Capítulo 8.

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- Ahn.. - As olhei bem confuso. Teresa estava sentada com um sorriso idiota no rosto e minha mãe me olhava com uma expressão de "faça alguma coisa".

- Querido, falei que teríamos visita hoje. - Não, não falou. - Seja educado e sente para comer.

- Primeiramente, bom dia moças. - Dei um sorriso falso. - Na verdade não poderei ficar para comer, tenho que resolver algumas coisas.

- Pode resolver depois, não pode? Terá o dia todo para isso. - Teresa falou dando uma risada educado olhando para minha mãe e me segurei para não revirar os olhos.

- Concordo com Teresa filho, sente-se e converse um pouco antes de sair.

- ...Como quiser. - Suspirei baixo e fui até a garota, a cumprimentando rapidamente e então me sentei à sua frente. - Como está sua mãe?

- Está muito bem, obrigada por perguntar Ronald. - Estava sorridente até demais, porém pro quê? Achei que estaria irritada desde do que falei na festa. - Gostou da festa dos escolhidos?

- Sim.. Claro, como todos os anos. - Soltei um riso nasal e peguei um pão e a manteiga, uma mini faca e passei a manteiga no pão.

- Estranho.. Porque jurei ter visto você saindo desesperado do banheiro. - Engasguei comendo e comecei a tossir. - Ai meu deus, você está bem?

Ela se levantou para tentar me ajudar porém fiz um sinal, recusando e fui parando de tossir aos poucos. Como ela avira isto? O banheiro masculino e o feminino são de lados opostos e longes um do outro. Estou ferrado.

- Você não me disse isso querido. - Minha mãe fala séria após me dar um copo de água.

- Não falei pois não era necessário. Não aconteceu nada.

- Bem.. Se não ouvesse acontecido nada você não teria saído correndo, não é? - Teresa continuou com aquilo. Que merda, o quê ela está fazendo?

- Eu.. - Pensei um pouco e logo tenho uma idéia. - Me assustei com algo bobo no banheiro, acabei molhando minhas roupas e saí correndo de lá para enxugá-las, não queria dar prejuízo à mamãe.

Teresa me olha com ódio em seus olhos e a olho com um olhar debochado, ela disfarça dando um sorriso sem graça.

- Entendo.. Que bom que conseguiu resolver a tempo. - Ela solta uma risada baixa e eu dou um sorriso educado.

- Claro, agora se me derem licença.. - Falei me levantando, minha mãe me disse algo porém não escutei e fui tomar um banho.

Quando saí com uma toalha em meu corpo, Teresa já havia ido embora, amém. Fui para meu quarto, me vesti e tudo mais, então saí de casa, afim de procurar um ou dois lugares para trabalhar.

Diziam que estavam reformando uma das praças da cidade e precisavam de pessoas que ajudassem com isso, levar e trazer sacos de cimento, terra, coisas do tipo. Era ótimo para mim, só iria me deixar cansado mas isso já é normal; o bom é que não era de me atrasar.

[...]

Eu e Arvid estávamos naquele lugar fresco florido de baixo da árvore, e junto de nós, dois livros.

- Então conseguiu um emprego? Está com sorte. - O garoto sorri.

- Talvez, quer dizer, eles pagam bem mas não é o suficiente, estou procurando um segundo.

- Para que dois Ronald? Não pode se esforçar tanto assim, já conseguiu um trabalho pesado, eu posso achar algum lugar para mim.

- Não se preocupe, eu faço o segund.. - Me interrompe, segurando minha mão, as entrelaçando.

- Sem isso. Não sou cara de pau de deixar você fazer tudo isso sozinho. Vai ficar só com a reforma da praça, eu procuro empregos de meio período em algum mercado ou algo do tipo.. - Nos encaramos e eu desviei o olhar envergonhado.

- Desculpe Arvid, eu só quero conseguir tudo mais rápido, ir embora com você. - Ele dá um leve sorriso e se aproxima, ficando ao meu lado.

- Não julgo, também queria que as coisas estivessem indo mais rápido, porém tudo é no seu tempo. - Deitei minha cabeça em seu ombro.

- Eu entendo, desculpe novamente.

- Chega de desculpas por hoje, tá bom? - Acabo rindo com ele, Arvid beija a lateral de meu rosto e pega um dos livros. - Quer que eu leia?

- Claro, amo ouvir você lendo, interpretar os personagens... - Acabo sorrindo. - Já pensou em ser escritor? Ou até mesmo ator.

- Haha nem pensar, ser o centro das atenções ou ter fama não é o que eu planejo. Talvez escrever histórias infantis para escolas seja mais o meu forte.

- E livros adultos? No sentido mais.. Quente. - Falei de olhos fechados e ele riu, me dando um leve empurrão, o quê me fez soltar uma risada em seguida.

- Isso com certeza me deixaria envergonhado, imagina! As pessoas lerem os livros me reconhecerem na rua. - Comecei a rir da preocupação dele.

- Veja pelo lado bom: pessoas leriam seus livros. - Ele sorri e eu me espreguiço, logo me ajeitando e deitando minha cabeça em seu colo.

- "Num mundo, onde a Terra estava.." - Arvid começa a ler, e eu começo a dormir aos poucos, sua voz era tão calma que me despertava sono até em horas que eu não queria dormir.

[...]

- Ronald, acorde. - Arvid me chama baixo. Percebo que minha cabeça está na grama, não mais em seu colo. Levantei minhas costas me sentando e o olhei. - Desculpe, tinha um fazendeiro nos olhando, agora está bem ali..

Ele "aponta" com a cabeça e eu dou uma olhada. Um homem por volta dos setenta anos, usando um chapéu de palha que se acabava aos poucos e com um palito em sua boca. O homem capinava e, de vez em quando, nos olhava rapidamente. Não consegui ver quem era realmente, mas Arvid parecia desconfortável.

- Ronald eu... Preciso ir, lembrei de algo que tenho que fazer. - Falou se levantando e pegando seus livros.

- Espera, não quer esperar ele ir embora? - Falei baixo me levantando após ele, porém recusa com a cabeça.

- No nosso lugar, hoje à noite? - Sussurrou de volta e eu sorri concordando. Ele foi primeiro e eu fiquei um tempo fazendo coisas bestas, olhando a grama, pegando uma formiga na mão e coisas do tipo.

Até ver que Arvid já estava provavelmente longe, como ele havia pedido, fui à caminho de casa, porém acontece algo.

- Ei, garoto. - Aquele homem que capinava me chama. - Venha cá.

Hesitei um pouco porém ele tinha um olhar estranho, me aproximei rapidamente, perguntando o quê ele desejara.

- Se afaste daquele garoto, já fui do mesmo lugar que ele e sei de seu segredo, o motivo de ter se mudado para cá.

Espera, como ele sabia? Então se ele sabe o motivo, pode espalhar.. Ai não.

- A-Ahn, como? Desculpe senhor mas não posso confiar no que diz, ainda é um estranho para mim.

- O quê? Ei, espera moleque! - Saí andando, praticamente correndo de lá, deixando o velho falando sozinho.

Isso era ruim, e se ele estiver atrás de Arvid? Não posso deixá-lo sozinho, mas também não posso estar tão próximo. Se isso se espalhar será um caos em nossas vidas...

Continua...

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