O sol e a lua

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Olimpo
"Não! Isso não!" – Apolo gritava – "Pare com isso! Basta! Abrir mão da sua imortalidade por uns anos de vida ao lado dele? Ele é frágil, limitado! Qualquer coisa pode matá-lo! E você ficará como? Sozinha aguardando a morte?"
Ártemis: "Por favor, meu irmão. Tente entender não há vida longe dele. Eu apenas sobrevivo nesses últimos anos. Você é testemunha da minha dor, do meu sofrimento." – lamentava.
Apolo: "Você irá me deixar? A mim e a Ilias? Nós não merecemos seu amor também?"
Ártemis: "Me perdoa?  Eu amo vocês faria qualquer coisa por vocês! Sabe disso! Mas sem ele não há alegria, não há vida... não há luz! É isso que deseja pra mim? - chorava
Artemis: "Por favor... por favor, Apolo entenda, eu preciso que me compreenda. Preciso de você! Por favor, se lembre de que seu coração já sangrou como o meu sangra." – passou a mão nos cabelos dourados do deus sol – "Não fique triste! Eu não estou te deixando. Nós ainda poderemos nos ver." – sorriu.
Apolo: "Sim, eu sei que a dor de perder um amor não se apaga." – segurou nas mãos delas e respirou profundamente, as lembranças ainda estavam vivas em seu coração – "Mas e quando você se for?"
Artemis: "Você terá Ilias e Ilias terá você! Eu não o deixo sozinho, meu amado irmão." – Artemis o abraça. – "Lembre-se que como humana eu poderei voltar em outra vida."
Apolo: "Mas não se lembrará de mim, de Ilias..."
Artemis: "Acha mesmo que minha alma, meu coração esqueceria do  meu pequeno leão e do meu sol?" – sorriu com brilhos nos olhos. 
Os deuses gêmeos se abraçaram.
 
 
 
 
Muitas eras* atrás...
 
Duas pequenas crianças fugiam assustadas com sua jovem mãe, a deusa Leto.
Leto: "Eu não posso mais suportar isso, vivemos com privações e medo. Irei matar essa maldita serpente que Hera enviou para nos matar e nos persegue por tanto tempo."
Artemis: "Por favor, mamãe! Não vá!" – a pequena menina com cabelos negros em lágrimas pedia.
Leto: "Não há mais opções! Não podemos viver assim! Você e seu irmão merecem mais do que se esconder, merecem mais do que isso." – abraçou a pequena menina – "Artemis, não chore! Você é filha de Zeus! Você é forte e precisará ser mais forte caso eu não volte! Não há tempo pra lágrimas, precisamos seguir em frente. Compreende, minha lua?" – passou a mão nos escuros cabelo da menina que engolia o choro e beijou sua testa.
Artemis: "Eu o odeio! Ele devia matar aquela víbora e nos deixar viver livremente!"
Leto: "Nunca mais repita isso! Ele é seu pai, seu soberano! Devemos respeitá-lo! Não podemos questionar suas atitudes." – a repreendeu.
Artemis viu com desprezo o amor cego de sua mãe e ali no coração da pequena deusa ela matava qualquer esperança de amar um homem e ser submissa a ele.
 Leto caminhou até Apolo que dormia - "Você é mais velha, mais sábia. Cuide dele! Ele tem uma essência muito sensível." - e beijou a cabeça do deus da poesia, das artes e da música.
E assim a deusa Leto nunca mais voltou...
 
(Quando Leto engravidou de Zeus, enfurecendo a ciumenta Hera, sua esposa legítima. Hera a perseguiu, colocando em seu encalço o monstro Píton (um cobra enorme) e amaldiçoando-a, para que nenhum lugar conectado a terra, pudesse recebê-la para que ele pudesse dar à luz: "Nenhum lugar onde o sol brilha a receberá para dar à luz a sua criança!". A píton seguiu por anos Leto e seus filhos)
 
Após alguns dias os pequenos deuses gêmeos estavam famintos e preocupados com a demora da mãe.
Apolo chorava nos braços de Artemis.
Artemis: "Não fique assim, tudo ficará bem!" – tentou sorrir p acalmar o irmão mais novo.
(Conta à lenda que Artemis nasceu primeiro e ajudou no parto de Apolo que nasceu alguns dias depois)
Apolo: "Não está! Mamãe não ira voltar. Estamos sozinhos, Artemis!"
Artemis: "Não, não estamos! Nunca ficaremos sozinhos enquanto tivermos um ao outro!" – falou enquanto olhava os belos olhos de Apolo, ali nascia uma promessa. Ela pra sempre cuidaria dele.
Apolo: "Um dia eu vou matar aquela víbora!"
...
 
 
Artemis começava a desabrochar, estava uma bela moça e um dia acordou com Apolo queimando em febre, (ela ainda não tinha recebido o poder da cura). Era muito inteligente e sabia que a única cura pro mal de Apolo eram as ervas que ficavam na entrada do submundo. Não pensou duas vezes e foi até aquele lugar assustador, mas como aprendeu com a sua mãe não havia tempo pra lagrimas.
Andava procurando as ervas quando sentiu um arrepio e um grande enjoo.
"O que fazes aqui, bela mortal?" – falou uma enorme sombra escura que voava até ela.
Artemis: "Não se aproxime!"
Sombra: "Não há o que temer..." – e a agarrou.
Logo a sombra se transformou em um homem alto, forte e a puxou pra um beijo, seus olhos queimavam de desejo pela pequena moça.
Outro homem apareceu e o tirou de cima dela: "Solte- a! É só uma criança!" – ordenou.
"Não se meta em meus assuntos, Hypnos!" – e caminhou até a menina que ergueu seu arco.
Artemis: "Não de mais um passo!" – sua voz e posturas firmes demonstrava que falava sério.
A luz começou a iluminá–la e seus cabelos chicoteavam com o vento numa cor prata, a cor da lua, seus olhos brilhavam um intenso cinza.
Os dois deuses reconheciam tal poder.
Hypnos: "Ela é filha de Zeus, Thanatos!" – falou o deus do sono preocupado e puxou o irmão que olhava ainda mais encantado a pequena deusa.
Ártemis voltou pra casa com o remédio e após alguns dias o jovem deus das artes estava bem.
Apolo: "Por que seus braços estão marcados? Você anda triste! Diga – me o que foi?"
Ártemis: "Nada importante! A única coisa que importa é que esta bem, meu sol!" – o abraçou.
...
 
 
Mais alguns anos e os dois gêmeos corriam pela floresta caçando.
Um som conhecido chamou atenção deles.
Artemis: "Vamos Apolo, píton nos encontrou!"
Apolo: "Até que demorou! Chega! Não podemos mais viver assim. Eu vou matá–la e vingar nossa mãe!"
Artemis preocupada: "É muito arriscado! Vamos seguir em frente e deixar aquele monstro p trás! Não quero que se arrisque." – e o abraçou e dormiram na floresta de Delfos*.
Artemis acordou e o deus do sol não estava, pegou seu arco e correu.
Apolo com seu arco foi atrás da píton e numa briga aonde dominava a gigante serpente, levou um bote da cobra que fez seu arco cair longe. A víbora abriu a boca e se preparava para devorá-lo. Não havia pra onde correr, estava preso pela cauda da cobra e sentia seu corpo sendo esmagado. A cobra abriu sua imensa boca e ele sentiu o halito acido da cobra perto do seu rosto, o céu escureceu e uma nuvem de abelhas com um som ensurdecedor encobriu o sol, as imensas  abelhas picavam a cobra, principalmente nos olhos tentando cegá–la e assim a cobra soltou o deus da musica, o jogando pra longe, logo a cobra caiu no chão com três flechas em seu peito, flechas de Ártemis.
Apolo segurava seu arco que tinha acabado de pegar e viu Artemis correr desesperada até ele se jogando em seu colo em lágrimas.
Ártemis: "Por favor, nunca mais se arrisque assim! Eu não posso te perder, minha melhor metade! É tão precioso!" – passou a mão no rosto dele e alisou aqueles cabelos dourados que tanto amava.
Apolo: "Ei, pare de chorar! Estou bem! Nunca vou deixá–la!"
Estavam abraçados quando um intenso raio cortou o céu e a figura poderosa do deus supremo apareceu.
Zeus olhou os gêmeos eram lindos, a própria representação da lua e do sol. Viu a malvada serpente morta por flechas e viu que Apolo segurava um arco, caminhou ate o deus do sol: "Há anos que essa víbora me incomoda! Fico feliz por você, meu filho, ter matado esse terrível monstro"
Apolo ia falar, mas Artemis o interrompeu, em seu coração havia muita magoa pelo descaso de Zeus e o coração de Apolo era puro.
Ártemis: "Meu irmão é um herói! Uma preciosidade, o próprio sol! Nossa mãe soube nos educar pelo exemplo do amor e coragem"
Zeus percebeu naqueles intensos olhos o desprezo por ele, mas nada falou sabia o quanto sofriam e nada fez, não podia desagradar mais a esposa, mesmo que não concordasse com as maldades dela. Mas agora não havia como negar os filhos, a noticia se espalhou que o belo deus sol, filho de Zeus matou o temido píton.
A morte da serpente foi um grande evento para todos, construíram um templo para Apolo no local em que matou a cobra e lá se localizava o famoso Oráculo de Delfos.
Zeus levou os filhos para o Olimpo, os nomeou como deuses olímpicos e os gêmeos continuavam cada vez mais unidos. Após alguns anos, Artemis ao ver que Apolo amava o Olimpo e já era forte, sábio, justo que poderia se defender sozinho decidiu morar na Terra, nas florestas. Mas antes seu pai para tentar chegar ao arisco coração da deusa da caça lhe concedeu seis pedidos, um deles era o de nunca ser obrigada a casar.
...
 
 
Os jovens deuses cresciam e como flores que desabrochavam possuíam uma beleza ímpar e seus gestos, personalidades ganhavam a admiração dos primeiros povos que surgiam para raiva de Hera.
Em uma das visitas que fazia a Artemis, andando pela Terra o jovem Apolo conheceu e se encantou por Jacinto, um humano de beleza rara.
Logo os jovens se apaixonaram e conheciam as alegrias do primeiro amor.
Apolo: "Eu preciso te contar algo!" – falou receoso.
Artemis sorriu: "Acha que não sei?! Que não percebi esse sorriso bobo que não sai da sua cara ou as varias visitas que ando recebendo! Nos últimos meses me visitou mais do que nos últimos séculos." – caminhou até ele e olhou nos olhos – "Sabe que eu o amo? E que você sempre será a melhor metade! Estou feliz por você e Jacinto!" – se abraçaram.
Thanatos a observava, ela já estava uma jovem mulher e mais linda do que nunca, mas era uma poderosa deusa e o principal era filha de Zeus.
Um dia Apolo jogava um pesado disco com Jacinto e Thanatos que por ali passava, deixou o seu rastro, o disco bateu no chão e ricocheteou acertando com muita força a cabeça de Jacinto.
Apolo em desespero chorava com seu amado em seus braços, no local onde caia o sangue de seu amor misturado a suas lagrimas nasciam belas flores, as flores jacinto.  
Apolo estava muito mal e Artemis passou alguns anos ao lado dele no Olimpo.
Caminhava pelo Olimpo quando encontrou seu detestável irmão, o deus da guerra.
Ares: "Sabe o que andam comentando sobre seu irmão?"
Artemis: "Eu não ligo pra fofocas! Não tenho tempo pra isso!"
Ares: "Pois devia, todos falam o que seu irmão é!" – falou com raiva.
Artemis impaciente olhou dentro dos olhos de Ares: "E o que ele é?"
Ares: "Seu irmão é uma aberração! Ele se deita com homens!" – cuspiu.
Artemis em fúria: "Quem é você para falar algo de Apolo? Sabe o que deviam comentar... é que quando nosso irmão Hefesto não esta, você se deita com a Afrodite, com a esposa do seu próprio irmão! E você quer falar de aberração?! – colocou o dedo no peito do deus da guerra – "Não há princípios, fidelidade ou honra em você! Em Apolo há apenas amor! Quem você acha que é aberração aqui, Ares?!"
Logo os cosmos dos dois deuses se intensificaram e deusa Hera apareceu, afastando seu filho Ares.
Hera: "O que esta fazendo agora, Ártemis?!" – perguntou com raiva.
Artemis olhou pra eles com todo o seu desprezo e foi para o templo de Apolo.
 
 

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Notas:
* Era - Como as eras estão ligadas à posição da Terra em relação às constelações, cujas extensões são diferentes entre si, sua duração também varia, mas têm em média 2.160 anos.

PS: A lenda da flor jacinto é linda! Vale a pena ler. Afrodite era esposa de Hefesto e o traia com Ares, depois casou com Ares e tiveram muitos filhos. Falam que Afrodite achava sexy quando Ares voltava das guerras com o corpo musculoso todo sujo de sangue! Eca!

Arco e flecha: Ártemis e SísifosOnde histórias criam vida. Descubra agora