24 - Scorpia. (Bônus)

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Eu havia sido a primeira a abrir as portas do museu naquela manhã. Tudo estava em seu devido lugar, em sua mais perfeita ordem como as obras de arte sempre estiveram. Algumas caixas, algumas prateleiras com livros antigos que haviam acabado de chegar para serem expostos. Na biblioteca, aquela mesa vazia agora me doía, me agoniava da maneira mais angustiante possível, mas ainda tentava me convencer de que tudo estava bem. "Ela esta feliz, Scorpia" , "Em breve você ira vê-la novamente." Uma das coisas mais fáceis de se fazer é enganar a si mesmo uma dezena de vezes até que se acredite, a real dificuldade será acreditar naquela verdade que você tentou evitar por anos, três anos...

Eu evitava a biblioteca a todo custo, durante todo esse tempo me mantive contida em minha própria bolha. Perfuma me levava o almoço na sala da administração e por muitas vezes ela havia se mostrado uma pessoa muito interessante. Em todos esses três aniversários que a Srta Ângela havia organizado uma pequena comemoração em sua sala, Perfuma havia me presenteado com cactos e flores das mais exóticas espécies e formas, que poderiam se dizer até mesmo "sugestivas", como Cat havia insinuado em momentos totalmente inoportunos enquanto a Srta Ângela tirava as fotos de todos nós. Catra ainda tinha todo o acesso ao museu, já que depois de sua demissão e seu repentino sucesso como artista, grande parte dos seus lucros foram doados para as reformas e o sustento do museu.

Adora também fazia muito sucesso com suas ações beneficentes, levando seus cavalos para os hospitais se especializando em uma terapia assistida por animais, que recentemente foi descoberto como um valioso instrumento para ajudar no tratamento de doenças e no suporte a pessoas acamadas e hospitalizadas, indivíduos com doenças psiquiátricas, idosos e crianças com necessidades específicas, incluindo aquelas com deficiências físicas ou intelectuais. Foi em um desses hospitais conheceram uma garota chamada Entrapta, autista e órfã assim como Catra.

Tudo parecia muito bem na vida delas. Amigos, viagens e até um novo gatinho chamado Marlon, que havia dado a ideia para esse novo projeto de Adora. Tudo parecia bem, elas estavam bem... a cat.

25/06/2018 

Eu estava ligando haviam horas que eu ligava para o celular dela; mensagens, ruas e mais ruas vazias em que eu passava a sua procura e nada, até receber uma única mensagem.

"Eu estou bem, amanha conversamos. Adora está comigo."

Eu não pude descrever a minha sensação, a onda de sentimentos que havia me atingido fazendo com que eu quase lançasse o carro na direção do lago. Ela estava bem, tentei dizer a mim mesma; "mas e quanto a mim?" , "e quanto a tudo o que fiz?" 

Não fiz o bastante...? Será que fui insuficiente mais uma vez...? Tudo o que eu fazia na vida dela era atrapalhar, mas o que eu podia fazer? eu só tenho ela. Eu voltei para casa algumas horas depois de ficar encarando o lago quase congelado pela janela do carro; os vidros embaçados não ajudavam muito a embelezar a vista, ou talvez fossem apenas os meus olhos marejados. Em casa, eu apenas havia me deitado sobre a cama, por alguma razão eu ainda estava inquieta, O colchão já não parecia tão macio como antes. Rejeição, o que um coração poderia suportar, até onde eu fui capaz de ir por ela, o que eu perdi por ela...?

Nada mais poderia ser feito, ela não me amava, eu sempre soube disso ate naquele dia incrível em que seus lábios tocaram os meus eu pude sentir aquele amargor ao final da doçura que meu coração se deleitou por míseros segundos. Era tudo uma ilusão que eu havia transformado na minha realidade, uma erva daninha que eu deixei crescer e sufocar o meu coração ate que agora eu ja nem mesmo me importe com essa dor desde que ela esteja ao meu lado. Era engraçado pensar dessa forma, durante anos eu cuidava para que ela não dependesse emocionalmente de ninguém, mas lá estava eu, dependente dela, de um amor que ela via apenas como uma amizade possivelmente obsessiva. Eu não era a prioridade dela da mesma forma que ela era a minha. Tudo estava diferente desde que Adora apareceu, desde que ela se apaixonou e desde que... Eu havia dito aquelas coisas... Ela ainda não havia dito que me perdoava... Eu havia pedido desculpas? Não, eu havia esquecido, talves não houvesse momento certo para pedir desculpas, tantas coisas aconteceram, tantos perigos... perder os braços com certeza me distraiu... "Amanha conversamos. Adora está comigo." Ela estava realmente bem então, mas eu não estava.

Until you rescue me - Catradora (reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora