Eu sabia que não seria nada fácil conseguir alguma informação de Nicassia, mas sinceramente não pensei que seria tão difícil. Aparentemente a princesa do submarino foi bem treinada pela mãe, Nicassia não cedeu em nenhuma das investidas bem elaboradas de cardan, em uma semana não conseguimos nada útil dela.
Há alguns dias quando decidi reunir a corte das sombras, ficara acordado que antes de qualquer coisa precisamos saber, ou ao menos ter uma ideia mais concreta, do que Orlagh pretendia fazer e como. Barata sugeriu que tentássemos puxar o máximo de informações possíveis de Nicassia, de uma forma que ela não desconfiasse do que estávamos fazendo, e só então tomariamos alguma medida contra tudo isso.
Debatemos por horas naquele dia como faríamos nicassia falar, todas as opções pareciam ruins e com certeza nos delataria, a única que pareceu mais viável era usar Cardan. Nem ele nem eu gostamos dessa alternativa, porem era uma forma rápida e que - se executada da maneira correta - nao levantaria tantas suspeitas quanto a ideia de Bomba de envenenar Nicassia ou fazê-la falar sob tortura.
Todos estávamos nervosos com essa situação, com todos os custos e perdas se não fizermos as escolhas certas, e Cardan parecia ainda mais afetado que o restante de nós.
No fim decidimos que Cardan usaria suas armas e métodos próprios para fazer Nicassia falar algo, e que, manteríamos Elfhame ignorante ao que acontecia, provavelmente se Orlagh ou Nicassia soubessem que tínhamos intenções de estragar seus planos perversos não ajudará em nosso caso.
E então durante uma semana Cardan tentou. O grande rei de Elfhame deu festas para comemorar o novo herdeiro, demonstrou estar empolgado com a ideia, vendeu a fachada de que acreditava em Nicassia, se aproximou dela com seus sorrisos e palavras encantadoras. Nicassia estava jogando nosso jogo aparentemente, ela ria e dançava e aceitava de bom grado as investidas de Cardan, porém não disse uma única palavra que indicasse, bem...nada.
Duas noites atrás Cardan chegou em nossos aposentos mais frustrado que de costume. Ele passava quase compulsivamente as mãos pelos cabelos negros e andava de um lado para o outro.
- Não está adiantando! Ela não vai falar Jude, não importa o que eu faça, ela não vai. - Seu tom de voz me disse que o "passeio" que ele e Nicassia fizeram não foi bem.
Respirei fundo. Não gostava nem um pouco que Cardan tivesse que praticamente cortejar Nicassia para ter informações, ele também não gostava, mas durante todos os dias em que tínhamos que bancar os ignorantes e idiotas nos lembramos do porquê disso tudo.
- Vamos tentar de novo, quem sabe agora el- comecei mas cardan me interrompeu bruscamente.
- Não! já chega de "talvez agora ela fale" ou "só mais alguns dias". Ela não vai me contar nada, Orlagh fez seu trabalho com ela, e enquanto nós estamos aqui apenas fingindo que está tudo bem e esperando algo impossível, Orlagh está planejando como nos matar.
Cardan estava praticamente sem fôlego, com os cabelos desgrenhados e com as roupas amassadas. Durante todos esses dias ele estava a própria imagem da realeza e poder, mas quando as portas dos nossos aposentos eram fechadas e ficavam apenas nós, ele ficava assim: ombros caídos, olhos vazios e perdidos, inquieto e irritado, sempre a um passo de desabar.
Levantei da cadeira confortável em que estava sentada e fui até ele. Cardan tinha parado de andar e estava ofegando de raiva mal reprimida no meio do quarto.
- Eu sei como isso está sendo para você, sei que é difícil e que você está cansado. Eu sei por experiência Cardan, o peso disso. Mas temos que continuar tentando.
Minhas mãos estavam em suas bochechas agora, o segurando perto de mim.
As maquinações a respeito de Nicassia não foi a única coisa acontecendo essa semana, Cardan e eu nos aproximamos de novo, e talvez no começo eu tenha dito a mim mesma que era por necessidade e conveniência pelo que estávamos fazendo, mas sinceramente não quero pensar nos motivos.
- Precisamos saber mais sobre os planos de Orlagh, e a única maneira segura de fazer isso no momento e Nicassia. Sei que você não gosta, cardan, pelos Deuses, acha que não odeio cada segundo disso ? - Cardan fechou os olhos e balançou levemente a cabeça, ele parece mais calmo, mas parece ainda mais cansado com os olhos fechados e o cenho franzido.
- Mas nós precisamos. - continuei, ainda o segurando, ainda perto - Ao menos uma última vez, Precisamos tentar, por que se não fizermos isso... Então ela pagará por nós.
Os olhos profundos de Cardan estavam fixos nos meus, pude ver e sentir quando medo atravessou por eles, foi quando a escuridão densa com bordas douradas ficaram mais escuras e mais densas. O ar do cômodo mudou, o clima ameno e agradável de segundos atrás se tornou frio e cortante, foi como se uma sentença de morte fosse estabelecida naquele momento. foi aí que eu soube que Orlagh não viveria por muito mais tempo.
A irá da rainha das fadas, se testada, pode ser mortal de uma forma cruel e suja. O rei das fadas, no entanto, e o oposto disso, sua irá não é uma coisa fácil de se conseguir, não de verdade. O príncipe cruel que Elfhame conheceu, imaturo, explosivo e mimado, não tinha nada a ver com o rei que os comanda agora. Talvez um ou dois anos atrás Cardan destruiria as asas de alguém por pura diversão e maldade, mas não mais.
No momento em que, realmente, olhei para cardan, de pé no meio de nosso quarto, segurando seu corpo contra o meu como se o segurasse no pé do abismo, percebi que a irá do rei de Elfhame havia sido desafiada. Não seria cruel e sujo, seria rápido e eficiente e frio, como jogar pedras em um lago: enquanto elas estão pulando na água seria lindo, um pequeno espetáculo para se admirar, mas quando afundarem acaba, sem barulho ou alvoroço... Elas simplesmente descem lentamente e invisíveis até o fundo.
- Tenho uma última carta, se ela não funcionar, vou mandar á merda a diplomacia e ir até o submarino quebrar o pescoço de Orlagh e o de qualquer um que tentar me impedir.
Meu tom de voz não foi suave, não, tudo em mim no momento em que as palavras passaram por minha boca refletia a atmosfera do ar.
As mãos de cardan cobriram as minhas, um suspiro - que não tinha nada a ver com alívio - saiu de seus lábios.
- Tenho certeza que seria algo para se apreciar, minha rainha, mas para o bem psicológico de seu marido, não chegue nem perto do submarino.
O desafio que lancei com um olhar atrevido arrancou um sorriso de cardan, um sorriso divertido que havia muito não via em seu rosto. Isso me fez beija-lo, e quando meus lábios encontraram os dele foi como um punhado de água para um andarilho do deserto.
Enquanto nossos corpos se entrelaçavam, em meio ao tapete rodeados de nossas roupas esquecidas, em um encaixe perfeito como nada mais podia ser, percebi que não era o suficiente e que nunca teria o suficiente de Cardan.
Horas depois, enquanto o sol dava lugar a lua lá fora, nós estávamos deitados no meio dos aposentos reais. E contei a Cardan qual era minha última cartada.
Dois dias se passaram depois disso e ele ainda não concorda totalmente, mas nós dois sabemos os custos de não fazer o possível e o impossível, e Não estamos dispostos a pagá-lo.
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heirs of Elfhame
Roman d'amourMeses após os acontecimentos de "A rainha do nada" Jude se vê em uma situação, um tanto quanto inusitada e perigosa. Novas intrigas, planos mirabolantes, amizades improváveis, segredos e meias verdades desastrosas. Tudo isso enquanto tenta lidar com...