Deshdeokta

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"Well, you drive me crazy half the time
The other half I'm only trying
To let you know that what I feel is true
And I'm only me when I'm with you"

I'm only me when I'm with you, Taylor Swift


Birmingham, Inglaterra, 1924

Maria Clara entregou o envelope aberto para Ana Vera e desfez dos sapatos, se jogando no sofá da biblioteca. Sua casa inteira parecia ter sido tomada pelo espectro de Michael. Faziam dois dias desde a fatídica noite, e ela ainda tinha dificuldade de andar por ali sem sonhar acordada.

-Sinhazinha? – a aia franziu o cenho, encarando o papel.

-Robert me mandou. Seu cavalo vai finalmente estrear em Epsom esta temporada e ele gostaria que eu participasse da primeira corrida. Apolo acha que devo ir.

-Apolo acha?

-É, coloquei uma menta atrás de uma plaquinha com "sim" e outra com "não". Ele escolheu a menta do "sim". – Marie tirou as meias, embolando-as no chão.

-O que milorde pensa disso?

-Não sei. – soltou as presilhas do cabelo. – ainda não falei com ele.

-Meu Deus, sinhazinha, se vai se despir, é melhor fazê-lo no quarto!

-Não estou me despindo?! – riu. – o que a irritou, Ana?

A mulher estava pronta para dar o quinto sermão na patroa quando a campainha soou.

-Está esperando alguém?

-Até onde sei, ninguém. – Marie negou, sentando-se.

Ana andou até a janela, puxando um pouco da cortina e espiando o lado de fora. Não deveria estar surpresa quando viu a figura de Michael Gray na entrada.

-Bem, agora você pode discutir com milorde sobre Epsom. – a governanta comentou enquanto caminhava até a porta. – pois ele acaba de chegar. – gritou já do hall. Ela abriu para ele, fazendo vista grossa da valise, do corte no supercilio e na bochecha esquerda arroxeada. – milorde.

-Ana. – Michael sorriu, um filete de sangue no lábio inferior aparecendo.

-Milady está na biblioteca. – indicou. – acho que não ficará satisfeita com seu estado.

-Precisamente por esta razão vim. Gostaria que ela tomasse conta... – Michael parou de súbito, franzindo o cenho pela baboseira romântica que falaria. Havia se lembrado que ainda não "discutira" com sua maior aliada (Ana) sobre dormir com Marie. – estamos bem, você e eu?

-Desculpe?

-Pelo que aconteceu duas noites atrás.

-Ah... Pois sim. – Ana Vera tentou aparentar tranquilidade. – preferia que não tivessem ido tão longe, mas o que foi feito, está feito. Só posso pedir para que não quebre o coração dela... Pela milésima vez. – não deixou de alfinetá-lo.

-Minhas intenções para com Marie são honradas agora. – a assegurou.

-Ana?! – a voz da lady em questão a interrompeu.

-Creio que milorde deve ir. – ela apontou para o corredor com o envelope.

-O que é isso?

-Milady vai te explicar. Licença, vou levar isto para o quarto. – pegando a valise dele, Ana o deixou sozinho para encontrar a patroa.

O prazer e o carinho que o assolou ao ver Maria Clara ainda eram novos e o pegavam desprevenido. Claro, fora ali sabendo que se encontrariam, mas... Ao vê-la, sentiu-se tímido.

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