Crianças

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“Certas vezes uma só frase é necessária para nos sentirmos vivos de novo...”

                      
Rafaella                   

Não tenho recordações de me divertir tanto. Hoje foi um dia atípico. 
                    
Pode ser exagero quando falo assim, mas Alice conseguiu arrancar gargalhadas minhas hoje, e ainda não sei o porquê ela quebra minhas barreiras tão facilmente.                       

Antes de novamente entrar em meu quarto, percebi Gabriel jogando videogame na sala. Analisei se seria uma boa ideia tentar uma aproximação, mesmo assim sentei-me no sofá onde ele estava. 
                     
A escola dele começaria amanhã, e confiei em Bianca para levá-lo. 
                    
— Ganhando? 
                      
— Hã? 
                    
Apontei o indicador para o jogo de futebol. 
                  
— Sim. 
                    
— Pelo visto você é bom. 
                  
Realmente perdi uma boa parte da intimidade com meu filho, e se antes eu jogava com ele, agora nem mesmo observá-lo e fazer comentários eu consigo. Queria mudar isso.                     

É só dar o primeiro passo, Rafaella! 
                     
— Mais ou menos. 
                     
— Posso ficar assistindo? 
                   
— Uhum. 

Os cinco minutos seguintes foram de mais puro silêncio na sala. 
                      
Meus pensamentos diziam que era uma má ideia permanecer aqui, já que não sou uma mãe presente, só que resolvi ignorá-los hoje, já que quebrei muitas regras. 
                      
— Por que você estava brincando com aquela menina? — Gabriel puxou conversa comigo, me surpreendendo. 
                  
— Ela estava sozinha e acabou me chamando. 

Imediatamente ele pausou o jogo, me olhando irritado. O semblante dele havia mudado drasticamente. 
                    
— Não quero uma irmã! — falou de forma ríspida e jogou o controle no sofá, tentando sair da sala logo depois. Dessa vez não deixei que isso acontecesse. 
                      
— Gabriel! — segurei uma de suas mãos. — Ela é filha da Bianca, e não estou procurando uma irmã para você, se é o que pensa. 
                   
— Só que você gosta dela. 
                     
— Sim. Alice é uma boa menina, e muito alegre. Você podia dar uma chance para ela, sei que se sente sozinho. 
                    
— Eu quero a minha irmã e a minha mãe! 
                    
Vi o quanto ele estava furioso após ouvir o seu tom, e em um primeiro momento não consegui dizer nada. 
                    
— Não é só você que sente a falta delas. Todos os dias eu penso em sua irmã, e daria tudo para que ela estivesse aqui com a gente. 
                    
— Não quero mais jogar! 
                    
Saiu da sala e foi em direção ao seu quarto. 
                    
Minha cabeça estava quente, e fechei os olhos por alguns segundos, tentando entender um pouco da cabeça do meu filho. Em vão. 
                     
Não sei o que fazer, a verdade é essa. 
                     
— Com o tempo ele irá melhorar, Rafaella. — ouvi a voz de Helen perto de mim, e imediatamente abri meus olhos. 
                    
— Não sei mais o que fazer. Eu até tento me aproximar de Gabriel, mas ele me ignora totalmente. Eu sou uma mãe falha, Helen. 
                      
— Não, você não é. — sentou-se ao meu lado. 
                                               
Não consigo ser grossa com Helen. Não tentem me entender, mas ela é uma das poucas com quem não me irrito. 

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