XXVIII. Olivie Marion Kalamari

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Aquele estava sendo o pior aniversário de todos.

Olivie se inclinou no vaso sanitário e vomitou novamente, a cena passando mil vezes em sua cabeça. De novo e de novo, em uma tortura lenta.

Infelizmente, Camila não estava ali com ela. Ela estava em outra parte do hospital, com Harriet ainda inconsciente e Rhoda Devore. Em seu lugar, Nora mantinha uma mão amigável em suas costas.

Eles ainda não podiam vê-los, estavam em cirurgia, mas... sangue, tanto sangue.

Ela vomitou de novo.

A festa acabou depois do disparo, ecoado sem dó pelo complexo inteiro. Olivie mal havia descido as escadas depois de se trocar para a festa surpresa que ela já sabia que haveria, quando escutou o som cortar o mundo.

Ninguém tinha explicação para o que encontraram naquela biblioteca. Para um homem segurando uma arma, uma criança tendo um ataque e um casal baleado no chão.

A história que havia ficado então era que Paolo não suportou ver a ex mulher com outro e surtou. Mas como ele havia passado pelos seguranças? Por que Harriet também estava lá? Ainda mais tendo um ataque?

Ninguém sabia responder aquelas perguntas, nem mesmo Paolo, que parecia não lembrar do que fez nos últimos três dias, ainda que de fato não tivesse lamentado a situação da ex. Apenas Nora, Marco, Camila e ela sabiam porque três daquelas pessoas estavam lá e ainda que a quarta fosse uma incógnita, era de se imaginar como foi parar ali.

Com a cabeça girando, ela sentou no chão de ladrilhos brancos ao lado do vaso.

— Acha que vão sobreviver? — Nora sussurrou, franzindo as sobrancelhas numa tentativa vã de parar de chorar. Sua maquiagem já estava completamente borrada. O vestido, em ruínas, coberto de sangue, assim como o dela própria.

Logo elas teriam que prestar depoimento, mas fariam o possível para adiar o máximo que conseguissem.

— Thalassa vai sobreviver, ela não é humana. Se curou uma vez e pode fazer de novo. É com meu irmão que me preocupo.

Nora se sentou ao lado dela.

— Os médicos disseram que a bala passou por ela primeiro, antes de chegar nele.

— Acha que ela se jogou na frente do Ícaro?

— Eu não acho. Tenho certeza. Lembra de como o pai dela morreu? — Nora balançou a cabeça, atordoada. — Ela faria qualquer coisa pra não ver isso acontecer com outra pessoa que ela ama.

Olivie jogou os cabelos para trás, evitando tocar nos olhos inchados.

— Isso não faz sentido! Thalassa disse que o problema de Solaris era com ela, por que tentaria matar meu irmão, então?

Nora não tinha resposta para aquilo.

— Porque agora ela pode falar com ele à vontade no limbo — alguém bradou.

As duas se viraram na direção da voz e encontraram Aidan com as mãos nos bolsos.

— Viu o que aconteceu? — Nora perguntou a ele.

— Não, eu não consegui entrar. Thalassa fez uma parede de contenção ao redor da casa, nenhum espectro pôde se aproximar. Mas sei que Ícaro está agora com Solaris, no limbo. Discutindo. Como nos velhos tempos.

A tentativa de piada não surtiu efeito contra o olhar assombrado das amigas.

Olivie se corroeu com como aquele aniversário deveria ter sido. Ela e os amigos, talvez até os pais para poder finalmente apresentar Camila como sua namorada, todos jantando juntos e dando risada. Thalassa e Ícaro se divertindo, rindo um com o outro como andavam fazendo desde que fizeram as pazes. Nora e Marco, que, puta que pariu, reataram aquele namoro que provavelmente nunca fora esquecido.

Nada saiu como o esperado. E ela não sabia quem deveria culpar por aquilo.

— Eles vão sobreviver — Aidan pigarreou, com a voz tensa.

— Espero que sim — Liv murmurou e voltou ao vaso para vomitar mais.

Icarus - Entre o Sol e o OceanoOnde histórias criam vida. Descubra agora