Icarus - Entre o Sol e o Oceano

V. Hit the road, Thally. And don't you come back no more

Quando Thalassa finalmente chegou no Le Solaire, já passava das nove da noite.

E ela passou o tempo todo com a cara na janela admirando as ruas agitadas em pleno êxtase, a música e a arquitetura maravilhosa do lugar.

Hora ou outra falando com Camila, que quis saber detalhes sobre seus gostos culinários nem um pouco refinados, contrariando a ideia que a chef tinha, levando em consideração que Thalassa era amiga de Olivie Kalamari ― a vegana.

Era uma noite de quinta-feira e mesmo assim as ruas do Quartel Francês estavam lotadas, brilhando de luz e música. As pessoas dançavam, bebiam e parecia uma festa sem fim.

― Caramba, Camila. É sempre assim? ― A jovem perguntou animada, esquecendo-se do puxão que sentia na cabeça desde que saiu do aeroporto.

― Sim. Todo dia é dia de festa. Foi por isso que Ícaro comprou uma casa aqui. ― Ela contou enquanto Connor parava o carro em frente a um prédio de três andares de tijolinhos vermelhos com uma porta dupla de madeira. ― Ele é dono de uma casa de jazz na Bourbon Street. The Sunset, o nome. Se a senho... você veio para o Essence Festival, vai passar lá em algum momento.

― Ah, com certeza eu e as meninas iremos lá. ― respondeu, pensando em shots de tequila e drinques coloridos. E jazz, muito jazz.

Então Connor desligou o carro. As duas desceram e enquanto o motorista pegava suas malas, Camila e Thalassa entraram no Le Solaire.

A jovem imaginou que com certeza estava de queixo caído e babando, mas não conseguia parar de olhar para a mansão.

― Por que, Le Solaire? Significa "O Solar" em francês, não é? ― Ela perguntou, usando o pouco de francês que sabia, ainda babando pela arquitetura da casa, que ficava na Royal com a St Ann Street.

Fazia sentido que quisessem exibir a casa.

O pátio central era enorme e de pé direito duplo, ladeado por paredes de pedra branca, com trepadeiras aqui e ali. Vasos de flores e plantas penduradas ao redor, traziam a calmaria do que deveria ser um lar.

Do lado oposto da entrada havia uma mesa de jantar de carvalho enorme, com candelabros de prata — que durante a noite deveriam exibir velas queimando, brilhantes, enchendo o ambiente com uma luz tênue e acolhedora, mas que no momento estavam sendo ofuscadas pelas luminárias sob os parapeitos das sacadas internas. No centro, uma lareira de chão, espreguiçadeiras de madeira com estofado branco e um conjunto de sofás e poltronas amarelas ladeando a lareira. Na ponta direita, perto da entrada, uma escada de madeira escura à frente da mesa levava ao segundo e terceiro andar.

A vista despertou na jovem galerista a vontade de pintar que mal existia dentro de si. Noite no Céu, era o nome que ela imaginou dar ao quadro.

― Bom... ― Camila hesitou. ― Ícaro deu esse nome, e é uma história que não cabe a mim contar, embora seja meio óbvia a referência a Solaris, que descanse em paz. Mas antes dele comprar, se chamava La Fleur de Lis.

― Entendi. ― É claro que era coisa dele e de sua paixão avassaladora por Solaris. Mas ela morreria de curiosidade antes de perguntar a ele o porquê de tanto simbolismo. Solaire, Sunset, o álbum Sol Meu...

Thalassa andou pelo pátio absorvendo cada detalhe, pensando nas cores, nos tons, e quando olhou para cima, deu de cara com o céu estrelado, que a olhava de volta, através da enorme clarabóia de vidro.

Ciao care stelle, sorriu ao cumprimentar as estrelas.

― Eu vou te mostrar seu quarto. ― Camila chamou com a mão. Ela subiu a escada atrás da chef, olhando avidamente para todos os cantos de uma vez. Foi conduzida à direita no corredor do segundo andar com três portas duplas enormes, e abriu a segunda para ela. ― Já que você vai ficar por um tempo, preparei um quarto bem espaçoso. Tem closet e um banheiro anexo. ― Camila deu uma olhadela no relógio de pulso. ― Tenho que ir, mas sinta-se em casa. Se precisar de alguma coisa é só me chamar.