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Dois dias após o nosso contato casual, ainda não obtive nenhuma resposta dele.

Talvez ele não gostou.

Talvez se arrependeu de tudo.

Talvez eu fui apenas um passatempo.

E como vou descobrir? eu não sei. No fundo, eu sou orgulhosa. Eu não poderia mais uma vez deixar ser levada pelos meus sentimentos. Não poderia ser tão frágil dessa maneira na frente dele.

Sou interrompida de meus pensamentos com uma batida na porta.

-Quem é?

-Um príncipe encantado- alguém diz e pelo péssimo humor eu percebo ser o Sam.

-Mais fácil ser um sapo- digo abrindo a porta. Ele entra e logo após fecha a porta. Percebo que está vestido em uma roupa de futebol. Lembro-me da promessa que havia feito em levá-lo às aulas.

-Você se esqueceu, né?- Sam diz cabisbaixo

-Sim, mas eu irei agora, com certeza- digo envergonhada e corro para o banheiro tomar banho. Quando termino ele não está mais em meu quarto, tranco a porta e troco de roupa.  Visto uma calça jeans, uma blusa de meia com mangas longas e uma sandália leve para a ocasião, já que eu estava em um traje não muito oportuno para um treino de futebol. Desço as escadas correndo e Sam já está esperando o táxi. Dou um beijo em Amanda e o acompanho. 

O local das aulas é mais lindo do que eu imaginava. No portão de entrada, cadastramos a digital de Sam e ele corre para o vestiário. Dirijo-me a um lado da arquibancada em que posso ter uma visão boa do local, longe de acúmulos de pais entusiasmados. Não posso negar que eu não esteja. Não é uma partida de futebol nem nada, mas eu sei do amor que o meu pequeno Sam tem por esse esporte. 

Vejo o treinador com os garotos entrarem. Sam acena para mim. A aula é baseada em alongamento e treinos básicos como domínio, condução, chute e marcação. A secretária havia me dito que no decorrer das aulas o treinador iria escoher a posição de cada um. Estou olhando fixamente cada movimento do Sam e sou interrompida da minha análise por uma voz

-Qual deles é o seu?- um rapaz aproximou-se e perguntou

-O camisa 6- sorrio ao olhar sua camisa quase batendo no joelho

-Com certeza será atacante- ele diz convicto ao olhar a performance de Sam

-E qual é o seu?- perguntou ao rapaz, com olhos azuis celestes e cabelo encaracolado aparentando ter 20 anos.

-O camisa 10- diz sorrindo

-Ele honra o número da camisa- digo ao final da minha análise sobre o garoto que aparenta ter 10 anos no máximo. Sorri com a minha frase e percebo que não havia notado a sua presença nos minutos anteriores da aula. 

Sou desligada do mundo mesmo.

-Qual o seu nome?- indaga-me após alguns minutos em silêncio

-Elizabeth e o seu?

-Christian, mas pode me chamar de Chris.- acho graça no apelido. Apelido são tão pessoais. Não acho que todas as pessoas sejam dignas de chamar-me pelo meu. Acho que todo mundo deve o chamar de Chris. Mas, Chris, é um apelido legal. Concluo ao final

-Chris é uma apelido legal

-E qual é o seu?- Christian pergunta e eu hesito alguns instantes, mas não posso ser mal educada

-O meu é Liz- ao terminar de falar, ouço o apito do treinador com o fim do jogo. Christian se levanta para se despedir.

-Foi um prazer conhecê-la, Liz- diz ao estender a mão. Retribuo o cumprimento com um aperto de mão. 

-É um prazer, Chris- sorrio e desço a arquibancada na procura do meu garoto. Percebo que ele conversa com alguns garotos, dentre eles, o camisa 10. Sorrio em vê-lo sorrir. Sam corre até mim e me surpreende com um abraço.

-Liz, foi melhor do que eu imaginei. Tudo foi muito legal. Os meninos não pegaram no meu pé pelo sotaque e ninguém me chamou de tampinha.

-Com certeza você será atacante, meu Sam- abraço-o novamente.

-Só estou com dor de cabeça- ele diz apontando sua cabeça

-Talvez seja do tempo que você passou sem jogar, Sam- digo e ele assente.

Peço um táxi e no caminho ele não para de falar do treino como se eu não estivesse lá. Chegamos em casa no início da noite. 

-Oi, Amandinha- Sam cumprimenta Amanda.

-Meu garoto, deve ter sido muito bom pra você chegar com esse cheiro mal e com essa alegria, né?- Amanda pergunta e vejo o Sam subir para um bom banho. Janto uma macarronada que a Amanda preparou. Ela sem dúvidas é uma das melhores cozinheiras do mundo.

-Onde os meus pais estão, Amanda?

-Sua mãe tinha um desfile hoje e o seu pai deve estar em alguma filial da empresa- ela diz enquanto organiza alguns objetos na cozinha. Pergunto-me o porquê de Deus ter me dado pais tão ausentes e qual seria seu propósito em tudo isso. Desejo boa noite para Amanda e subo ao meu quarto para banhar e continuar lendo o Novo Testamento.

Começo a ler, já estou em Atos e ao pesquisar o significado da palavra Atos no google percebo que há um novo e-mail em minha caixa de mensagens.

É do Artur

Meu coração gela e o corpo quase trava.

"Querida Liz, 

depois do nosso contato casual, não soube escolher as palavras certas para apresentar diante de você. Talvez eu  também estivesse esperando algum retorno seu, mas, com algumas fotos que encontrei em minha câmera decidi fazer isso. Foi incrível e espero que possamos cultivar esses contatos. Espero que esteja tudo bem por aí. 

Espero o retorno ansiosamente,

Artur"

O quanto Artur seria capaz de me surpreender, eu não poderia mensurar. Mas, é certo que ele tem conseguido muito mais que borboletas no estômago.

Sempre sonhei isso: alguém que fosse muito mais que borboletas no estômago.

Decido responder imediatamente

"Querido Artur,

talvez eu precisasse de um retorno seu para ter a certeza que eu não havia sido a pior companhia em um contato casual. Espero não tê-lo frustrado nesse período de espera. Foi ótimo, não tenha dúvidas disso. E com certeza não reduziremos contatos casuais a números. Estou ansiosa para cobrar um valor sob cada foto. Tenha bons sonhos.

Liz"

Ao enviar, continuo lendo o Novo Testamento, com vontade de ir correndo até o capitão buscar uma interpretação melhor para o livro de Atos.

 Pego no sono em algum momento indeterminado.

Os Rascunhos De Uma VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora