O casal Karine e Guilhermo Patropi estava feliz com a mudança para o bairro do Recreio dos Bandeirantes. O novo condomínio era ótimo, a vizinhança agradável e o melhor: havia um grande shopping, com ótimas lojas, serviços e restaurantes a cerca de 100m do prédio.
O apartamento tinha 03 quartos, sendo um deles a suíte do casal e os outros dois para os filhos Raymond e Mario, de 12 e 6 anos, respectivamente. Uma varanda de excelente tamanho dava graça e "respiração" ao imóvel. Do alto dos 25 andares contemplavam uma vista ampla e espetacular.
Karine era médica e trabalhava no Hospital Lázaro, na Barra da Tijuca. Já Guilhermo era contador e assessor direto do vice-presidente financeiro da Viação Vitória, localizada na Pavuna. Os filhos estudavam nas redondezas e a "secretária" Rosângela ficava responsável por organizar seu dia a dia de compromissos.
A família mantinha uma rotina tranquila e aos finais de semana costumava sair para programas especiais, principalmente comer fora, motivo de alegria do patriarca amante da gastronomia e, em especial, da culinária mineira, justificando seus quilinhos a mais.
Tudo caminhava bem e a felicidade reinava no lar dos Patropi. Apenas um detalhe incomodava o contador: barulhos constantes ouvidos no silêncio da madrugada, vindos do shopping. Eram ruídos diversos: pequenos apitos sonoros, sons de máquinas e de geradores. Parecia-lhe que o local, a partir da meia noite, se transformava em uma fábrica, com uma linha de produção à toda. Os barulhos perturbavam seu sono.
Chegou a indagar alguns vizinhos, os porteiros noturnos e até os seguranças do shopping, mas ninguém ouvia ou tinha conhecimento de nada. Somente ele e a família.
Resolveu deixar o problema de lado não se tornar um chato em casa ou na vizinhança.
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Passados 03 meses não conseguia esquecer da barulheira. A mulher dormia e ele ia para a janela ou até varanda na vã tentativa de entender o que se passava. Estava dormindo menos e por vezes chegou atrasado no trabalho, sendo advertido pelo seu chefe: o rígido Dr. Cantolin.
Além do sono, vinha perdendo a paciência e estava intrigado e irritado.
Numa quinta-feira fria, de lua cheia, do mês de maio, todos na casa já dormiam e Guilhermo permanecia acordado. Vestia uma calça de moletom, meias, uma blusa grossa de manga comprida com o símbolo do "Batman" e sandálias "Havaianas". Foi até a sala, onde tomou algumas doses de "Jim Bean" ao som de "Trombone Shorty".
Não adiantou. Não conseguiu ficar calmo ou pregar o olho. Tomou uma decisão encorajado pelo efeito da bebida: iria até o shopping averiguar o que acontecia e resolver de uma vez por todas esta situação.
Bateu a porta de casa de forma silenciosa para não incomodar os familiares, pegou o elevador, passou o mais despercebido possível na portaria e caminhou até o deserto estacionamento do local.
Enquanto observava com curiosidade uma frondosa árvore, que se estendia pelo muro mal cuidado à sua esquerda, viu um pequeno clarão próximo. Assustou-se. Esfregou os olhos e o enxergou novamente, desta vez se movimentando com muita rapidez. Acelerou o passo em sua direção.
Quanto mais perseguia a luz, mais ela assumia um formato. À esta altura já corria e não acreditou quando a viu se transformar em dois exemplares de porcos canastra, que entraram em uma porta de fundos cercada por um brilho amarelo.
Guilhermo queria gritar, chamar alguém, mas ao mesmo tempo tinha receio dos fenômenos desaparecerem.
Foi até a porta e, mesmo receoso, adentrou o ambiente. Continuou a caminhar e deu de cara com um sujeito magro, de chapéu e trajado com vestimentas parecidas com as de um fazendeiro. Ao seu lado estavam os dois já conhecidos porcos. O homem falou:
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HISTÓRIAS ICÔNICAS DE UM UNIVERSO SURREAL VOLUME 1
General FictionEste livro é um conjunto de 10 contos surreais/fantásticos. Sinopse: Existem mundos dentro de mundos: universos paralelos e multiversos, que se entrelaçam. "Histórias Icônicas de um Universo Surreal", em seu primeiro volume, contem 10 contos fantás...