Icarus - Entre o Sol e o Oceano

VIII. Rixas Antigas Pt.2

Raivosa não era um adjetivo bom o suficiente para descrever como Thalassa estava se sentindo depois daquele encontro. Ela realmente esperava que ele não fosse aparecer outra vez em sua frente em pelo menos 30 anos. Mas seu bom Deus Todo Poderoso devia gostar de ironia divina porque lá estava ele na sua frente outra vez, todo emputecido, ridículo e... lindo.

Céus, ele era lindo.

E havia ficado ainda mais com o tempo.

A barba por fazer o deixava com uma aparência mais adulta, o cabelo preto bagunçado o deixava sexy. Ícaro havia criado músculos por toda parte, fazendo aquela camisa ficar apertada contra seus braços e tórax. Mas, muito embora Thalassa tenha ficado atraída por todos aqueles detalhes tentadores, a primeira e última coisa que ela reparou foi em seus olhos. Olhos azuis quase neon, coroados por sobrancelhas bem feitas, que brilhavam como gelo. Abaixo deles, olheiras e marcas roxas entregavam a falta de uma boa noite de sono.

Thalassa levou mais tempo do que queria admitir para conseguir desviar os olhos dos dele.

Após seu diálogo nada animador com o dono da casa em que estava hospedada, Aidan, que riu o tempo inteiro, resolveu desaparecer sem explicação e Thalassa foi para o quarto de Nora, que ficava no corredor oposto do seu.

Ela a encontrou no banheiro anexo com uma máscara verde gosmenta no rosto.

― Que cara é essa? Até parece que viu um fantasma. ― Nora riu.

Ela adorava esses trocadilhos idiotas sobre fantasmas.

― Na verdade eu vi alguém bem real.

Thalassa foi para o quarto a fim de sentar-se na cama, Nora a seguiu.

― Quem?

― O dono da casa. ― Sussurrou alto, fazendo uma careta de falsa surpresa.

― O que? ― Nora sussurrou alto de volta.

― Isso mesmo que você ouviu. Ícaro está aqui, mais precisamente, no quarto ao lado do meu.

― Que surpresa boa. ― Ela riu, Thalassa revirou os olhos. ― E você falou com ele?

― Claro que sim. Minhas boas vindas, inclusive, foi uma dança particular ao som de Ray Charles.

― Nãããão! Como isso aconteceu?

― Aidan e eu estávamos no estúdio de música do Ícaro. Tinha uma vitrola lá, e você sabe como eu adoro vitrolas. Logo, Aidan e eu começamos a fazer o Quem Dança Melhor pela sala. E então, no meio da minha interpretação do Ray, eu vi o maldito me encarando da porta.

Nora colocou a mão na barriga, rindo descontroladamente.

― Por que será que eu não estou surpresa?

― Aí ele veio todo arrogante, perguntando o que eu estava fazendo na casa dele. Ele ficou me medindo de cima a baixo, o que eu não gostei nem um pouco. Mas pelo menos não se importou de eu ficar. Ainda sim quero enfiar minha mão na cara dele e mostrar o que eu aprendi nas aulas de caratê. ― Ela parou por um momento, mas logo continuou: ― E sabe o que ele me disse? Que era melhor eu não triturar mais nada dele. Você acredita nisso? Aquele babaca disse para a Dominic inteira que eu TRANSEI com um fantasma! Ele... Ícaro continua sendo um arrogante narcisista. Meu Deus, como eu o odeio. ― Bufou.

A amiga encarava Thalassa com um biquinho sugestivo.

― Bom, eu acho que esse foi um ótimo reencontro. Vocês vão trazer um entretenimento maravilhoso para as minhas férias.

Thalassa mostrou o dedo médio para ela.

― Ele está diferente — pensou alto. — Ele sempre teve cara de viciado em drogas, mas agora tem essa coisa na expressão, ele parece tão sério e triste. O luto se mostra presente só pelas manchas escuras embaixo dos olhos. Por um momento pude ver a mim mesma refletida nele. Quase senti pena, não deve estar sendo fácil pra ele. Mas é irritante porque mesmo na merda ele continua um gato. É muito injusto.