O Amor

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— Tay! — chamei assim que a vi no shopping. Ela parou e ficou de costas para mim. — Tay... Oi.

— Oi... — Ela sorriu torto.

— Você está... hum... sumida — falei sem graça, escondendo minhas mãos no bolso do moletom. — Fiz algo de errado?

— Não... — falou, com as bochechas vermelhas. — É só que as coisas estão bem difíceis.

— Eu posso ajudar? — Queria que soasse como uma pergunta, mas saiu mais como se eu implorasse para ajudar.

— Não, Mila, você não pode! — falou, fechando os olhos e respirando fundo. Antes que eu falasse qualquer coisa ela se virou e começou a caminhar entre as pessoas, mas antes de sumir na multidão Taylor se virou com um semblante triste e sussurrou mesmo à distância. — Me desculpe... — Fiz a leitura labial e suspirei frustrada.

Acho que se um dia eu tive a certeza que estava confusa eu não havia me imaginado nessa situação.

Por que Taylor havia sumido por duas semanas e quando me encontra pela primeira vez volta dizendo essas coisas e agindo dessa forma? Será que ela acha que eu estou me aproveitando de Lauren? Ou será que apenas aconteceu uma coisa muito ruim com a mesma?

O desespero ainda me afligia de uma forma incrivelmente dolorosa e apavorante. Eu fiquei parada vendo as pessoas passarem por mim e me encararem com uma expressão irritada pelo simples fato de eu estar parada no meio de um corredor. Tomei fôlego e caminhei de volta para a livraria.

A pergunta que não queria calar em minha mente era: o que eu havia feito?

Foram dois dias assim, eu fui torturada mentalmente; me pegava pensando em todas as horas do dia o que eu havia feito de errado, eu havia dito algo de errado e nada vinha a minha cabeça.

Nesses dois dias eu descontei minhas frustrações por não chegar em lugar nenhum com os meus pensamentos nos livros. Vendi mais do que o normal e li mais do que o normal também, apenas para ver se conseguia ocupar minha mente com algo útil, mas não adiantou muito.

Quando cheguei em casa hoje minha mãe pediu a minha ajuda para preparar a janta, assim fiz, só que diferente das outras vezes o meu semblante era decepcionado e totalmente frustrado, não muito diferente de como eu me sentia por dentro.

Mães são seres humanos incríveis, chega até mesmo ser macabro o quanto elas conhecem os próprios filhos e sabem que você está mal apenas por um gesto, olhar ou expressão... Mães são meio que super-heróis sem capas ou asas, são presentes de Deus que infelizmente não são eternos, mas que quase sempre são maravilhosas enquanto estão na terra.

Dona Sinu me perguntou o porquê de eu parecer tão abatida e quieta, brevemente contei sobre o que acontecia na vida das minhas amigas. Mas em momento algum comentei sobre a minha situação, sobre como me sentia em relação a Lauren e muito menos como a faculdade estava me irritando.

Foi assustador quando ela riu meio sem humor e negou com a cabeça falando:

— Camila, não perguntei o que acontece com suas amigas, perguntei o que acontece com você.

Acontece que é difícil falar para alguém como você se sente quando nem você mesma sabe o que está sentindo. Afinal, é desesperador sentir um sentimento por alguém e não saber dizer se é forte o bastante para dizer se você está ou não apaixonada, ou não sabe descrever se aquela amizade, apenas amizade, é tão importante que você sente seu estômago revirar só de pensar em ter aquele amigo especial longe.

— Nem eu sei dizer, mãe... — Suspirei e deixei a faca de lado, me sentei na bancada e fiquei encarando meus pés. — Quando descobrir eu te respondo.

— Hum... é impressão minha ou esse assunto é amoroso? — Balancei a cabeça em concordância. — Mas esse é o assunto mais simples! — Eu ri totalmente irônica, minha mãe havia virado piadista e eu não sabia. — Você zomba, mas é verdade. No tópico amor a gente faz drama por pouco caso. Muitas pessoas amam com os olhos e cabeça e não amam com o coração. — Ela beijou a minha cabeça e voltou a cozinhar.

— Mas você, mais do que ninguém, sabe que eu sou a pessoa que mais ama com o coração do que com os olhos. — Suspirei fechando os olhos e quando os abri vi minha mãe me encarando. — É tanto amor que eu não sei dizer o que eu sinto! — me lamentei.

— Acontece que quando estamos apaixonados nós simplesmente não conseguimos descrever, nós apenas... sentimos.

Todos falam que é fácil viver, falar, expressar e sentir o amor, mas é a coisa mais difícil do mundo. Se o amor fosse simples não iriam existir tantos livros, filmes, séries e teorias para explicar qual a lógica, qual é o ponto de se apaixonar por aquela determinada pessoa.

Amor pode ser comparado aos livros: alguns são cheios de drama, ou só com histórias felizes entre o casal principal, tem alguns cômicos e outros estúpidos. Tem relacionamento que assim como nos livros que demoram para acabar, já outros acabam rapidamente... Mas tem sempre um livro, aquele que é o seu favorito, que você sempre espera por novos capítulos, mas nunca pelo final.

Acho que é assim quando você acha o amor da sua vida. Você sempre vai querer mais momentos, mais histórias com aquela pessoa, mas se você realmente amá-la nunca vai desejar o final da história de vocês.

Perfect To MeOnde histórias criam vida. Descubra agora