Acordei em meu antigo quarto, o que usava quando era senescal, ao invés dos grandiosos aposentos reais.
Cardan me pediu, implorou na verdade, para que compartilhasse sua cama, mas eu estava irritada de mais para isso.
Toda essa história me deixou no limite do cansaço. Meu corpo estava mole de mais para que, se quer, me animasse a levantar da cama de lençóis e travesseiros macios, e minha mente exausta o suficiente para não ter muitos pensamentos coerentes.
Posso culpar os hormônios por isso.
Suspirei pesadamente e segurei minha barriga inchada.
- Sinto que teremos uma longa noite. - Sussurrei para o vazio da sala, de alguma forma, esperando que minha pequena filha não nascida ouvisse.
Estava me preparando para sair da cama e encarar o que quer que seja, mas antes mesmo que eu obrigasse meus pés a levantarem da cama a porta e aberta.
Cardan.
O grande rei passou pelas portas do quarto usando suas roupas extravagantes habituais, a coroa em seus fios negros.
Lindo.
- Como está se sentindo, Jude querida?
Lhe lancei um olhar afiado antes de, finalmente, levantar da cama.
- O que faz aqui? - minhas palavras ríspidas.
O rosto de expressões cansadas de cardan se contorceu em um sorriso tenso.
- Vim te acompanhar para comermos algo." ele disse simplesmente.
Levantei a cabeça projetando o queixo para frente.
- Sei ir sozinha, não preciso de sua ajuda.
Ele suspira
- Eu sei.
Meu peito se aperta por ele, seu rosto me diz que ele deve estar sofrendo tanto quanto eu, mas não posso me deixar enganar, não de novo.
Cardan observou enquanto eu me arrastava para o armário.
A mesa da sala de jantar é grande o suficiente para que eu possa ter um pouco de privacidade.
Cardan comia na outra ponta da grande mesa.
Sinceramente eu queria que ele estivesse ao meu lado, roubando comida do meu prato mesmo tendo mais do que o suficiente para ele, sinto falta de seus sorrisos secretos quando ninguém estava olhando.
Agora ele parecia com medo de olhar para mim; não decidi ainda se isso e bom ou ruim.
Devorei minha comida como se não me alimentasse a meses.
Não me importei com isso no entanto, estava comendo por dois. Bom, pela quantidade exagerada eu diria três ou quatro.Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios com o pensamento absurdo.
Estaria perdida se houvesse mais de um, Cardan com toda certeza ficaria maluco.
Olhei para a outra ponta da mesa, e lá estava o grande rei de Elfhame, me olhando de volta.
Os olhos negros intensos que eu tanto amava estavam perdidos, e mesmo com as expressões contorcidas como se estivesse sentindo dor, ele continuava sobrenaturalmente lindo.
As vezes eu me esquecia que cardan não era humano, quando estávamos em nossa cama compartilhando um fôlego a noite, ou a luz do dia quando suas expressões eram serenas e relaxadas.
Agora, com os ombros eretos, mortalmente parado e silencioso, ele não poderia ser confundido com um mortal simples como eu.
Por um momento me permiti sorrir para ele.
Levaria muito tempo até que eu pudesse confiar nele novamente, talvez nunca... Mas ele ainda era meu marido, ainda era cardan... Meu príncipe cruel.
E vê-lo sofrer acabava comigo de uma maneira que não pensei ser possível, então eu daria isso a ele, ao menos um indicio de que ainda o amava
Porque eu sei o que ele está pensando, que o odeio, que me arrependo. Conheço aquela expressão, o conheço melhor do que a mim mesma.Então eu precisava dizer, de alguma forma, que eu o amo.
Eu levei uma vida de mentiras desde que cheguei a Elfhame, precisei mentir e matar para sobreviver... Para ganhar meu lugar. Agora eu tenho um lugar na corte, tenho Cardan. Eu não precisava mais mentir, e isso era a mais pura das verdades.
Eu o amo.
Involuntariamente levei uma das mãos a barriga.
Amo os dois. Minha família.
Do outro lado da mesa os ombros tensos relaxaram, os olhos negros ainda continuavam perdidos porém mais suaves, e não sei se ouvi bem mais ele pareceu ter suspirado.
Talvez fosse alívio.
Eu queria pular em seus braços, queria que ele me segurasse e me dissesse que tudo ficaria bem, mas feericos não mentem.
E no momento as coisas não andavam bem.
De repente a grande porta da sala de jantar foi aberta.
Meu sorriso morreu.
Meu estômago deu um nó e minha garganta ficou seca.
Era ela.
Nicassia.
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heirs of Elfhame
عاطفيةMeses após os acontecimentos de "A rainha do nada" Jude se vê em uma situação, um tanto quanto inusitada e perigosa. Novas intrigas, planos mirabolantes, amizades improváveis, segredos e meias verdades desastrosas. Tudo isso enquanto tenta lidar com...