Caindo. Ela estava caindo.
Por tanto tempo que não conseguia contar as horas. Só existia o claro e o escuro que se estendia infinitamente pelo céu ao seu redor. E o vento, que gritava em seus ouvidos abafando todo o resto. Ela queria gritar mas não havia voz, queria se mover mas não havia força. Havia apenas aquela dor em seu corpo, fazendo-a rasgar pelo céu.
O oceano eterno esperava no fim da queda. Pronto para abraçá-la e consumir cada pedaço de sua essência.
Mas ainda era cedo, o oceano não podia ficar com ela agora. Não, não, não.
― Acorda ― aquela voz antiga e cruel, sussurrou em seu ouvido.
Não a queriam lá, não a queriam lá, não a queriam...
Thalassa acordou arqueando o corpo para cima o mais rápido que podia. A garganta ardia como se estivesse no deserto, o corpo inteiro tremia.
A primeira coisa que observou foi o lugar em que estava. Se agarrando aos lençóis, ela viu paredes. Havia paredes e uma enorme porta com vista para a varanda, uma cama. Ela estava sobre ela.
De novo. A mesma coisa, de novo.
Alguém tentava levá-la, alguém a impedia.
E agora seu corpo doía como se tivesse sido violada.
Os últimos sonhos não tinham nada a ver com os sobre o seu passado, os que ela estava acostumada a ter. Mas foi tão real, que o coração retumbava com a adrenalina e ela quase acreditou que poderia acordar caindo em queda livre de verdade.
Haviam a encontrado, sim. E ela estava sendo caçada.
Merda.
Levou mais tempo para ela se recuperar do que das outras vezes. E só levantou da cama quando teve certeza de que não estava tremendo.
Thalassa não pensou muito, apenas colocou um tênis, pegou os fones e saiu. Colocou uma música aleatória e procurou no GPS um lugar que pudesse correr livremente.
Ela tentou não pensar no fato de que não tinha comido nada e já tinha passado da hora do almoço. Apenas correu, pelo que pareceram horas. Era o que fazia quando havia acabado de chegar na Itália. Os sonhos não a deixavam dormir, então ela corria, projetando a própria vontade de fugir do perigo nos os pés.
Um mês depois ela havia se inscrito em aulas de kung-fu.
A jovem não queria parar, se parasse pensaria demais e sucumbiria em seja lá qual fosse a autossabotagem daquela vez. Ela só queria correr e deixar a melodia da música entrar até estar bem o suficiente para não desconfiar da própria cabeça. As coisas estranhas que estavam acontecendo com Thalassa desde que ela chegou em Nova Orleans estava começando a parecer insanidade pura. Talvez tudo isso fossem sintomas de esquizofrenia.
Era por isso que ela não podia pensar, então apenas correu sem parar por avenidas, ruelas e praças. E depois, tudo de novo na volta.
Quando entrou no Solar, ofegante e descabelada, Thalassa desejou não encontrar Ícaro ― e para falar a verdade, não encontrou ninguém. Ela não queria lidar com o misto de emoções que ele estava começando a proporcionar. Só de pensar nele ela ficava com frio na barriga. E. Aquilo. Estava. Errado.
Camila não estava na cozinha quando a jovem entrou para comer. Então ela fez um de seus elaborados sanduíches, pegou uma taça e uma garrafa de vinho da adega do Ícaro.
Refeição nada elegante, ela percebeu, enquanto subia as escadas.
No quarto, depois de sentar sobre a cama e ligar a televisão em um filme antigo, ela pôs os olhos em um envelope branco e uma rosa deixada em cima da mesa de cabeceira. Thalassa se perguntou há quanto tempo aquilo estava ali, movendo os olhos de um lugar a outro como se estivesse sendo observada, enquanto colocava o prato com o almoço em cima da cama e pegava a rosa branca e o envelope que tinha seu nome escrito com uma caligrafia nada elegante. Ao abrir o envelope, encontrou duas folhas escritas com aquela mesma caligrafia.
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Icarus - Entre o Sol e o Oceano
Fantasía🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2021 na categoria PARANORMAL 🏆 Conteúdo Adulto (+18) Em Nova Orleans tem de tudo. É lar de gente sem medo de viver, com rock alto e jazz melancólico de trilha sonora. É onde os sonhos moram, as ideias nascem, os amores aflora...