A porta se abriu e o detetive inspetor irrompeu para dentro da sala, cumprimentando os dois homens. Sherlock estava de costas para eles, olhando aparentemente distraído pela janela e John estava sentado com uma almofada no colo e os olhos baixos, tamborilando ansiosamente os dedos nos braços da poltrona.
- Vai dizer alguma coisa ou não se lembra o motivo de ter vindo até aqui, Gavin? - Sherlock perguntou sem se virar.
- Vocês estão bem? - Lestrade perguntou. Ele não pôde deixar de observar que havia algo estranho no ambiente. John, que sempre foi mais receptivo, mal levantou o rosto para cumprimentá-lo, limitando-se a acenar com a cabeça brevemente. Além disso, ele parecia estranhamente febril e suado. E depois tinha o detetive que, por mais indiferente que fosse, não continuaria de costas para ele, desperdiçando a oportunidade de fitá-lo com astúcia enquanto lhe cuspia perguntas rudes como sempre fazia.
- Tenho certeza que você não veio até aqui em uma manhã de domingo para saber do nosso bem-estar, Lestrade, diga logo do que se trata.
Lestrade suspirou. Talvez fosse melhor não insistir.
- Você conhece Edward Covolan? - O inspetor perguntou.
- E por que haveria de conhecer?
- Porque ele viralizou nas redes com uma entrevista na semana passada - John respondeu finalmente levantando o rosto - É um psiquiatra que defende que a homossexualidade deve voltar a ser considerada uma doença mental. Causou grande polêmica.
- Justamente - Lestrade confirmou.
- E você veio me falar deste homem por que?
- Bom.. Ele tem recebido partes de corpo em sua porta. Acreditamos que seja um tipo de ameaça.
E com essa informação Sherlock finalmente se virou para encarar o inspetor.
- Partes de corpo?
Lestrade reparou que os lábios do detetive estavam inchados e as maçãs do seu rosto mais coradas que o normal, mas preferiu não tecer nenhum comentário a respeito.
- Sim. Um dedo e uma língua e, hoje mais cedo, uma orelha. Simplesmente deixados para ele em caixinhas, como se fossem um presente. Todos pertencentes à mesma pessoa. O exame do legista também constatou não haver sinal de sangramento, nem a presença de leucócitos nos locais das lesões...
- O que significa que foram cortados após a morte - Sherlock completou - Então, no mínimo, temos ocultação e violação de cadáver, ameaça e, se tivermos sorte, um possível homicídio! Quem diria que esse dia poderia ficar melhor? - O detetive respondeu entusiasmado, provocando um sorriso inconsciente em John e desconcerto em Lestrade. Em seguida se sentou em sua poltrona com as mãos sob o queixo, em sua típica postura de atenção para ouvir mais daquele caso que já tinha ganhado seu interesse.
- Já estou acostumado com o fato de você comemorar assassinatos, mas "ficar melhor"? Quando entrei aqui você e John pareciam ter acabado de ter a pior das discussões. Estavam totalmente tensos e evitando contato visual. Como poderia estar sendo um bom dia?
- Lestrade, vamos focar no caso - John interrompeu depois de limpar a garganta - Se Covolan já havia recebido uma entrega, porque você não colocou ninguém para vigiar a casa?
- Porque ele só avisou a polícia depois que recebeu a segunda caixa e, quando colocamos vigilância, a terceira foi deixada em seu consultório, ao invés de na casa. Ambos os locais estão com policiamento agora.
- E não vão conseguir nada - Sherlock respondeu - Se o responsável notou que a casa foi colocada sob vigilância, já deve ter presumido que o mesmo foi feito com o consultório depois de sua última entrega. Ainda mais com a pouca discrição do seu pessoal, Lestrade. Tem alguma coisa útil de verdade que você já tenha feito nesse caso?
- Mapeamos as reações mais inflamadas na internet e estamos interrogando alguns suspeitos, mas até agora não temos nada de promissor, por isso estou aqui.
- Muito bem. Quero trocar algumas palavras com esse tal Covolan, quando podemos ir até lá?
- Tenho mais algumas pessoas para interrogar essa tarde, então podemos ir amanhã.
- Ok, eu não preciso de você para isso. Passe-me o endereço.
Lestrade torceu o nariz, mas pegou seu celular e digitou alguma coisa. O aparelho de Sherlock vibrou na mesinha ao lado de sua poltrona e, depois disso, os três homens ficaram em silêncio por algum tempo.
- Acho que você já pode ir, Gilbert - O detetive finalmente disse.
- Oh sim! - Lestrade se virou de forma atrapalhada - Me avise se descobrir alguma coisa - Disse antes de sumir escada abaixo.
- Eu diria o mesmo - Sherlock disse para o vão já vazio da porta - Mas duvido muito que descobrirá alguma coisa - Depois se virou para o médico - É por isso que eu gostaria que você o acompanhasse nos interrogatórios desta tarde, John.
- Não vou com você até a casa de Covolan? - John perguntou tentando disfarçar sua frustração.
- Acho que é mais produtivo nos separarmos. Lestrade é capaz de ver, mas raramente de observar, então será útil que esteja com ele - E vendo o sorriso de orgulho nos lábios do amigo, não pôde deixar de completar - E não se gabe tanto John. Seria uma surpresa muito frustrante se, depois de anos de nossa convivência, você não tivesse aprendido nada comigo. Mas o sorriso do médico não se esvaiu.
- Pois saiba que também posso te ensinar muita coisa - Disse tombando a cabeça com aquela expressão que, secretamente, o detetive sempre achava adorável.
- Sim, como nos lembrarmos de trancar a porta, por exemplo - Respondeu, desviando o olhar e rindo sem jeito.
O médico gargalhou - Trancar a porta deveria ser a primeira regra!
Sherlock então notou que John ainda conservava a almofada firme sobre o colo.
- Desculpe não poder te ajudar com isso. Terminamos depois?
- Sem dúvidas! - O loiro tentou responder de maneira casual.
O detetive deu uma piscada e se retirou da sala para, minutos depois, retornar totalmente vestido.
- Te vejo mais tarde!
Foi o que ele disse antes de sair , então, pela primeira vez naquela manhã, John conseguiu soltar totalmente o ar.
Os últimos acontecimentos ainda borbulhavam na sua cabeça: ele havia chupado Sherlock até que este gozasse em sua boca e, por deus, havia sido bom demais! Ainda podia sentir seu gosto na boca! E, mais: ele seria retribuído se Greg não tivesse aparecido do nada. Agora os dois estavam em meio a um caso e ele tinha uma tarefa para cumprir.
Oh droga! Eles estavam em meio a um caso! - O loiro deu-se conta de repente - Isso significava que, de acordo com as regras de Sherlock, não poderiam terminar essa experiência particular até solucionarem o problema para a Scotland Yard.
Bom, que seja. John iria se empenhar ao máximo para descobrir de quem era o corpo cujas partes estavam sendo enviadas para o tal psiquiatra. Não por qualquer tipo de interesse pessoal, é claro, mas por sim por sua genuína devoção à ordem e à justiça, não é mesmo?
E ele já ia ligar para Lestrade e combinar de encontrá-lo na Scotland Yard, mas antes, tinha outro probleminha para resolver. Pegou alguns guardanapos de papel e se trancou em seu quarto - "Eu estaria mentindo se dissesse que nunca te imaginei inteirinho dentro da minha boca, sabia?" - Era tudo que ele conseguia mentalizar.
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Um capítulo mais de boas pra esfriar o sangue de vocês hehe Juro que tentarei demorar menos pra postar o próximo 🙏 Essa é minha primeira fic com um caso de verdade, então tive quebrar a cabeça aqui para pensar em algo lecal. Que será que vem por aí, hein? Me contem o que acharam! Espero que vocês curtam 🖤
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Eu posso ser essa pessoa para você [johnlock]
FanfictionJohn teve uma ideia perigosa e que poderia machucá-lo, mesmo assim, quando deu por si, estava dizendo aquilo em voz alta: - Você não precisa fazer isso, eu posso ser essa pessoa para você, Sherlock. -- Um psiquiatra pró cura gay começa a ser ameaça...