PARTE TRÊS - A QUEDA

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A queda começa quando menos se espera.

É o que acontece quando se cede às ganâncias de coisas mundanas e inúteis. É a consequência de ser tão humano, tão desesperado, tão... mortal.

O anjo não prestou atenção no próprio fim, no que o aguardava. Não sabia, e não tinha como saber, que o tesouro tal qual buscava era na verdade a posse de alguém muito ciumento.

Sabe como são os deuses e seus brinquedinhos. Sempre em guerra com alguém.

Ícaro, filho de Dédalo — o construtor do labirinto —, tentou segurar o sol inteiro em suas pequenas mãos mortais e o que encontrou foram raios do inferno mais quente que havia existido. Nem mesmo Hades nas profundezas de Hellas tinha domínio de um fogo tão quente.

Hélios riu do topo de seu sol. Riu do pequeno mortal que caiu em sua armadilha, como uma abelha atraída pelo pólen de uma flor.

Ícaro não tinha a menor chance, mas ainda sim implorou misericórdia quando as asas derreteram nas costas escaldantes e ele caiu em queda livre para o mar.

Ainda rindo, o deus do sol lhe concedeu uma pequena misericórdia.

Ele morreria em paz, nas profundezas do oceano, mas seria obrigado a se encontrar com o sol e o mar pelo resto de sua vida. Até que não existisse mais vida.

E assim, Ícaro encontrou seu Sol e seu Mar, século após século, geração após geração, sempre morrendo para aquele desespero de desgrudar a carne dos ossos. Sempre em paz com essa decisão.

E o grandioso e esquecido Oceano o recebeu de braços abertos todas as vezes.

Icarus - Entre o Sol e o OceanoOnde histórias criam vida. Descubra agora