofobia.

Nesse pensamento, os EUA sempre foram responsáveis por ditarem condutas, muitas vezes, sem sentido e que, no decorrer dos anos, geraram essa polarização do mundo e a Guerra atual.

Interrompo dos meus pensamentos, quando o despertador toca. Já havia acordado faz alguns minutos, mas não tinha desligado o despertador.  Não consegui dormir direito com a noite passado, Artur havia conseguido me despertar de qualquer tentativa de descansar. Estava tão feliz que mal podia fechar os olhos. 

Em muitas vezes, eu realmente tinha a sensação de estar encontrando o meu próprio lugar no mundo, talvez até seja engraçado pensar assim. Mas, as coisas foram tão ruins para mim nos últimos tempos, que, na menor possibilidade de felicidade, eu já me apegava com força. Por isso, ficava tão reflexiva, nada nunca havia verdadeiramente sido bom para mim, em toda a minha falta de autoconfiança, eu já pensava que isso teria um final trágico. 

Afasto esses pensamentos da cabeça, quando me levanto para tomar banho, hoje, bem cedo, receberei os exames de Sam e é o seu retorno com o médico. Faço uma breve oração para que nada de ruim dê nesses resultados. 

Tomo um banho quente e sinto a sensação de relaxamento com a água caindo em meus cabelos.  Visto a primeira roupa que encontro no guarda-roupa. Vou até o quarto de Sam, bato na porta e não obtenho retorno, quando entro, percebo que ele está terminando de amarrar os sapatos.

-Oi, Sam, bom dia

-Oi, Liz- ele sorri ao me ver

-Como você está hoje?

-Apenas com dor de cabeça- ele diz apontando para a cabeça

-Mas, isso passará rápido. Vamos ao hospital em alguns minutos- digo e o abraço.

-Eu te amo, liz

-Eu também te amo, meu garoto- a gente se afasta. Descemos para a cozinha, Amanda nos recebe com um abraço.

-Bom dia, meus meninos- ela diz sorridente

-Bom dia- respondemos juntos. Comemos torrada com geleia que Amanda preparou. As torradas estão no ponto ideal com manteiga, contrastando com a geleia gelada. Sam não conversa muito, está meio cabisbaixo, talvez cansado de tanta coisa ultimamente. Muita vezes me pego pensando o que se passa na cabeça dele, é tão novo e já passou por tanto problemas. Peço a táxi, em cinco minutos ele chega e vamos até o hospital.

Sam coloca as digitais na recepção e aguardamos para sermos encaminhados ao médico no retorno. 

-Liz, quando você vai me falar mais sobre Jesus?-reflito um pouco sobre essa indagação, o maior legado que posso deixar para Sam, sem dúvidas, é ensiná-lo sobre Jesus. 

-Assim que você quiser, querido

-Pode ser quando voltarmos para casa? Agora estou com um pouco de dor de cabeça-

-Sim, Sam

-Jura de mindinho?- pergunta me mostrando o dedo. Seguro-o com força.

-Palavra de escoteira- respondo rindo.

-Mas você nunca foi escoteira- ele diz e rimos juntos. O nome de Sam aparece na tela e vamos juntos ao consultório. O médico nos recebe na porta.

-Bom dia- ele diz sorridente.

-Bom dia- respondemos juntos.

-Vamos sentar-ele diz apontando para as poltronas em frente a sua mesa. A sala é toda branca, com alguns quadros contrastando com o fundo branco. Os móveis são muito sofisticados, é sem dúvidas um ambiente harmonioso. Nos sentamos de frente ao médico, Sam permanece imóvel. O médico analisa os papeis em cima da mesa, seu semblante muda um pouco e meu coração acelera. 

-Então?-  interrompo o silêncio

-Ele tem sentido muita dor de cabeça, certo?- ele me olha sério

-Sim

-Não posso confirmar de certeza sem fazer novamente os exames, mas de acordo com os papeis que tenho aqui, o Sam está com um tumor no cérebro- ele diz e brotam lágrimas automaticamente. 

-Mas, tipo isso fica bom com remédio né?- embaralho-me com as palavras tentando me iludir.

-Liz, vai ser preciso fazer um tratamento

-Mas fica bom com esse tratamento?

-Não sei dizer, a gente precisa fazer o tratamento e ver como ele reage

-Ele vai ficar bom, não é mesmo?- falo em um tom alto de desespero com lágrimas. 

-Liz, por favor se acalme- ele diz, em seguida olho para Sam, que está paralisado sem conseguir ao menos piscar. Ele me olha quando percebo que estou com os olhos fixos nele. Vejo lágrimas brotando nos seus olhos também, ele vem ao meu encontro, senta-se em meu colo e chora. 

Choramos juntos por longos minutos. Sam é tudo o que eu tenho nessa vida. Eu não posso se quer pensar em perdê-lo. Tudo tem que ficar bem, tudo precisa ficar bem. Quando vejo que Sam está mais calmo em meu colo, quebro o silêncio novamente.

-Mas o que podemos fazer agora?

-Temos que começar o tratamento o quanto antes, Sammuel tem dores de cabeça continuamente, podemos prolongar a vida dele com a iniciação do tratamento.

-Liz, eu não quero ficar internado em hospital- ele gruda em mim com força

-Eu vou ficar com você todos os dias, meu bem, não se preocupe- afago seus cabelos.

-Você precisa comunicar aos seus pais, preciso que eles assinem todos os papeis necessários.- o médico me diz.

-Eu não quero ficar internado hoje, pode ser amanhã?- pergunta ao médico.

-Eu sei que essas coisas são novas para você Sam, estou sendo negligente em autorizar, mas sei que vocês precisam digerir essas informações. Vou te passar um analgésico para tomar de 8 em 8 horas. Mas amanhã quero vocês dois com os seus pais bem cedo, combinado?

-Sim, está combinado- seco o rosto com um dos lenços em cima da mesa. Pego a receita em cima da mesa, coloco em minha bolsa. Seguro a mão de Sam e saímos em direção ao saguão.

-Para onde vamos, Liz?

-Você gostaria de ir a aquele parque perto de casa?

-Sim, eu gostaria muito- ele diz com um pequeno sorriso em seus lábios.

Pego um táxi na porta do hospital, no trajeto não consigo parar de pensar em tudo o que está acontecendo. Choro novamente. Tenho que parecer forte perto de Sam, mas não estou conseguindo disfarçar.

Não consigo nem imaginar na possibilidade de perder um dos únicos motivos de continuar vivendo.

Parece que toda a estabilidade que eu estava consolidando em meus pés está indo embora nesse exato momento. Por um instante, eu até pensei ter saído do buraco, mas, é como se o solo debaixo dos meus pés estivesse caindo. Eu me sinto traída pelas minhas próprias expectativas. 





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