Deshtastor

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"Tell me that you're still mine
Tell me that we'll be just fine
Even when I lose my mind
I need to say
Tell me that it's not my fault
Tell me that I'm all you want
Even when I break your heart
"

Afterglow, Taylor Swift


Londres, Inglaterra, 1924

O frenesi da saída não durou muito tempo; no meio do caminho, Michael já se sentia um babaca impulsivo e bobo de amores. Ao avistar as luzes de Londres, ele desejava que não tivesse movido um milímetro sequer da cadeira... Já podia escutar as piadas dos primos e dos outros Blinders, podia visualizar todo o respeito que batalhou para conquistar se esvaindo.

Seus sentimentos mudaram drasticamente quando encontrou a casa de Ada vazia.

Devia ter imaginado que Maria Clara não ficaria sozinha por lá, muito menos na situação em que os Shelbys se encontravam... E não com um potencial futuro(-ex)-noivo em outro local.

Só o simples pensamento o encheu de indignação, além de reacender a vergonha que sentira por agir como um canalha com ela. Uma coisa era falar tais baboseiras com seus primos, outra, bem diferente, era tratar do assunto com ela.

Agora, Michael estava duplamente envergonhado, irritado e confuso. Ao mesmo tempo que queria correr até a casa de Lady Tumblewood e fazer uma cena À La Shakespeare, também queria voltar à Birmingham e fingir que nunca surtara, que permanecia sensato e amplamente focado nos negócios... Que era apaixonado, de fato, só pela empresa e por seu sucesso.

Certo, era um covarde em assuntos do coração, isso era óbvio, mas não deveria ser.

Mesmo que tivesse o trauma da adoção, de ter sido separado daqueles que amava em tão tenra idade, além da necessidade de ser aceito e apreciado... Marie não tinha culpa alguma. Entretanto, ela não podia garantir que jamais o deixaria, que não se separaria dele na primeira oportunidade... Ou pior: que não o trocaria por alguém melhor (em título, posses e caráter).

E aí chegava ao grande cerne do problema: tinha pavor da rejeição.

Não era algo que assumiria nem mediante tortura, todavia, era a realidade.

Ele odiava isso: a vulnerabilidade, a paranoia, a insegurança e a impotência de não poder controlar/saber o futuro. Buscando uma garrafa de whisky, preferiu anestesiar o cérebro com álcool do que lidar com seus demônios, e assim passou o resto da noite.


±±±±±±

Durante toda a segunda-feira, Marie se ocupou de acompanhar Thea por alguns passeios e pequenos eventos. Ao levarem Edward ao Serpentine, ela precisou guardar o anel de jade na bolsa, ou seria capaz de chorar copiosamente quase a tarde inteira.

Na terça, com a festa de Robert, foi possível se distrair... Ou tentar. Logo pela manhã recebeu um telefonema de Polly perguntando se estava tudo bem e se ninguém dos Blinders a procurou; após responder que estava ótima e que ninguém apareceu, Polly desconversou e a desejou uma boa semana, dizendo que estava ansiosa para a exposição de Nick no sábado.

A ligação esquisita a deixou inquieta por boa parte do dia, mas, por sorte, logo se viu dentro de Pearson House, sendo recebida com sorrisos imensos por seu ex-noivo e a família dele. Com a elegância costumeira, ela se agarrou ao braço de Lorde Nicholas e implorou aos céus que não precisasse lidar com esquemas de matronas desesperadas ou ter a primeira valsa com Robert.

Golda Pearson sucumbiu rapidamente à depressão de uma mãe casamenteira que não consegue realizar sua principal função: a de casar os filhos. Ela mal podia acreditar que perdera para uma mocinha que não tinha metade dos seus anos de matrimônio e nem um filho em idade de desposar: Lady Tumblewood. Entretanto, tinha que admitir que Marie e Lorde Nicholas faziam um casal formidável; ele era um homem charmoso e elegante, e Maria Clara uma menina bonita e graciosa. A julgar pela maneira como se comportavam, ainda não estavam apaixonados um pelo outro, mas havia carinho e adoração nítidos entre eles.

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