Haviam se passado 3 dias em que eu estava no hospital, e eu admito que não foram os piores, já ela estava alí o tempo todo. Adora parecia um guarda costas, às vezes no meio da noite, eu acordava e pegava ela deitada aí me lado, encolhida, segurando a minha mão, já outras vezes, eu a surpreendi vendo se eu ainda estava respirando. Achei fofo nas primeiras 2 vezes, mas depois, notei que ela fazia isso toda hora, todas as noites...
Hoje seria o dia da minha alta. Adora ainda estava com os curativos e suas costelas ainda estavam quebrada, mas o médico disse que ela poderia ir pra casa comigo desde que não fizesse nenhum esforço. Eu fiquei feliz, finalmente sairia daquele lugar e os flashbacks iria parar. Na primeira noite, a dor não havia me deixado dormir, a porta do quarto estava sempre aberta e eu podia ver um outro leito no quarto da frente, e em alguns momentos, eu podia jurar que via a minha mãe.
— Mãe... — Eu sussurrava para mim mesma. Lembrava do momento em que seu coração havia parado e de como seus olhos se fixaram em mim enquanto dizia suas últimas palavras.
" — Eu sinto muito... e obrigada..."
Não me lembro a última vez que fiquei com tanta raiva e tristeza como naquele dia. Por que? depois de tantos anos sendo tão cruel, sendo tão intolerante comigo, porque ela pediria desculpas segundos antes de sua morte? por que ela não fez isso antes, poderíamos ter tido uma relação diferente, poderíamos ter sido mãe e filha... Mas do que adiantaria pensar nisso agora? ela já estava morta, e por toda a minha vida eu desejei estar também.
Me olhar naquele estado me fazia ter mais lembranças do passado. Lembranças da primeira vez que estive naquele hospital por uma quase overdose de amitriptilina, um remédio que na época me ajudava a dormir. Eu lembro que dizia a minha mãe que eu apenas queria dormir um pouco mais naquele dia, lembro que ela havia saído e demorou uns dois dias até voltar e eu apenas dormia. Quando eu não acordei, ela entrou em desespero e chamou um vizinho que me colocou no carro e me trouxe a esse mesmo hospital. Depois de lavarem o meu estômago, foram consultas e mais consultas com um psiquiatra e uma psicóloga que era até bem gentil. Na minha cabeça, eu havia inventado uma história na qual eles eram casados, eram tão fofos. Eu voltei ao hospital mais 6 vezes depois disso, mudaram a medicação, me internaram e me deram alta várias vezes e eu via como isso me destruía e destruía a minha mãe.
" — Cat, vamos?"
Sua voz era a coisa mais bela que eu podia ouvir. Talvez um dia eu possa terminar de enfrentar essa história e relembrar ela até o fim. Um spoiler? eu não morri, infelizmente... ou felizmente, talvez.
— Vamos, eu tô louca pra comer alguma comida de verdade.
" — Vai com calma, você quase tomou um tiro no estômago." — Jorge havia vindo nos buscar no hospital, Adora parecia um pouco distante em seus pensamentos, mas eu acho que poderia entender o motivo.
— Acharam a Lonnie? — Perguntei, o que causou certa tensão nos dois. — Eu não estou com medo, só quero saber.
" — Infelizmente a polícia não a encontrou. Foram até a casa dela, mas a encontram revirada com alguns itens faltando." — Jorge respondeu
— Então ela fugiu? Não me surpreende, ela é ótima nisso. — Adora segurou a minha mão, e as suas estavam um pouco trêmulas. — Você está bem, amor?
" — Sim, estou. Só está um pouco frio aqui, podemos ir embora logo?"
Sua resposta era um pouco vaga assim como seu rosto que parecia pensativo. Ela evitava me olhar por alguma razão, e eu estava com medo de descobrir qual seria. No carro, eu tentei fazer com que ela me olhasse, mas o máximo que eu consegui foi um sorriso de canto e um abraço dolorido que a fez resmungar por suas costelas, mas ela se recusou a me soltar para que dor parasse. A viagem havia sido curta e silenciosa, Jorge havia ligado o rádio em uma música interessante que fala como o amor poderia ser intenso ou apenas destrutivo, eu iria gostar de saber o nome dessa música, ela tinha um ritmo legal para chorar a noite.
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Until you rescue me - Catradora (reescrevendo)
FanfictionCat trabalha em um dos grandes museus de Londres. Após perder sua mãe, ela vive sozinha sobre a companhia de Melog, seu gato de estimação. Em um belo dia, seus vizinhos a convidam para passar um feriado em sua casa e isso acaba lhe trazendo a tona s...