- Que merda.
- Que foi? Mais algum alfinete? Deixa que eu tiro.
Me incomodava com os pequenos alfinetes por meio da roupa. Estávamos fora da festa, atrás do castelo no caso. Era uma das primeiras vezes que fiz isso, desobedeci minha mãe.
Ele se aproxima levantando meu braço e tira com cuidado para não rasgar a roupa nem nada. Ele então me fala para abaixar o braço e me olha.
- Obrigado. - Agradeci sentindo mais nenhum incômodo pelo corpo e acabei sorrindo.
- Por nada.. - Ele se senta na grama. - Você não faz muito isso né? Tipo, fugir dos lugares.
- Não, mas você desperta minha vontade, quero dizer, sempre pensei em fugir, ou mudar de cidade porém nunca tive coragem. - Arvid me olha na hora com uma cara de que queria falar algo.
- E se.. N-Não, esquece, você não aceitaria.. - Ele fala desviando o olhar.
- Fale logo Arvid, agora me deixou curioso. - Sentei ao lado dele, que suspirou.
- E se.. Passarmos um tempo nas montanhas? Eu sei, parece louca, mas o nosso lugar fica literalmente só alguns quilômetros das montanhas e.. - Eu o interrompo rapidamente.
- Eu topo.
- Espera, o quê?
- O quê você ouviu, eu topo, além de ser uma grande idéia, seria perfeito para nós dois, só precisamos do necessário..
- E quando podemos fazer isto? - Pensei um pouco com ele e nos olhamos ao mesmo tempo.
- Setembro. - Falamos juntos e acabamos rindo disso.
- No fim do mês.. Irá ser ótimo! - Ele fala sorrindo. - Falta bastante tempo, estamos em abril ainda.
- Porém é o suficiente para conseguirmos o suficiente e planejar direito tudo.. - Sorri olhando para cima, não sei como chegamos a esse ponto, só sei que irei adorar. - Quer ir lá dentro novamente? Pegar umas bebidas.
- Por mim, tudo bem. - Ele se levanta e estende a mão para mim, eu aceito a ajuda e me levanto em seguida. Demos umas leves batidas nas nossas vestimentas para tirar o máximo de terra e grama que havia ficado.
Fomos conversando sobre coisas banais, livros, infância, nesse tipo. Quando percebemos já estávamos no salão novamente.
Enquanto conversamos ao lado de uma mesa com copos e petiscos, algumas pessoas, a maioria moças, se aproximavam para tentar puxar assunto.
- Seu cabelo está lindo hoje Ronald!
- S-Sim, sua roupa também! E nossa, que braços. - Umas das garotas me olha e sorrio sem jeito, eu odiava isso.
- Obrigado meninas, vocês também estão.. Belas esta noite. - Ele sorriram e se entreolharam dando as mãos e uns gritinhos, isso é algum tipo de comemoração?
- Hey, eu estou muito apertado, preciso ir no banheiro então.. - Arvid fala e eu meio que arregalo os olhos e viro para ele.
- Vai mesmo me deixar sozinho aqui?! - Falei como um sussurro.
- É só alguns minutos, você consegue. - Ele sussurra devolta e sai andando apressado.
- Merda.
- Ronald.. Quanto tempo, não? - Reconheci aquelas voz, Teresa.
Me virei para ela devagar com um sorriso de bom moço. Algo que não contei é que éramos amigos quando crianças e até chegamos a nos casar de brincadeira, erro meu. Depois deste dia passei a ouvir minha mãe falando sobre isso pelo menos uma vez por dia, até eu completar 15 anos e ela começar a falar sobre casamento.
Foi exatamente nessa época que ela começou a ficar obsecada com isso.
- Olá Teresa, bom te ver. - A cumprimentei normalmente e ela sorria, dava até medo às vezes.
- Não foi surpresa ao saber que foi escolhido. - Ela dá uma risada forçada e meio que aponta para uma bebida com a cabeça. Quer que eu seja mordomo para ela também agora?
Suspirei revirando os olhos sem a garota ver e peguei uma bebida para ela e estendi.
- Uma bebida não faz mal, não? Divirta-se esta noite, Teresa. - Dei um sorriso falso e a garota provavelmente percebe, porque minutos depois que virei as costas para ela fechou a cara, como uma criança de 10 anos.
- Hey! - Olhei para quem disse isso e vi Arvid se aproximando novamente. - Demorei muito?
- O suficiente para eu me irritar e irritar alguém. - Dei um sorriso sarcástico e ele me olha confuso, porém olha um pouco atrás de mim e vê Teresa de braços cruzados e acaba rindo.
- Que infantil. - Ele pega uma bebida daquela mesa e bebe.
- Achei que não bebesse nada com álcool.
- Falei por educação na primeira vez, claro que bebo. - Fala como se fosse óbvio e eu rio.
- Falando disso, me lembrou que você fuma também, como começou? Quer dizer? Quando? - Perguntei por curiosidade mas eu realmente queria saber.
Arvid olha envolta e faz uma cara desconfortável.
- Não posso falar aqui, podemos falar disso.. Amanhã? - Apenas concordei com a cabeça e mudei de assunto.
- Viu? - Apontei discretamente para um dos guardas com perucas. - Parecem rainhas de alguma corte sei lá.
Ele riu olhando.
- Já conheceu alguém da realeza? - Neguei com a cabeça.
- Aqui é uma cidade pequena, não tem esses tipos de coisa. O máximo que cheguei perto de realeza foi até aqui, roupas chique, pessoas arrumadas... Mas como disse, aqui é mais para achar noiva ou um noivo, nada legal.
- Realmente, quando formos para as montanhas podemos fazer nossa própria festa chique. - O garoto fala baixo perto de meu ouvido, o quê me faz sorrir.
- Com certeza.
O resto da nossa noite foi deste jeito, alternamos entre os fundos da igreja e a festa para beber e comer, às vezes eu teria que falar com algumas pessoas para não ser mal educado e cheguei até a encontrar um amigo antigo, mas nada demais.
Fomos ao banheiro, confesso que eu estava me segurando para não ir, queria aproveitar mais com Arvid porém teve uma hora que eu estava muito apertado.
- Vem, eu vou com você. - Arvid fala e ri da minha cara, muito álcool não deu certo não.
Fomos para o banheiro e eu fiz minhas necessidades lá, enquanto Arvid me esperava perto de um espelho, apenas ajeitando as mangas de sua roupa e até o cabelo.
- Pronto. - Falei assim que saí e lavei minhas mãos.
- Você estava.. Muito apertado hein. - Revirei os olhos e rimos, ele já parecia bêbado, claro, começou a beber cedo.
- Idiota, vamos logo. - Eu ia andando porém o vi parado ainda, parecia querer algo, então voltei até ele. - Está tudo bem?
- Sabe, eu... Também estou apertado.
- Vai lá então, eu te espero.
- Não é... Nesse sentido que pensa. - Arvid me encara, eu o encaro devolta para tentar descobrir o quê passa na mente dele.
Ele dá uma leve puxada em minha roupa para sua direção, fazendo nos aproximar. Parecia apenas um bêbado, porém senti que ele estava sentindo o mesmo que eu neste momento. Atração.
Parecia errado, mas foi automático. Toquei em seu queixo delicadamente e aproximei nossos rostos, assim o beijando.
Não sei por que fiz isso, não sei por que estou beijando um homem. Aquilo era novo, porém bom, muito bom.
É errado... Gostar disso?
Continua...
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Talvez em Outra Vida
Short StoryRonald era visto como o garoto perfeito da cidade, o dito marido perfeito para as damas. Seu mundo começa a se complicar quando a família Evans, os novos moradores daquela cidade pequena que praticamente ninguém visitava, chegaram; junto deles o fil...