Meses após os acontecimentos de "A rainha do nada" Jude se vê em uma situação, um tanto quanto inusitada e perigosa.
Novas intrigas, planos mirabolantes, amizades improváveis, segredos e meias verdades desastrosas. Tudo isso enquanto tenta lidar com...
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Dias antes
Sempre pensei que minha morte seria mais emocionante, como uma luta com espadas em um penhasco, ou em cima de uma torre alta, com alguma bruxa ou guerreiro feérico, porém nem tudo e da forma que queremos.
Na verdade eu morri na sala de jantar do palácio, depois de comer bolo de chocolate batizado em veneno submarino, nada glorioso devo dizer.
Levo alguns segundos para reconhecer onde estou, a propriedade de Locke - agora de Taryn - em um quarto de hóspedes. Meus olhos ainda um pouco cansados pousam em minhas mãos, meu anel de casamento se fora, só restou uma marcação levemente mais clara que minha pele, o único indício de que alguma vez esteve lá.
Liliver me disse que eu me sentiria fraca quando acordasse e que talvez minhas pernas demorassem um pouco até conseguirem me sustentar no chão, não tive vontade de testar a teoria, permanecendo na cama.
Ela também disse que não afetaria o bebê, ela me garantiu isso na verdade, mas não conseguia deixar de ficar preocupada. Se algo acontecesse seria minha culpa para carregar, afinal a ideia foi minha, foi eu quem decidiu tomar aquela coisa com gosto horrível de alga para que tivéssemos uma vantagem com Orlagh.
Não me arrependo, no entanto, faria de novo se isso significasse que minha família permaneceria segura. Abdicar de minha coroa e de Cardan foi um sacrifício que espero que valha a pena, mesmo que fosse por alguns dias, deixá-lo, dizer aquelas palavras foi uma tortura inominável.
Quando nos casamos foi com o intuito de nos separamos uma hora ou outra, foi uma aliança política com uma data de validade. Mas as coisas mudaram de rumo, nós dois decidimos continuar juntos, manter o casamento, não por ser politicamente conveniente, mas por que nos amamos.
Uma lágrima solitária e quente e indesejada desce lentamente por minha bochecha, anida muito pálida, eu suponho.
Sendo assim, noite passada eu não fui a única a sofrer, Cardan também sentiu profundamente o que inevitavelmente aconteceria. Ele foi um dos primeiros a discordar de meu plano, levemente, perigoso e foi o último a concordar a contra gosto. Não o culpo de toda forma, eu mesma se estivesse em seu lugar agiria da mesma forma.
- Pronta? - Cardan pergunta, sentado ao meu lado em nossa cama.
As flores que normalmente enfeitam as paredes de nossos aposentos não estão presentes para testemunhar, a única testemunha hoje é a lua cheia do lado de fora das janelas.
- Não. - eu respondi sendo sincera, os malditos hormônios fazendo lágrimas picarem atrás de meus olhos.
Cardan segurou minhas mãos nas suas, ele tinha seu sorriso ladino habitual, porém hoje estava mais triste, mais fraco e sem emoção.
- Deixe-me lembrá-la que a ideia foi sua. Pensei que já estava pronta para isso quando obrigou todos a concordarem. - Ele disse, sua voz tinha uma pontada de diversão, mas eu sei o que há por trás disso.
