Capítulo 2.

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Saímos de sua casa, levando Arvid para um lugar que eu gostava muito: o nada.

Sim, literalmente era o praticamente nada, só havia capim e umas pedras, porém lá tinha uma vista incrivel para o céu, principalmente de tarde e de madrugada. E o principal, longe de muitas pessoas e do estresse.

- Aonde estamos indo? - Arvid questionou quando me viu pulando uma cerca com uma cara intrigada.

- Apenas siga-me, irá me agradecer por isso.

Pelo visto ele me ouviu e foi logo atrás. Caminhando pelo gramado, cheguei à uma pedra bem grande e me sentei. Arvid achou aquilo bobeira e eu ri de sua cara.

- Aqui é o "lugar legal" então.. - Se sentou um pouco à minha frente e eu olhei rapidamente.

- Sim, gostou? Venho aqui o máximo que posso.. - Observei o sol com olhos entre abertos por causa da luz forte.

- Aqui é.. calmo.. - Ele suspirou. - Como descobriu este lugar?

- Quando eu era pequeno brincava com meus amigos de esconde-esconde e vinha para cá, ninguém se atrevia a se aproximar daqui pois diziam ter cobras. - Acabei soltando uma risada com o final e Arvid fez o mesmo.

- E realmente tem?? - Pergunta me olhando rápido.

- Claro que não, se não eu não viria aqui. - O rapaz soltou um "ufa" bem baixo, o quê me fez rir.

- É uma pena que isso dure pouco tempo.. - Arvid praticamente sussurrou aquilo e eu fingi não ouvir, o quê ele quis dizer? Ficamos em silencio por um breve tempo.

- Posso te fazer uma pergunta? - Ele afirmou com a cabeça. - Por que sua família escolheu esta cidade? Eu realmente não entendo..

- Eu.. Não posso te informar ainda sobre isso.

- Tudo bem, pode dizer pelo menos se está gostando daqui? - Perguntei para descontrair o clima meio tenso que havia ficado.

- Acho que sim, quer dizer, sinto que seremos bons amigos.. - Isso fez nos olharmos e então sorrirmos.

- Tomara que sim. - Concordei e me virei novamente para o sol.

Ficamos menos de uma hora naquele lugar mas tivemos que voltar porque tinha que apresentá-lo para alguns moradores da cidade.

Saindo já do gramado e logo pulando a cerca, Arvid me questiona.

- Posso voltar amanhã aqui? - o olhei rapidamente e afirmei começando a andar com ele, que parecia estar satisfeito com minha resposta.

- Com uma condição, é claro.

- Que condição?

- Não conte para ninguém, não quero que vire um ponto de encontro de outras pessoas entende? Iria ser chato isso espalhar..

- Tudo bem, eu não conheço ninguém além de você por aqui ainda então posso prometer isto.

Sorri satisfeito e então começamos a andar novamente.

Enquanto seguíamos pela rua, Arvid "percebe" que sou muito cumprimentado por lá.

- Uau, você por acaso transa com todos desta cidade? - Ok, essa não foi a pergunta que eu esperava.

Fiquei realmente vermelho com o quê ele diz e olho-o intrigado.

- P-Por que achas isso?! Não pode sair falando coisas assim.

- Foi só uma pergunta.. Mas por que todos te cumprimentam? Por acaso vende algo?

- Não, eu tenho fama de ser o "homem perfeito", visto tanto das famílias e das garotas.

- Credo, deve ser muita pressão encima de ti Ronald.. - Ele fez uma careta disfarçada com um sorriso.

- É.. Porém não pretendo me casar com ninguém.. - Falei quase como um sussurro.

Voltei ao meu sorriso de bom moço e fui apontando para alguns lugares para Arvid, como a igreja, uma praça sem graça, mercados, coisas do tipo.

- E parando aqui, é onde eu moro. - Falei desacelerando meus passos e vendo meu avô ainda na janela, fumando.

- Bela casa.. - Elogiou; eu iria convidá-lo para entrar porém meus parentes são um tanto quanto mal educados, fazem muitas perguntas e chegam em assuntos que não deviam.. - Podemos voltar à aquele mercado? Tenho algo para comprar.

- Claro, me acompanhe. - Ele acenou, se despedindo de meu avô brevemente e logo volta a andar ao meu lado.

- És sempre tão formal perto de adultos? - Me pergunta enquanto seguimos até o mercado mais próximo, ligeiramente afastado de minha casa.

- Claro, tenho uma imagem a zelar meu caro. - Riu de mim ao chamá-lo de meu caro, apenas ri junto.

Chegando lá demos uma volta, olhando alguns produtos, resolvi pegar algumas balas para comermos pelo caminho. Arvid pegou uma pequena caixa de cigarros e foi ao balcão primeiro e eu o acompanhei. Não sabia que ele fumava, e pelo visto o cobrador achou o mesmo.

- Morador novo não seria? - O senhor foi educado pegando o dinheiro de Arvid e lhe deu uma olhada. - Não parece ter idade para fumar rapaz.

De fato. O rosto de Arvid era delicado e não parecia ter uma boca de fumante, acinzentada.

- São para meu pai, senhor. - Guardou em seu bolso de trás de sua calça. O bom moço assentiu, o desejou boas vindas e nos deu um bom dia logo depois de eu pagar as balas, saímos de lá.

- Seu pai fuma?

- Não. - Olhei para ele e ele faz o mesmo. - O quê? 

- Acabou de mentir para um velho senhor Arvid, meu Deus.

- Todos mentem Ronald, ninguém é perfeitinho como você. - Revirei os olhos e ele suspira. - Eu não fumarei perto de você, acalme-se.

[...]

Estava anoitecendo, eu precisava voltar para casa para fazer o jantar e estudar também mas.. Conversar com Arvid me fazia ficar nas nuvens, ficar leve, era diferente de conversar com minha mãe sobre minhas pretendentes e com as garotas que apenas tinham interesse idiota em mim.

- Você é nojento sério. - Ríamos sentados na pedra do meu lugar preferido. Ele acabara de contar uma história de sua infância.

- Eu tinha quatro anos, não via diferença da água da privada para a normal! - Ele sorriu e olhou brevemente para o pôr do sol.

- Nossa, conversamos tanto que já ficou tarde. - Me espreguicei.

- Espere, você já irá? - Perguntou olhando-me, vendo eu levantar.

- Sim, tenho que acabar com algumas coisas e ajudar minha mãe com o jantar.

Descemos daquela pedra alta e pulamos a cerca.

- Passarei amanhã em sua casa, tudo bem?

- Claro, de tarde? - Afirmei e acenei seguindo caminho para casa, até parar quando ele chama meu nome.

- Ronald. - Me virei e vi ele acenando para mim com um incrível sorriso. - Até!

Dei risada por ele ter me chamado apenas para dar tchau e acenei de volta.

- Até amanhã Arvid.

Continua...

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