Icarus - Entre o Sol e o Oceano

Epílogo

— Por que não a levou de uma vez? — A voz dele soou oca.

Havia passado tanto tempo na forma de gato que era estranho ouvir aquele timbre menos... felino.

— Ela queria mais tempo com ele. Queria sentir o que é felicidade.

Okeaniye encarava a vista abaixo com certo pesar. Mas ele não se deixava abalar por aquela expressão, conhecia a cobra que havia embaixo daquela pele.

— Isso é a porra de uma mentira — rosnou, fechando o olhar nela.

— Mas ela merece viver essa mentira, por mais cruel que seja.

— Ele matou a esposa dele, Oke!

— E? Ela também matou antes. E Ícaro não vai conseguir matar ela. Nunca. Thalassa não se curvará perante ninguém. — Além dela, é claro.

— Você é insana — disparou, olhando na mesma direção que ela. O tempo passava lento, até para ele, e sentiu que precisava desesperadamente de uma bebida. — Nunca vou perdoá-la por isso — sussurrou com pesar.

— Também não me perdoará por ela se parecer com Ariadne?

— Não toque no nome dela!

Oceano riu.

— Não fui a responsável pela morte dela. Thalassa ter sua aparência significa apenas que é melhor se manter e manter os outros na linha, ou será obrigado a assistir ela ter o mesmo fim. O fato de isso ser uma tortura para você, Baco, é puro bônus.

— Vou matá-la por isso.

Ela estalou a língua.

— Você pode tentar — disse, suavemente, olhando para a corrente no pescoço dele. O símbolo de sua prisão. — Mas quando meu plano estiver concluído não terá coragem de encostar um dedo em mim.

Eles olhavam a casa lá embaixo, pelo vidro da clarabóia. Baco se segurava para não chorar, vendo Thalassa no colo daquele projeto de anjo ridículo enquanto eles e os amigos conversavam e riam.

Queria descer até lá e arrastá-la para longe dele. Longe daqueles braços asquerosos. Ícaro matou a própria esposa. E agora ele queria matá-lo por tocá-la daquela forma.

Baco engoliu em seco, sentindo a cabeça doer.

— Pelo menos me deixe matá-lo.

Mas a Senhora dos Mares apenas riu outra vez, balançando a cabeça em negação.

— Vai ser uma jornada divertida, Baco. Eu prometo.

Ele não disse mais nada, apenas deixou o corpo se curvar pelo mundo, de volta para casa.

Aquela jornada não teria nada de divertido.