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Quando paramos em frente da casa dos meus pais congelei encarando sua nova forma. O lugar onde cresci não parecia mais o mesmo, as paredes não eram mais de madeira e os cômodos seguiam uma linha reta do chão ao céu como os prédios trouxas, nada mais da deformidade caótica que costumava ser. A cor — provavelmente escolhida por minha mãe — era um amarelo intenso que brilhava ao por do sol deixando a visão convidativa e harmoniosa que combinava com as árvores e gramas no quintal. As janelas envernizadas tinham no parapeito flores coloridas e bem cuidadas.
Eu odiei.
Respirei fundo, eles estão se esforçando. Tenho que fazer o mesmo também. Estendi minha mão para a maçaneta quase a girando quando o som das risadas de Giny — que não ouço a um bom tempo — acompanhadas de muitas outras me fez retroceder.
Não estou pronto para isso. Não consigo apenas sentar na sala de estar lembrar dos momentos bons e ficar feliz por eles. Não. Eu não sinto felicidade nenhuma em lembrar do quanto meu irmão gostava daquela coleção idiota de figuras que vinham na embalagem de sapos de chocolate escondidas dentro de uma caixa embaixo da minha cama. Ou de saber que se estivesse vivo e bem, ignoraria totalmente o guarda vassoura a minha esquerda do lado da porta, ele simplesmente jogaria a sua na grama e ali ficaria até mamãe gritar que não havia gasto dinheiro naquilo por nada.
Fred não merecia morrer, ele tinha sonhos, segredos e ambições e eu não consigo sorrir quando sei que tudo isso acabou. Que as lembranças são tudo, que sairá mais nada disso. Acabou. Ele morreu. Fim. Simples assim.
Não consigo aceitar isso.
Por que sinto falta de ter que juntar sua vassoura simplesmente por ser o mais novo. De comer sapos de chocolate e guardar as embalagens para ele escolher as que ainda não tem. Das brincadeiras e traquinagens, da segurança de seu abraço. Sinto falta do meu irmão.
E isso me faz querer chorar e não sorrir.
Virei para Blasio que esperava atrás de mim, tão pleno quanto possível seu sobretudo perfeitamente encaixado no corpo remetia uma superioridade elegante que me fez envergonhado por voltar com minhas palavras. Desviei dele descendo os três degraus da varanda me afastando a passos rápidos, indo sei lá para onde. Senti seus dedos envolvendo os meus me fazendo parar e antes que eu — ou ele — falasse qualquer coisa a porta da casa se abriu em um tranco e dela Bill saiu apressado.
— Você finalmente chegou! — e continuou agora para dentro da casa (ignorando totalmente o fato de eu estar fugindo); — Eu disse que ele viria George! — e então para mim de novo com um sorriso terno; — vamos, entrem! Mamãe fez frango assado.
Certo. Minha crise terá que esperar.
Segui novamente até a porta e entrei vendo uma ampla sala de jantar, com uma mesa cheia de comida e gente, lustres de cristal no teto e papel de parede florido decorava o ambiente e tudo aquilo me fez tensionar.
Acenei para todos e tentei sorrir também, meus olhos pararam em Harry que por algum motivo encarava minha mão esquerda. Segui seu olhar e entendi a surpresa.
Eu ainda segurava Blasio.
Merda.
O soltei e corei envergonhado quando vi seu sorriso debochado, me afastando para abraçar minha mãe que vinha da cozinha.
— Oh! Meu querido! — me apertou forte — finalmente em casa!
— Sim, mamãe.
Mas eu não me senti assim. Não sem o calor confortável daquele lagarto idiota contra a minha palma.
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