Eu perdi alguma coisa enquanto aparatava para a toca. Algo que deixou Harry tão irritado ao ponto de me ignorar pelo resto da noite e mais um mês adiante. Hermione continuou como sempre, apesar de evitar qualquer coisa que nos leve a pauta de nosso beijo pós-guerra, e eu não podia ficar mais grato por isso.
No começo o que nos ligava era Harry, ele era o meu melhor amigo e ela era a outra amiga dele, mas de alguma forma com o decorrer do tempo só nós dois não era suficiente, nossas conversas não podiam terminar sem sua visão lógica e as ideias mirabolantes e planos infalíveis contra o mal só teriam êxito se Hermione dissesse: , pode ser que nenhum de nós morra se seguirmos esse caminho… ", E como sempre, não morremos. Mas aquele beijo aconteceu no meio dos escombros de Hogwarts e corpos ensanguentados de nossos colegas de classe, por puro desespero nada mais. Tanto eu quanto ela precisava daquele alívio. De um lugar seguro, aconchegante o bastante para que todo aquele horror desaparecesse por um segundo. Agora temos outras maneiras de evita-lo. Hermione com suas novas amizades duvidosas e eu embaixo de minhas cobertas. Funciona.
E então tinha Blasio Zabini constantemente ao meu redor, não sei se era intencional ou só o destino traçando caminhos entrelaçados para nós dois, mas a presença dele me causava um estranho desconforto eufórico.
Ando sonhando com seus olhos negros, com a boca cheia de palavras azedas, com o formato triangular do queixo e sua pele preta brilhante e em todas as manhãs acordo em êxtase.
E 100% assustado.
Merlin! Só pode ser brincadeira! Só pode ser. De onde veio isso? Algo assim não pode simplesmente brotar no cérebro de alguém! Uma infeliz brincadeira. É isso. Certo.
Suspirei rolando para sair da cama e antes que entrasse no banheiro batidas soaram vindas da porta. Caminhei até ela e a abri me surpreendendo quando fui prensado contra a parede, o movimento foi tão rápido que fiquei tonto me segurando no corpo tenso que me envolvia com força mesmo sendo menor que o meu.
— Harry? — perguntei analisando seu rosto de sobrancelhas franzidas, o cabelo dele tão bagunçado como sempre caia molhado sobre a testa o que me fez consciente do barulho de chuva vindo da janela, seus olhos verdes continham uma intensidade assustadora mesmo que eu soubesse que não tinha nada a temer — Está tudo bem?
Herry não me respondeu, só se envolveu mais ao meu redor me abraçando com o rosto enfiado na curva do meu pescoço exalando algumas vezes como se estivesse sentindo falta de ar.
— Teve um pesadelo? — o abracei de volta como fiz tantas vezes quando mais novos, alisando sua coluna com os dedos e o apertando contra mim, Harry precisava saber que eu estava aqui, que eu sempre estaria apesar de tudo, mesmo com a distância estranha que anda crescendo entre nós — se acalme, já acabou, esse é o mundo real amigo.
Ele se afastou, olhou em meus olhos agora com suavidade e sorriu, tentando esconder a dor mal disfarçada que estava sentindo.
— Sim, claro — acariciou minhas bochechas e beijou minha testa — Obrigada Rony.
E foi embora.
Me deixando para trás, imóvel e sem saber como ajudar.
Como sempre.
Quando voltei a mim, corri atrás dele. Harry Potter é humano no final das contas, por mais que todos nós o colocássemos em um pedestal não podemos mudar isso e priva-lo da dor que a morte traz.
Ofegante respirei fundo tentando mandar o oxigênio para meu cérebro ao mesmo tempo que fazia ele trabalhar na procura de Harry. Minha visão oscilou por um momento e foi o bastante para lo perde quando desceu as escadas no final do corredor do dormitório, continuei seguindo me apoiando nós tijolos frios das paredes até escorregar no tapete amarrotado que cobria o chão de pedra. O frio do contato das minhas pernas e braços contra o cão me fez estremecer.
— Rony? — a voz de Blasio puxou minha atenção, ele parecia exaltado quase sem fôlego como eu, os botões da camisa branca aberta até quase o umbigo deixando pouco espaço para a minha imaginação — O que aconteceu? Está machucado?
Não pude responder, muitas coisas girando em minha cabeça; A onde foi Harry? O que o deixou tão abalado? Por que Zabini saiu de um quarto que não era o dele as 6:30h da manhã? E o que significa toda essa preocupação em sua voz?
Blasio se abaixou pegando em meus cotovelos e depois me puxando para cima, não sei se foi a velocidade em que me ergui ou a sensação de proximidade que sua respiração batendo no meu rosto deixava, mas fiquei tonto.
Nunca o olhei tão de perto fora dos meus sonhos e mesmo neles aquela discreta pintinha abaixo de seus olhos um tom mais escuro que sua pele não podia ser vista, talvez porque eu nunca a tivesse notado até agora.
Um pigarro me trouxe a realidade, não era só uma 'sensação' todo o meu corpo encostava no dele respirei fundo e me afastei empurrando seu peito para fazer o mesmo, só então olhando para o autor do som.
Era Teodoro Nott.
Parado de braços cruzados encostado no batente de seu quarto me encarando com uma sobrancelha arqueada. Uma leve mancha roxa pintava a pele de sua bochecha.
Blasio saiu do quarto de Nott — quase sem roupas — as 6:30h da manhã.
Algo dentro de mim, emitiu um sonoro "CRACK!" Com o desenrolar dos fatos na minha cabeça.
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Um amor para Ronald Wesley
RomanceEu me perdi em algum momento durante aquela detestável guerra. E essa é a história de quando resolvi me encontrar no amor. - Ronald Wasley.