Era uma noite fria de sábado quando John chegou a Baker Street. Ele pegou sua bagagem do porta-malas, pagou o taxista e subiu o degrau do 221B. Enquanto procurava as chaves no bolso do casaco, mal podia conter a ansiedade de ser agraciado pelo interior quente e aconchegante do flat.
A viagem para visitar sua irmã havia sido estressante. Harriet terminara outro relacionamento e John foi até lá só para se certificar de que ela estava lidando bem com isso. Tudo estava sob controle, mas quando ele deixou escapar que sua preocupação era de que ela enfrentasse isso da mesma forma que fez quando se divorciou de Clara, as coisas ficaram feias para o lado do médico. Trazer à tona o período em que Harry teve problemas com álcool era um gatilho que nunca terminava bem e o médico teve que adiantar seu retorno para casa por causa disso. Quem sabe um dia, ele aprenderia a tratar o assunto com mais sensibilidade, mas por ora, tudo que queria era entrar em casa, tomar um banho quente e tirar toda aquela tensão de seus ombros.
John bem que gostaria de encontrar Sherlock acordado. Assim eles poderiam compartilhar uma bebida quente e o detetive contaria a ele, com um entusiasmo contagiante, sobre algum experimento excêntrico em que estava trabalhando ou sobre um novo caso extraordinário em que havia se metido na sua ausência.
Ter esses pequenos momentos na companhia de seu colega de apartamento era algo que Watson valorizava mais do que havia se dado conta. Enquanto o mais novo falava, o médico ficava em uma espécie de transe, hora com os olhos vidrados nos lábios dele, que se moviam aceleradamente, na tentativa de acompanhar a velocidade de seu raciocínio agitado, hora pousados naqueles olhos multicoloridos que ele tinha e que faiscavam de excitação durante sua narrativa.
Sherlock não dispensava essa atenção a mais ninguém e isso fazia John se sentir especial por tê-lo de forma tão exclusiva. Porém, quando colocou os pés dentro da sala, chateou-se ao ver o ambiente vazio e a lareira apagada.
Com a perspectiva de um fim de noite solitário, o loiro deu um suspiro de conformação. Para ser honesto, estava um pouco tarde, então não era muita surpresa que Sherlock já estivesse dormindo. Sendo assim, ele se arrastou cuidadosamente escada acima em direção ao seu quarto, tentando ao máximo não fazer barulho nos degraus para não acordar o amigo.
Qual não foi sua surpresa quando, no meio do caminho, escutou um som vindo do quarto do detetive. Ele apurou os ouvidos e, ao identificar do que tratava, paralisou onde estava. Era uma respiração ofegante e entrecortada por alguns gemidos.
John sentiu o rosto enrubescer e o corpo esquentar. Ele não devia ficar parado ali, devia? Tinha que continuar subindo as escadas, mas por que não conseguia?
Ainda estacionado nos degraus e, sem entender o motivo, o médico mordeu o lábio inferior e se manteve ali, deixando que aquele som preenchesse a si cada vez mais.
No instante seguinte, porém, ele foi arrancado de seu estado letárgico, porque o som de outro gemido havia se juntado ao primeiro.
- Mas o quê? - Não pôde deixar de se questionar em pensamento.
E já não bastava estar se sentindo estranho o suficiente por ter, deliberadamente, permanecido nos degraus para ouvir o que seria o som do detetive se masturbando, agora se sentia ainda mais confuso porque, aparentemente, o fato de descobrir que o amigo não estava sozinho, havia soado como uma pedra caindo pesadamente no seu estômago. O que diabos estava acontecendo?
Assim que voltou a si, o loiro se apressou em terminar de subir os degraus em silêncio e, quando entrou em seu quarto e fechou a porta atrás de si, finalmente soltou o ar que havia prendido. Suas entranhas pareciam retorcidas e seu coração batia acelerado.
Ele sentou na cama tentando se recompor e, depois de avaliar um pouco a situação, decidiu que não sairia mais do quarto aquela noite. Não iria tomar banho, não iria comer. Tudo para não correr o risco de dar de cara com... seja lá quem for, trajando apenas camisa e chinelos no meio do corredor. Apenas ouví-lo já havia sido perturbador o bastante, então preferia não saber como se sentiria ao vê-lo.
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Eu posso ser essa pessoa para você [johnlock]
FanfictionJohn teve uma ideia perigosa e que poderia machucá-lo, mesmo assim, quando deu por si, estava dizendo aquilo em voz alta: - Você não precisa fazer isso, eu posso ser essa pessoa para você, Sherlock. -- Um psiquiatra pró cura gay começa a ser ameaça...