Para Sempre Sua

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Não cansava de olhá-la do outro lado da mesa. Lauren mexia em um iPad com uma velocidade e eficiência incrível, não consegui deixar de observá-la, parecia uma coisa tão comum e simples para ela, até mais simples do que ler um livro cheio de figuras.

Ela não escrevia nem nada do tipo, jogava um joguinho no aparelho, que parecia mais interessante do que qualquer outra coisa que já havíamos feito pela manhã.

— Ela adora essas coisas... — Clara falou negando com a cabeça enquanto colocava um prato na minha frente.

— Sim... eu percebi. — Ri sem graça.

— Você está fazendo faculdade do quê, Camila? — perguntou interessada.

— Letras. Pretendo ser escritora, acho que vou cursar Jornalismo depois, ainda não sei... — falei dando de ombros e então percebi que Lauren me encarava séria.

— Você gosta de escrever? — Sra. Jauregui perguntou e eu apenas concordei com a cabeça. — O que escreve?

— Além do que é pedido na faculdade eu tenho o rascunho de um livro e um diário... — Ri totalmente sem graça. — Pretendo lançar um livro daqui alguns anos. Não quero que seja um livro fútil, entende? Não quero algo impossível, aquilo que as pessoas não possam viver. Quero que elas realmente se espelham e sintam que podem viver algo assim.

— E sobre o que escreveria em um livro assim?

— Verdades, sobre o amor, amizade... sobre a vida, do jeito que ela é, feliz e às vezes triste e realista — falei, bebendo o meu suco.

— Isso é bom... Eu compraria. — Piscou para mim e eu sorri. – Agora coma um pouco. Lauren, largue isso e beba um pouco de suco, ou água...

Nós três nos sentamos juntas à mesa; Clara havia feito alguns sanduíches, tinha suco e alguns morangos. Nós apenas sentamos e começamos conversar enquanto comíamos.

Diferente da última vez que eu havia visto a Sra. Jauregui ela estava muito mais solta, mais segura de que Lauren não iria ter um surto a cada cinco segundos, ela parecia finalmente confiar na filha mais velha; ela parecia ter finalmente acreditado que Lauren é uma pessoa como outra qualquer, e isso me deixou genuinamente feliz.

Começamos a falar sobre a minha faculdade e eu sempre tentava colocar Lolo na conversa, para ela ver que podia dar a sua opinião, que tinha o direito de participar da conversa tanto quanto qualquer outra pessoa. Isso pareceu fazer bem para ela, já que às vezes ela dizia uma palavra ou outra e ria quando sua mãe ria.

Clara pegou um álbum de fotos e Laur não pareceu gostar muito, só que acabou cedendo sem surtar ou qualquer coisa do tipo. Ela se sentou ao meu lado e toda as vezes que aparecia uma pessoa que eu nunca havia visto na vida ela dizia o nome e quem era em sua família, podia perceber o enorme sorriso que Clara tinha no rosto com essa sua atitude.

— Laur, por que não pede para Mila fazer bolinhas de sabão com você? — Os olhos de Lauren brilharam e eu apenas sorri animada. — Michael trouxe essa coisa esses dias e ela ama quando nós saímos no quintal apenas para brincar disso com ela. Você não se importa, não é?

— Claro que não. — Ri e peguei o recipiente, Lauren segurou em minha mão e eu apenas às olhei entrelaçadas.

Me chamem de cafona, me chamem de iludida, mas nossas mãos pareciam ter sido feitas uma para outra, tinham o encaixe perfeito e não era possível que apenas a minha mão estivesse formigando daquele jeito. Não pude mais olhá-las porque fui puxada para fora da casa por Lolo.

Nós nos sentamos na grama do quintal e ela estava de pernas cruzadas olhando atentamente para mim, o que me fez rir com a sua pressa para que soprasse aquele trequinho. Mergulhei na água com sabão e então assoprei, fazendo várias bolinhas surgirem. Lauren riu e se levantou, ela estourava todas com a ponta do dedo e eu apenas ia criando mais e mais.

A sua gargalhada era linda, ela corria e ia estourando todas as bolhas, eu ria junto e a ajudava a estourar algumas. Quando eu criei uma bolha grande ela ficou um tanto quando vesga e um largo sorriso se formou em seus lábios. Ela estava chocada com o tamanho da bola que estourou sem nenhuma de nós encostar nela.

— Outra, Camz... — pediu estourando as que eu havia acabado de criar.

— Quer tentar fazer algumas? — Ela me olhou curiosa e concordou com a cabeça. — Mas eu seguro isso daqui. — Segurei o recipiente que tinha a água com sabão e mergulhei o objeto que auxiliava para fazer as bolinhas lá dentro, entreguei em sua mão e ela soprou muito forte, o que não fez as bolinhas não saírem e me fez rir. — Não, meu anjo. Você tem que soprar mais devagar... assim. — Demonstrei e ela começou a estourá-las com a ponta do dedo. — Tente mais uma vez.

Assim fez, ela parecia determinada. A própria Lauren mergulhou o objeto na água e então levou perto da boca soprando o mesmo e criando várias bolinhas, ela sorriu e logo começou estourar as mesmas, repetindo várias e várias vezes seguidas, como se fosse a última vez que iria brincar com aquilo.

Não sei dizer ao certo o quanto tempo ficamos no quintal, só sei que depois que estouramos as bolhas de sabão Lauren pegou um disco que estava no chão, me afastei um pouco dela e ela fez o mesmo, ficamos lançando uma para a outra e toda vez que o disco caía no chão Lolo ria. Eu apenas sorria por ver o quanto ela se divertia.

Eu já estava bem cansada, Lauren não aparentava estar, porém estava ficando tarde e eu estava com medo que Taylor voltasse. Sugeri que parássemos e com um lindo bico Laur acabou aceitando. Ela deveria estar cansada, porque nem lutou tanto assim para continuar brincando.

Quando entramos pela porta da cozinha Clara nos olhava com um largo sorriso, eu apenas disse que precisava ir e Lauren me olhou com os olhos arregalados e totalmente decepcionados, o que apertou o meu coração ao mesmo tempo que ele se encheu de alegria já que ela havia acabado de demonstrar que gostava de mim.

— Tchau, Lolo, prometo que vou tentar vir o mais rápido possível te visitar. — Me curvei e beijei sua testa, ela deu um sorriso triste. — Não vou demorar, ok? — Ela me estendeu o seu dedinho e eu entrelacei o meu dedo mindinho no seu, selando nossa promessa.

Clara me acompanhou até a porta e nós ficamos conversando sobre hoje; ela me agradeceu um milhão de vezes por ter brincado tanto com sua filha daquele jeito, eu apenas sorri e disse que realmente gostava dela e não era ruim passar o dia ao seu lado.

— Ela é especial — falei. — Não no sentido ruim... Digo especial no sentido bom, no sentido única e essencial. — Pisquei para Clara. — Ninguém deveria dizer o contrário...

— Não deixo mais que falem, eu tenho me encontrado com um especialista, ele abriu os meus olhos... Disse que se eu quero que minha filha se sinta normal eu tenho que tratá-la normalmente, como se fosse qualquer outra pessoa. — Sorri e concordei com a cabeça.

— Você sempre fez e continua fazendo um ótimo trabalho — declarei e ela sorriu. — Obrigada pelo dia adorável...

— Não, obrigada você. Obrigada por trazer felicidade a essa casa, você é sempre bem mais do que bem-vinda! — Sorri largamente e a Sra. Jauregui me abraçou. — Espero que se acerte com Tay... — Quando nos afastamos eu a olho meio sem graça. — Ela não me contou o que houve, mas podemos dizer que você é uma péssima mentirosa, Camila. — Riu divertida e eu fiquei ainda mais sem graça.

— Mentirosa?

— Você sabia que Tay não iria estar aqui. De qualquer forma, obrigada por não estragar o que você tem com Lauren, minha filha mais velha realmente gosta de você.

— Eu também gosto dela, Sra. Jauregui. — Ela sorri e eu apenas aceno me afasto.

Eu também gosto dela, muito.

Perfect To MeOnde histórias criam vida. Descubra agora