Prólogo

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Héstia  estava  irritada.

Irritação essa que derivava da evidente discrepância entre a forma que ela, e seus melhores amigos corriam.

Ridículos com pernas compridas.

Em sua concepção, a brincadeira ficaria infinitamente melhor, se Paul e Jared diminuíssem a velocidade.

Por que diabos não corriam mais devagar?

Sua mãe que observava sem interferir na brincadeira, ria discretamente enquanto sua filha fechava cada vez mais a cara, e fazia um bico.

Os quileutes completamente alheios à exasperação e frustação da garotinha, que de forma atrapalhada buscava alcançá-los, riam...

Talvez a disparidade entre as velocidades pudesse ser atribuída à diferença de um ano entre as idades dos garotos e da garota, mas esse, definitivamente não era o caso.

Mesmo com essa diferença de idade Héstia sempre os acompanhou, porém de uns  sete meses pra cá, parecia que seus amigos haviam ganho uns dez bons centímetros à mais que a mesma.

O que pra a jovem de pele preta, e cabelos encantadoramente encaracolados, era injusto.

Muito injusto.

Ao menos era isso que pensava enquanto se segurava para não fazer uma cena na frente de seus amigos e mãe.

Entretanto, nem tudo acontece conforme desejamos.

E as risadas, acabaram levando a brincadeira ao desfecho previsto por Marie, a mãe que lentamente cessava a risada discreta, ao observar a careta de sua filha evoluir para uma feição chorosa.

Paul foi o segundo a perceber, e observando Héstia  que estava prostada no chão, e logo perguntou:

- Você caiu?

Uma pergunta podia muito bem ser um estopim.

Héstia não se orgulhava do que fez  após essa pergunta do seu melhor amigo.

Oras, ela já tinha quase onze anos afinal.

Contudo, ela chorou.

Chorou irritada com a brincadeira, com as pernas de Paul e Jared por terem crescido rápido e irritada por estar chorando.

-Tia? A Héstia ela... ela... eu acho que ele quebrou algo! - Paul gritou, preocupado com a amiga caída no chão.

Jared, alheio ao que estava acontecendo, parou de correr  quando ouviu o grito de Paul, e virou o rosto em direção aos amigos.

-Ela quebrou o braço?- O murmúrio baixo de Jared não fora ouvido por ninguém...

Héstia  com toda sua dignidade restante, endireitou os ombros e fungando disse:

- Não quebrei nada, eu só  não quero mais brincar, e bem... resolvi me sentar nessas folhas secas.

Marie que ainda observava de longe, apenas pôde segurar a risada que queria escapar.

Paul estreitou os olhos, ele não gostava quando seus amigos choravam, por vários motivos, afinal seu pai dizia que  chorar era para fracos, e ele não achava seus amigos fracos.

Se Héstia não era fraca, por quê ela chorava?

Confuso, ele cogitou perguntar ao seu pai, mas as respostas sempre vinham com um custo doloroso.

Às vezes o custo vinha mesmo sem as respostas.

Era ruim.

Por isso ele amava Marie, ela dava biscoitos, era bonita, carinhosa, e nunca gritava  ou batia nele.

Paul queria que ela fosse sua mãe, e quando disse isso ao seu pai, estranhamente, ele riu.

Foi um som feio e triste.

Paul sacudiu a cabeça irritado consigo mesmo, ele teria que perguntar a tia Marie, isso era certeza.

Ele observou o  rosto molhado de Héstia e se perguntou  o que faria.

Ele pulava em Jared quando ele chorava, mas algo lhe dizia que isso não agradaria a garota.

O mesmo discernimento não ocorreu a Jared, e enquanto Paul se virava para questionar a tia Marie sobre o que fazer quando meninas choravam, ouviu-se um baque.

Estatelado no chão com uma Héstia furiosa ao lado se encontrava Jared.

Que se perguntava : O que havia feito de errado?

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Horas depois o pequeno trio discutia sobre quais os próximos  retalhos  seriam usados para a próxima parte de uma das três colchas  de retalhos que  Tia Marie estava fazendo com eles.

Jared queria um  antigo pedaço de blusa, estampado com dragões, Héstia queria um que tinha uma raposa como estampa e Paul, queria o mesmo retalho que Jared...

Que apertava o retalho protetoramente contra o peito, as sobrancelhas franzidas.

- Larga de ser chato- Jared começou, tentando soar convincente- Você pode escolher outro.

Héstia observava em silêncio, os olhos escuros intercalando entre ambos os seus amigos.

- Eu quero esse. – Disse Paul com a voz resoluta, olhando para Jared – Você nem gosta de dragões.

O quileute  em questão se sentindo atingido pela grave acusação do amigo resolveu contra-atacar, as sobrancelhas se erguendo ao mesmo tempo que os cantos de seus lábios, enquanto ele disparava para Paul:

- Tá, ela também não tem raposa! – Héstia o encarou irritada, e a criança continuou- Você vai falar pra ela não usar o paninho dela por isso?

- Você está sendo um idiota.- Héstia disse, a voz soando irritada- É só vocês tirarem no impar ou par.

Ambos a ignoraram, continuando  a se encarar, um com as sobrancelhas erguidas e os olhos risonhos, e o outro com o cenho franzido.

- Ela não tem raposa.- Jared continuou os olhos brilhando, sabendo que ele tinha um ponto, o sorriso brincalhão ainda no rosto- No caso, ela também fica sem, né ?

Os olhos do quileute mais velho se estreitaram para Jared.

E as sombrancelhas do melhor amigo se ergueram ainda mais.

A pequena Héstia se perguntava quando sua mãe voltaria do mercado...

Paul olhou rapidamente para a garota de olhos escuros ao seu lado, que sorriu e mexeu os lábios dizendo silenciosamente:

Eu não quero a raposa...

Os olhos do quileute, transbordaram descrença em um segundo e ele balançou a cabeça, incomodado.

Com um suspiro o quileute emburrado disparou:

- Fique com seu dragão, idiota.

Jared arregalou os olhos, surpreso por ter dado certo.

- Sério?- Questionou, os olhos castanhos brilhando, alegres.

Paul suspirou.

E Héstia gargalhando, andou em passos rápidos e abraçou os melhores amigos.

Inclinando a cabeça, ela sussurou para Paul um obrigada, que foi repondido por um dar de ombros casual... 

O rosto de Paul permaneceu cuidadosamente indiferente, e se não fosse pelo forte tom de vermelho que coloriu as bochechas e orelhas do quileute, Jared teria acreditado que ele não se importava.

HÉSTIA ●°°•●Paul LahoteOnde histórias criam vida. Descubra agora