- Ronald... - Arvid fala quando paramos para respirar. Entao percebi o quê fiz.
- Eu... Me desculpe mesmo. - Saí rápido de lá antes que ele pudesse falar algo, enquanto descia as escadas minha vontade de chorar aumentava, sem sentido.
Fui para trás de lá e respirei fundo com vontade de gritar, chorar, qualquer coisa, mas sinto que não poderia fazer isso, pois eu não estava completamente sozinho.
Me sentei no chão e fechei os olhos com força. Por que diabos o beijei?!
Eu sei responder minha pergunta mas não de uma forma lógica. Acabei o beijando no calor do momento, atração, o álcool que estava em meu corpo. Mas por que ele?
- Ronald.. - Ouvi meu nome ser chamado e sabia que era Arvid, mas não queria o encarar naquele momento.
- Eu já pedi desculpas ok? Então se puder, me deixe sozinho por favor. - Falei ainda não o olhando, e me segurando para não chorar.
- É importante eu falar com você. - Fala se sentando ao meu lado. - Contar-te o porquê me mudei para cá.
Demorei uns segundos mas então o olhei, então ele percebeu que podia começar a falar.
- Minha mãe descobriu que.. Eu não gosto de mulheres. Morávamos numa cidade grande, ela tinha medo de fazerem alguma coisa comigo por ser quem eu sou. - Agora tudo fazia mais sentido na minha cabeça, tudo começava a se "encaixar".
- Mas por que parece que às vezes não gosta de estar com sua mãe?
- Porque ela não me ama desde que soube disso, ela evita falar comigo desde então. Nos mudamos para recomeçar, aqui ela achara que não aconteceria novamente. Mas.. Aconteceu. - Desta vez Arvid me encara. - Achei que iríamos ficar aqui por muito tempo, mas ouvi ela conversar com meu pai que vamos nos mudar novamente para a cidade grande no final do ano.
- Você vai? - Seus olhos já estavam marejados, iguais aos meus.
- Não, porque vamos fugir juntos. - Arvid segura minha mão. - E-Eu sei que pode ser estranho para você ainda, porque nesta cidade você pode começar a ser atacado, como eu..
Uma lágrima cai de seus olhos e eu me aproximo dele, o abraçando.
- Eu sinto muito, pelo o quê você passou.. Mas, eu estou aqui agora. - Ele me abraça com força e respira fundo, se acalmando.
- Obrigado, nós vamos... Sair dessa juntos.
[...]
- Como foi a festa, filho? - Minha mãe pergunta enquanto entro em casa, preparado para apenas dormir.
- Foi ótima, como todo ano.. - Era mais de 3 da manhã e eu só queria dormir, mas eu teria que aguentar minha mãe por alguns minutos até eu ter paz.
- Conheceu alguma dama? Se apaixonou por alguma delas? - Ela me puxa para sentar no sofá. Sim, me apaixonei, mas foi por ele.
- Reencontrei Teresa e conversei com algumas garotas, nada demais. Posso ir dormir? - Suspirei e ela fez cara feia.
- Ânimo, querido. Foi educado com elas?
- Sim, ah.. Encontrei um amigo antigo.
- Que bom, meu bem. - Ela sorriu e ficou me fazendo perguntas por uns 20 minutos, até ela finalmente perceber que estava muito tarde e me mandou dormir.
Entrei em meu quarto e tirei aquelas roupas e os sapatos, ficando apenas com o relógio de bolso em mãos. Me deitei dando uma breve olhada para a janela e depois para o relógio, lembrando das palavras de Arvid.
"Vamos sair dessa.. Juntos".
Acabei caindo no sono alguns minutos depois, teria que ir a um lugar com ele amanhã.
[...]
- Eu quase bato na janela da sua mãe achando que era a sua, quase! - Eu ri andando com Arvid.
Foi uma das primeiras vezes que ele que me chama em minha casa. Iríamos para um lugar que eu gostava muito de ir também, um gramado. Lá tinha uma árvore enorme que dava bastante sombra, era ótimo para dormir e fazer outras coisas também.
- Aonde disse que vamos mesmo?
- Surpresa. - Falei com um leve sorriso. Apostamos corrida até lá, ele não sabia onde era mas mesmo assim correu para a direção certa. Bem, não era difícil de ver mesmo.
- Uau! Aqui é incrível. - Sorria como uma criança e deitou na grama.
- Sabia que iria gostar, podemos vir aqui às vezes, para não enjoar do nosso lugar.
- É claro. - Me deitei ao seu lado e nos olhamos e sorrimos ao mesmo tempo.
- Você é.. Muito fofo. - Deixei escapar e corei ao perceber que tinha falado em voz alta. - Desculpa.
Ele ri e puxa meu braço, me fazendo ficar por cima dele, arregalei os olhos. Sim, eu gostava dele, mas aquilo era ainda novo para mim.
- Não precisa pedir desculpas sempre que me elogiar ou falar algo, eu gosto de ouvir, apenas seja você mesmo comigo. - Fala me olhando com um sorriso incrivelmente lindo.
- Ok, então.. Desculpa por pedir desculpa. - Ele revira os olhos e rimos juntos. - Não pude evitar, essa era perfeita.
- Idiota..
- Haha o quê disse? - Falei rindo de sua cara, parecia uma criança.
- Você ouviu, isso que você é. - Falou debochado e eu só ria; ele tentou me empurrar para sair de cima dele mas eu ganhei, ficando lá mesmo.
- Você está preso aqui, aceite a derrota. -Arvid mostra-me língua e acabei rindo, segurando sua mão, entrelaçando nossos dedos e então me abaixando até seu rosto. - Eu.. Te amo.
- Eu também te amo Ronald. - Ele sorriu e então nos beijamos.
Demos um tempo para respirar e nos encaramos sorrindo. O amor que ele me fazia sentir era doce, tão calmo quanto ele. Quando estava com ele me sentia em um dos seus livros, aqueles onde o casal acaba com um final feliz de novela.
Sentir meu coração acelerar quando o ver, ficar feliz com seu sorriso, sentir prazer em seu beijo. Eu nunca havia sentido isso.
Fomos para debaixo da árvore, a luz do sol havia ficado mais forte, iríamos queimar se ficássemos lá.
Me sentei de costas na árvore e Arvid deitou sua cabeça em meu colo, pegou um livro pequeno que cabia em seu bolso, provavelmente um de mágicos, ele me fez ler uns 2 desses, eram curtos porém contavam uma grande história.
Depois de alguns minutos o admirando lendo, como sempre, acabei dormindo, não havia descansado nada essa noite.
Provavelmente ele continuara a ler seu livrinho. Quando eu estava com ele, me sentia mais relaxado, ainda mais quando dormia, sendo que eu amava passar o tempo livre com ele.
Meu porto-seguro.
Continua...
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Talvez em Outra Vida
Short StoryRonald era visto como o garoto perfeito da cidade, o dito marido perfeito para as damas. Seu mundo começa a se complicar quando a família Evans, os novos moradores daquela cidade pequena que praticamente ninguém visitava, chegaram; junto deles o fil...