Yek

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"There I was again tonight forcing laughter, faking smiles
Same old tired, lonely place
Walls of insincerity
Shifting eyes and vacancy vanished when I saw your face
All I can say is it was enchanting to meet you
"
Enchanted, Taylor Swift


Birmingham, Inglaterra, 1921

O leilão estava insuportável. Marie ainda não se sentia completamente confortável com o grupo de amigos de seu noivo, Robert Pearson, filho do dono de uma das empresas mais concorridas da Europa – a Pearson & Co., responsável por quase 20% da produção de tecidos em todo o continente. Não é que não gostasse do Sr. Pearson... Porém não morria de amores por ele, e às vezes, o achava extremamente infantil – mesmo que ela tivesse 18 anos e não estivesse no lugar de julgar a maturidade alheia. Infelizmente, um trato era um trato.

E ela sempre mantinha sua palavra – assim como seu pai a havia ensinado.

-Este é um puro-sangue árabe. – Robert falou perto de seu ouvido. – está muito bem cotado por ser filho dos dois últimos vencedores consecutivos da corrida da Rainha.

-Oh, é muito bonito. – Marie assentiu, observando o pelo do animal à distância.

-O próximo é um quarto de milha, que eu particularmente me sinto mais interessado. Ele pode não ter a vantagem genética do puro-sangue, mas acredito que com o treinamento adequado será o melhor competidor. – sorriu. – e eu quero entrar para esse ramo.

-Podemos ficar com os dois, o que acha? Assim você teria opções para escolher o melhor de corrida e eu poderia usar o outro. – ela o encarou.

Robert pareceu gostar da ideia, pois assentiu e seus olhos azuis brilharam com interesse. Ele era um homem bonito... E Marie teria uma vida confortável ao seu lado; eventualmente viria a gostar dele, certo? Quantos matrimônios uniram pessoas sem sentimento algum?!

Talvez, se repetisse diversas vezes, ela começaria a acreditar naquilo.

Além do mais, seu pai lhe dera uma chance. Tivera a oportunidade de evitar tudo isso.

Com um suspiro, Maria Clara se apoiou no parapeito, descansando o queixo em uma mão. Seus olhos deixaram o cavalo árabe que Robert estava oferecendo um lance, e percorreu o local todo. Quase como uma força magnética, sua atenção foi atraída para o camarote à sua frente, na outra extremidade do salão. Então, ela o viu.

De perfil, ele parecia o descendente mais próximo de Apolo.

Ou... Bem, ela não tinha certeza se existia alguma divindade descrita com tamanha beleza.

Maria Clara desejou que pudesse usar o binóculo para analisar melhor o estranho. Porém, de onde estava, e apenas com a vista do perfil, ela não tinha dúvidas de que era atraente, charmoso e homem com "H" maiúsculo. A boina foi o que mais lhe intrigou no início, porque costumava odiar tal acessório, mas nele... Deus, parecia a coroa de louros de Apolo. O terno cinza escuro, tão diferente do bege que Robert usava, o destacava mesmo que as pessoas ao redor dele usassem cores parecidas. Marie acompanhou, com a respiração presa, enquanto o desconhecido levava um cigarro à boca – outra coisa que detestava, mas que ele a deixava próxima de uma benção. Apolo, provavelmente, bebia âmbar de modo igualmente gracioso.

Deveria parar de compará-lo ao deus grego.

O árabe foi retirado e deu lugar ao quarto de milha que Robert havia comentado. O animal era realmente esplêndido, de um marrom-avelã brilhante e com uma crina que parecia ser mais macia do que um floco de algodão. A réplica de Apolo se apoiou no parapeito, interessado no cavalo – que começava a dar uma volta pelo pavilhão. Isso fez com que Marie pudesse ver seu resto melhor, tomando nota dos olhos redondos e da boca carnuda, das bochechas altas e de um nariz harmonioso. Mesmo com a distância, ela soube que ele exalava masculinidade.

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