Rafaella
Não estava confortável de vir a esse local. Não mais.
Visitar uma pessoa que traz somente memórias horríveis a você não faz sentido algum. Somente uma pessoa masoquista faz algo assim, ao querer se lembrar de um passado que jamais sairá da sua cabeça.
Mas aqui estou, a espera de Rodolffo, o homem que acabou com os meus sonhos, a pessoa que é responsável direta pela morte de Sofia e Gizelly por consequência.
— Isso nunca irá mudar. — ele disse, fitando meus olhos.
— É uma pergunta?
— Não. Uma afirmação.
Não respondi, nem precisava.
Satisfação é algo que não dou de forma costumeira, e muito menos para uma pessoa que desprezo com todas as minhas forças.
— Me desculpe. Eu me arrependo do que fiz. — abaixou a cabeça.
— Você fala isso porque está cansado de olhar em meus olhos, sabendo que destruiu a minha família. Não é por você que insiste em falar isso, é por estar cansado de ser humilhado.
— O que quer de mim? Eu ficarei aqui o resto dos meus dias!
— Sabe... levei um tempo para descobrir que Gizelly me traía com você — ignorei sua pergunta. — O erro foi meu, já que eu os apresentei. Como ia desconfiar do meu melhor amigo na época, né?
— Rafaella...
— Cale a boca! — o interrompi. — Você é sinônimo de tudo que possuo de ruim em minha vida. É por sua causa que não consigo mais confiar em ninguém.
— Eu errei, e assumo.
Comecei a rir. Se fosse um erro comum eu até entenderia.
Traição é normal no mundo de hoje. Apesar de algo repugnante, é algo intrínseco das pessoas trair a confiança de alguém. Eu desprezo atitudes assim, mas sei que minha opinião não irá melhorar o mundo, já que estamos em decadência.
— Como eu iria desconfiar de Rodolffo, meu melhor amigo? Isso estava fora de cogitação. Mas o destino fez questão de ligar os pontos para mim...
Vai ser estranho falar isso, mas eu descobri sem querer sobre o romance da minha mulher com meu melhor amigo.
Estava andando no shopping, algo que não costumava fazer, e percebi Rodolffo indo em direção a uma loja.
Andei a passos largos, indo na direção dele para cumprimentá-lo- e conversar alguns assuntos. Claro, iria falar sobre o meu casamento estar desmoronando, já que ele era o melhor amigo, não?
Por mais que estávamos distantes nesse último mês, eu entendia o seu trabalho, e tinha certeza absoluta de que a culpa não era dele. Eu precisava de seus conselhos, e tentar de alguma forma entender como cheguei ao fundo do poço em meu casamento.
Só que o destino, esse ser, se é que posso chamá-lo desse nome, resolveu agir, e há mais ou menos vinte metros de distância reparei em Gizelly, indo em direção a Rodolffo. É claro que em um primeiro momento não achei nada demais, já que também eram grandes amigos, entretanto, a situação mudou de figura, e saquei tudo em menos de cinco minutos.
Mão na mão, mão direita em uma parte significativa dos cabelos, polegar na bochecha, beijo na testa...
Eu realmente não precisava de nada mais para entender tudo que estava acontecendo naquele momento, mas o ápice daquela situação inusitada foi o beijo apaixonado no final daquela conversa.
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THE LOST
FanfictionCom qual olhar você encararia a vida se perdesse sua esposa e filha em um acidente de carro? Rafaella Kalimann é uma mulher marcada por uma das piores dores do mundo: a dor de enterrar um filho. Após a grande tragédia em sua família, ela se fechou p...