Sem Você

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Eu parei de contar os dias, mas não de sofrer.

Não me lembrava mais quanto tempo eu estava sem ela, sem elas, em minha vida.

O primeiro final de semana foi o mais difícil, aliás a primeira semana foi difícil. Eu não podia conversar com a minha amiga e muito menos ver a pessoa que fazia o meu coração bater tão depressa que até poderia me causar um ataque cardíaco.

O engraçado é que quando saí do quarto de Lauren eu podia sentir minhas pernas ficarem cada vez mais pesadas e as lágrimas escorrerem dos meus olhos com uma facilidade tão grande, tudo começou a ficar embaçado e quando eu cheguei na sala Clara e Michael pararam de conversar e me perguntaram o que havia acontecido, eu apenas limpei as lágrimas alegando que tudo estava bem e que eu precisava ir, Tay se levantou e tentou andar até mim, neguei com a cabeça e acenei brevemente para eles saindo pela porta da frente.

A chuva que caía do lado de fora estava bem mais forte e me molhou inteira enquanto eu corria para o carro; quando me tranquei dentro do mesmo apoiei a minha cabeça no volante e chorei compulsivamente, a voz de Lauren pedindo para que eu ficasse ecoava na minha cabeça, o gosto dos seus lábios ainda estavam nos meus e eu sentia uma ânsia fora do normal.

Alguns minutos se passaram e quando vi que estava boa suficiente para dirigir eu voltei para casa. Quando cheguei lá estava tudo silencioso, meu pai dormia no sofá e não havia sinal de minha irmã ou de minha mãe. Subi as escadas e me tranquei no meu quarto, voltando a chorar para ver se de alguma forma toda aquela dor passava.

Naquele mesmo dia as meninas me ligaram umas mil vezes, todas elas, querendo saber como havia sido a minha despedida. Deixaram ao todo vinte mensagens de voz, sessenta mensagens de textos e tinha trinta e cinco ligações perdidas. Acabei desligando meu celular, o que não adiantou já que elas apareceram em casa mais tarde; esmurraram a minha porta e eu as ignorei.

Ignorei até um certo ponto.

Mila, abra, por favor... — Era a voz de Dinah, calma como eu nunca havia escutado antes.

— Só me deixem sozinha, eu imploro! — gritei e depois bateram mais umas três vezes na minha porta.

Quando as pessoas falam que querem ficar sozinhas é quando mais precisam de ajuda... — Manibear falou e eu escutei o barulho de algo caindo. — Ai... hum... eu vou me sentar aqui e não vou sair enquanto você não abrir a porta para nós... ao menos para mim!

O que aconteceu? — Ally perguntou com a paciência de sempre.

Elas não iriam desistir e eu acabei cedendo, levantei da cama e destranquei a porta, voltando a me deitar na cama logo em seguida. Alguns segundos se passaram e eu escutei o som da porta se abrindo e passos, senti a cama afundar em vários pontos e então uma mão pequena acariciou minhas costas, foi a deixa para eu voltar a chorar.

— Vamos estar aqui quando quiser conversar... — Ally falou e eu me sentei; olhei para todas elas que me encaravam com pena, deitei minha cabeça no colo de Allycat e Manibear segurava uma de minhas mãos.

Respirei fundo e parei de chorar, então logo comecei a contar tudo o que havia acontecido, vendo minhas melhores amigas ouvirem a tudo atentamente.

— Mila... eu sinto muito... — Normani falou baixinho e eu limpei as lágrimas.

— Quando ela me beijou... só foi o melhor momento da minha vida... — Sorri fraquinho e todas elas sorriram.

— Não entendi o porquê de você se afastar dela...

— Porque... Taylor tem razão.

— Não! — Dinah falou.

— Dawg...

— Não, nada de "Dawg". Camila, você ama essa menina! — falou irritada. — Você está se afastando dela sem motivo algum. Alguma pessoa do futuro voltou e falou que você vai realmente viajar ao redor do mundo? Vai fazer tudo o que quer? — Ela se levantou e eu apenas a encarei. — Lauren é autista, mas sente! Você mesma vive dizendo isso. Que a acostumasse aos poucos e então se afastasse de vez, ou não jogasse "eu vou embora" sobre ela. Não, porra, não é assim que funciona! — Ninguém dizia nada, apenas observamos Dinah.

— Você não entende....

— EU NÃO ENTENDO? — gritou e eu apenas limitei a me encolher. — Camila, você é que não entende. Vocês duas têm uma conexão estranha de outras vidas ou sei lá. Você não pode deixar isso acabar, não pode acabar assim!

— O que você quer que eu faça? Quer que eu vá lá e o quê? Berre para os pais dela que eu amo a filha mais velha deles? — Me levantei e fiquei a encarando, nós estávamos frente a frente e eu estava irritada com as suas palavras.

— Isso seria digno de Camila Cabello, porque a minha melhor amiga não foge quando as coisas ficam difíceis. Porra, Camila, você ama essa garota, então demonstre!

— EU ESTOU DEMONSTRANDO, PORRA, EU VOU FICAR LONGE DELA, VOCÊ NÃO SABE, NÃO IMAGINA O QUANTO ISSO É DIFÍCIL, ENTÃO NÃO VENHA DIZER QUE VOCÊ ENTENDE E MUITO MENOS QUE EU NÃO ESTOU ME ESFORÇANDO! — berrei com os olhos arregalados.

— Mila... se acalme... — Ally tentou encostar em mim, mas eu desviei do seu toque.

— Eu estou me afastando de Lauren para que eu não me machuque ainda mais, para que todos os Jauregui's não se machuquem ainda mais. Você não entende o quão difícil é para todos eles, o quanto eles sofrem...

— Então você está com medo de sofrer? Está com medos das consequências que namorar com Lauren pode te trazer?

Namorar? — Ri de uma forma tão sarcástica que nem eu mesma me reconheci. — Não existe isso para Lauren, ela nunca vai demonstrar o tanto quanto eu demonstro, ela não vai poder retribuir o meu amor...

— Não ouse chamar isso de amor! — falou irritada. — Isso não é amor. Amor é amar sem se importar se a outra pessoa vai ou não corresponder os sentimentos, amar não tem a ver com retribuição de sentimentos. Se você realmente a amasse a iria aceitar do jeito que ela é, como você sempre falou que a aceitou!

— E eu aceito, Dinah...

— Não, Mila, você não aceita, você acredita que aceita. Quando você passar a amá-la do jeito certo, quando amá-la verdadeiramente, aí sim eu acho digno você chorar por estar longe dela. E quer saber de uma coisa? Pensando melhor agora, acho que o que Taylor fez foi certo. Você realmente não pode estar ao lado dela, porque do jeito que está pensando só iria machucar a todos!

Dinah foi embora depois de dizer aquelas palavras, eu estava pior do que estava antes, como se aquilo fosse possível.

Depois de alguns instantes eu pedi para ficar sozinha, Ally e Normani respeitaram a minha decisão e foram embora, tranquei a porta novamente, meus pais bateram na porta umas mil vezes perguntando se tudo estava bem e nem responder eu respondia, só abri a porta novamente quando Sofi pediu para entrar.

O quão humilhante era chorar no colo da sua irmã de oito anos?

Eu chorei porque precisava de colo, porque precisava mostrar a minha fragilidade escondida no meu mau-humor.

Mas não me importei com isso, precisava de um amor puro naquele momento. Não tinha Lauren ali, mas tinha Sofi.

Perfect To MeOnde histórias criam vida. Descubra agora