O sol era um intruso que atravessava as frestas das minhas janelas. O som do meu gato arranhando a porta do lado de fora do quarto era o que havia me feito abrir os olhos, contra a minha vontade. Eu olhei para os lados, olhei por todos os cantos, mas ela não estava lá. Colado em um prato com torradas cobertas de geleia de morango e mirtilos amontoados ao lado, havia um bilhete escrito em uma folha de papel pardo preso por um adesivo de gato.
"Precisei sair para um compromisso. Coma e deixe o Melog entrar, tive que fechar a porta para ele não comer os mirtilos do seu prato. Prometo que volto antes do final da tarde.
Ps: roubei suas figurinhas no seu ateliê, não fique zangada, eu prometo fazer bom uso."
Eu não fiz nada além de sorrir. Sorri com a forma que ela deixou o bilhete, como o jeito que ela se preocupou em me avisar e até mesmo por ela ter roubado minhas figurinhas. Ela está bela até quando não estava mais ali. Claro, eu ainda me sentia mal pelo que havia acontecido, o aperto no peito e nó na garganta não podia deixar de se formar assim que coloquei meus pés no chão. Eu já não sabia ao certo o motivo daquela sensação ruim, mas relembrar aquela cena na minha cabeça me fez questionar se aquilo foi apenas um ciúme tolo por ela, se realmente eu estava errada em ficar tão mal por vê-la beijando alguém sendo que nenhum compromisso foi imposto. Talvez seja apenas paranoia.
Mesmo com o estômago meio embrulhado, eu comi o café da manhã que Adora havia deixado ali. Me levantei da cama com o bilhete em mãos e fui até a porta para abri-la, sendo recebida por arranhões e mordidas do Melog, que sempre odiava portas fechadas.
- Droga, Melog! Você bem que mereceu ficar aí fora!
Eu segurei o gato em meu colo, indo até a cozinha para colocar a ração dele. Enquanto ele comia, me lembrei do que Adora disse sobre ele ter "gritado" para ela entrar. Melog sempre presenciou minhas crises e surtos de ansiedade, sempre me vendo desmaiar ou chorar até que eu ficasse com dores de cabeça por dias. Melog sempre miava desesperado, de acordo com a minha mãe. Melog, Melog e Melog, eu poderia me casar com ele se fosse humano. Sua pureza e sua lealdade jamais poderiam ser encontrados em um coração humano, suponho que não suportaria e explodiriam, afinal, as pessoas que mais morrem injustamente são pessoas boas. Elas nunca ficam tempo demais na terra.
- Merda!
Eu olhei de relance o calendário pendurado na parede da cozinha, bem acima de onde melog estava comendo. Hoje era o grande dia do almoço com meus vizinhos. Eu olhei pela janela e pude vê-los em sua sala, sorrindo enquanto pareciam arrumar a casa. Eu havia me esquecido desse dia, nem sequer perguntei o horário que eu poderia, talvez fosse melhor mandar uma mensagem antes? Ou apenas dizer que eu não estou bem sentindo bem... Sim, talvez fosse melhor. Meu celular tocou, vibrando escandalosamente sobre a pequena mesa da cozinha.
"Querida Catra, esperamos que tenha acordado com muita fome hoje. Preparamos um delicioso almoço apenas para a sua presença, já que é a nossa convidada especial. Tivemos a surpresa de que vira apenas mais uma pessoa, muito especial para nós, e esperamos que isso não te desanime a vir passar a tarde conosco. Contamos com a sua presença. Ass.Jorge e Lance."
Aquilo me fez sorrir, talvez fosse apenas a maneira de que eles escreveram uma mensagem como uma carta. Por que eles são tão legais comigo? Tão de repente, tão rápido eles pareceram se apegar como se eu fosse uma pessoa muito especial para eles. De qualquer forma eu não queria decepcionar. Aliás, quem seria essa "convidada especial" ?
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Until you rescue me - Catradora (reescrevendo)
Fiksi PenggemarCat trabalha em um dos grandes museus de Londres. Após perder sua mãe, ela vive sozinha sobre a companhia de Melog, seu gato de estimação. Em um belo dia, seus vizinhos a convidam para passar um feriado em sua casa e isso acaba lhe trazendo a tona s...