Calma sob o sol, aquele ser antigo e eterno observava o mundo.
Não havia paz para ela. Não havia começo, meio ou fim. Havia apenas a sua vontade e seu conhecimento, mais antigo que os próprios deuses em seus tronos celestiais brincando de governar e influenciar. Ela não se curvava a ninguém, nem mesmo àquele que carregava um tridente, cujos dons tentavam dobrá-la, persuadi-la a fazer sua vontade. Não, aquele deus jamais conseguiria. Ela era uma unidade na imensidão que não obedecia nem mesmo à natureza. Esteve aqui muito antes de tudo e todos, e ainda estará quando não existir mais nada.
Ela decorria sobre as ondulações e a maré constante dos sentimentos humanos no decorrer das eras. Ela observava suas constantes mudanças, sua ignorância, preceitos e suas evoluções.
Viu o homem nascer, sofrer e morrer infinitas vezes. Um ciclo odioso de carnificina que certamente lhe faria surtar de desespero. Viu o homem se entregar ao fogo e ao amor, viu o desprezo e a crueldade enquanto eles afogavam a si mesmos.
O Oceano sabia, no seu íntimo, como se fosse parte da própria história, que existiam duas, apenas duas fases na vida humana. E eram elas: Ascensão e Queda. Ela viu, ouviu e sentiu a ascensão de impérios e suas quedas, o nascer e o morrer de deuses, a procura do amor e o fim no ódio.
Mas o Oceano que tudo via, nunca vira algo como aquilo.
Beirava a fascinação com aquele desespero, desespero e algo mais… algo que ela não entendia.
Não se resumia apenas à Ascensão e Queda ali.
A história daquele humano começou com um risco. E um risco levou a outro risco. Ela via. Seja por medo de morrer, medo de perder a si mesmo ou de encontrar o que sempre sonhou e o ver se esvair por entre seus dedos.
O desespero certamente leva à loucura de alguns riscos. O desespero talvez seja essencialmente o que o ser humano precisa para fazer algo de que vai se arrepender. Como voar, voar diretamente para o Sol. Como se fosse uma salvação, ou um presente divino.
O oceano observava com atenção àquele desespero.
Tanto se pode ganhar voando até o Sol, ela pensou, o calor que ele emana pode ser acolhedor e brutal a sua maneira. Então afinal, por que alguém não pensaria em voar? Por que não pensaria em pegar aquele presente divino para si?
Talvez tudo se trate sobre o Sol e o que ele tem a oferecer. Alguém vê os crepúsculos infinitos da janela e pensa: Eu poderia tê-lo como meu, e assim todas essas cores, emoções e vibrações seriam minhas. Eu certamente teria um pôr do sol infinito para assistir quando quisesse, calor para me esquentar quando estivesse coberto por três cobertores e ainda sentisse frio, e uma luz, brilhante e eterna, que me iluminaria mesmo quando minha alma for uma completa escuridão.
O Oceano se perguntava, por que não a Lua? Por que não a pureza do luar e as Estrelas infinitas de seu arsenal? Qual era o problema de se banhar no luar puro e delicado, a satisfação seria imensa.
Eu que nada quero e nada possuo, e por isso, não compreendo.
Não, nem mesmo o luar poderia ser tão poderoso como o Sol, concluiu por fim.
Tudo se trata sobre como querem esse poder. Essa dádiva que poderia consertar sua alma quebrada e fazê-la reluzir ouro.
Como era imensa aquela coragem, como era inexplicável tamanho desespero. A ponto de fugir da segurança e se aventurar no desconhecido. Será que sabia que morreria nessa missão?
Não deve ter escolhas, acredito.
E é por isso que ele voaria para o céu, de encontro ao Sol. Disposto a tomar se fosse preciso, porque aquele vazio constante que seu peito sentia poderia ser facilmente consertado por sua luz.
Então, sem olhar para trás, ele voou.
E o Oceano não desviou a atenção.
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Icarus - Entre o Sol e o Oceano
Fantasy🏆 VENCEDOR DO WATTYS 2021 na categoria PARANORMAL 🏆 Conteúdo Adulto (+18) Em Nova Orleans tem de tudo. É lar de gente sem medo de viver, com rock alto e jazz melancólico de trilha sonora. É onde os sonhos moram, as ideias nascem, os amores aflora...