Prólogo

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"O Destino é geralmente concebido como uma sucessão inevitável de acontecimentos relacionada a uma possível ordem cósmica. Portanto, segundo essa concepção, o destino conduz a vida de acordo com uma ordem natural, segundo a qual nada do que existe pode escapar..."

O céu de Nova York se encontrava nublado naquele dia de quinta-feira, as pessoas andavam rapidamente pelas calçadas e ruas, apertavam seus casacos e sobretudo em seus corpos, queriam evitar o vento frio. Esse que não sessava por um segundo sequer... algumas madames tiravam seus cachorros do chão que passeavam ali próximos ao Central Park, queriam evitar se atrasar e também evitar o forte temporal que ameaçava cair naquele dia.

Ali próximo ao Central Park um ser pequeno observava as pessoas passarem tão apressadas em seus celulares, e até mesmo querendo evitar pegar a chuva, que logo cairia, que não enxergavam a pequena criança de olhos curiosos ali. Não deixava nada escapar pelos seus olhos castanhos, estava ali já havia dias e não sabia voltar para onde ela, pobre inocente, conhecia como lar.

Próxima a uma árvore ela segurava com força as mangas de seu casaco não muito grosso, o que a deixava com frio, as mãos gordinhas e pequenas já estava sentindo o frio que iria aumentar no decorrer do dia, o casaco bem maior do que ela. Uma touca que de longe notava ser enorme, seus cabelos curtos chegavam a ser escondidos por conta da touca enorme. Em seus pés um par de botas, usava uma calça jeans surrada e uma blusa com um enorme desenho que não dava para ser visto pois ela apertou o casaco ao seu corpo.

Seus olhos curiosos percorrendo cada canto daquele parque em busca de um abrigo, ela não iria o encontrar ali. Sua boca pequena e carnuda já tremia, não se sabe dizer se era pelo frio ou pelo choro que a pequena segurava, podemos dizer que por ambos. Ninguém via ela ali, ou fingia não ver, a pequena mordeu o lábio inferior, deixando a amostra sua janelinha, o dente que havia perdido a alguns dias atrás.

Do outro lado do parque uma mulher bem vestida vinha segurando a mão de uma outra pequena, com os olhos tão curiosos quanto os da outra que estava a poucos passos dali. Ela vinha sorrindo, sorriso esse que também tinha uma janelinha recente, ela segurava forte uma pelúcia em sua mãozinha direita, a esquerda ela apertava forte a mão de sua mãe. A mulher vinha distraída em seu celular, parou por um instante e olhou para o céu, falou algo sobre o tempo ao seu marido que estava do outro lado da linha.

Enquanto a mulher estava ali parada e soltou a mão de sua pequena para pegar algo dentro de sua bolsa, a criança olhou para o lado e parou seus olhos na pequena de touca enorme a poucos passos dali, ela deitou a cabeça de lado como se estivesse curiosa sobre o que via, ela deu poucos passos com seus pés pequenos e protegidos com pequenas botas, os olhos castanhos observaram a outra se aproximar de si.

— Você está perdida? - os olhos verdes analisou com cuidado e curiosidade.

A pequena de touca gigante deu dois passos para trás e se sentiu acanhada com a aproximação, apertou os pequenos braços em seu corpo, ela estava com medo.

— Estou - foi tudo que respondeu.

Ela observou as botas nos pés da pequena a sua frente, e suas roupas limpas e bonitas a seus olhos, o casaco grosso que ela vestia, pareceu quente aos olhos castanhos e por um momento ela desejou está com um daqueles em seu corpo.

— Você está com frio? - a voz infantil perguntou e recebeu apenas um acenar de cabeça da garota de touca grande.

A de olhos verdes não pensou duas vezes antes de deixar a pelúcia no chão próximo aos seus pés e retirar de seu pequeno corpo o casaco pesado e fofinho. Ela se aproximou da menor com cuidado e estendeu o casaco, os olhos castanhos analisaram o objeto e com as mãozinhas trêmulas segurou o mesmo e apertou a seu corpo.

Se abaixou e agarrou a pelúcia, olhou para a mesma com atenção e com um sorriso enorme no rosto estendeu na direção da garota agarrada ao casaco, não demorou muito para que mais uma vez a mão trêmula da criança agarrasse a pelúcia.

— Para você se sentir quentinha e não se sentir sozinha - os olhos verdes olhava com atenção e sorria enquanto mexia a cabeça em positivo várias vezes.

— Você tem uma janelinha - a voz fina soou e fez com que a outra risse mais ainda.

— Você também tem - analisou a de olhos verdes.

Ela observou enquanto a garota deixava a pelúcia no chão e com dificuldade vestia o casaco que lhe foi oferecido, na mesma hora pode sentir o quão quente era e cheiroso também, ela sorriu e se abaixou para pegar a pelúcia e agarrou a mesma enquanto sorria para a garota a sua frente.

— Não vou esquecer - ela disse por fim.

— Não vai esquecer? - inclinou a cabeça para o lado e cruzou os bracinhos, estava começando a sentir o frio.

— Sim - mexeu a cabeça várias vezes em forma positiva, o que fez a grande touca cair por seus olhos, rapidamente a de olhos verdes se aproximou e ergueu a touca com as duas mãozinhas - você e isso - apontou para o casaco e a pelúcia em seus braços - ficará sempre em minha mente.

Ela apontou para sua cabeça e a outra apenas sorriu, elas ficaram se encarando por alguns minutos, até que a mulher que antes estava distraída em seu celular, viu sua filha e a chamou. Analisando que sua filha não estava mais com o casaco e a outra criança segurava a pelúcia favorita de sua filha, um enorme sorriso se instalou nos lábios da mulher, se orgulhava de sua filha.

— Você também ficará sempre em minha mente - a garota de olhos verdes falou.

Ela se virou e caminhou até sua mãe, os olhos castanhos observando as duas se afastarem, antes de as perderem de vista ela pode ver os olhos verdes uma última vez, quando a menina olhou por cima do ombro e ergueu a pequena mão para um breve aceno, esse que foi retribuído na mesma hora.

Não demorou para que a chuva tomasse conta de toda a Big Apple, já em casa e deitada em sua cama confortável e quentinha, a pequena criança de apenas cinco anos e olhos verdes pensou na criança de olhos castanhos e touca enorme, será que ela estaria protegida dessa chuva?

Agarrada em seu casaco novo e fofinho, a pequena estava embaixo de uma enorme árvore e abraçava com força a pelúcia em seus braços. O barulho da chuva e o forte vento estavam lhe assustando, ela não queria, mas as lágrimas estavam molhando suas bochechas gordinhas, ela queria saber voltar para o que ela chamava de casa, não entendia o motivo de seu tio a deixar ali e não voltar para lhe buscar.

Ela não via mais ninguém ali, mas o destino colocou uma mulher não tão jovem em seu caminho, a senhora viu a pequena encolhida próxima a árvore e se compadeceu, ela se aproximou e com poucas palavras conseguiu convencer a pequena a ir com ela para um lugar, seguro e confortável. Foi a melhor escolha que a pequena de apenas três anos fez, e a decisão mais correta que aquela senhora tomou naquele momento.

Algumas coisas que acontecem em nossas vidas e até mesmo nas vidas de outras pessoas, nos deixam pensativos. Quantos de nós não já pensamos que não há mais nada de bom no mundo, diante de tanta tragédia e notícias ruins, mas as vezes com pequenas atitudes que tomamos e pequenos gestos que conseguimos ver em notícias que outras pessoas fizeram, nos faz acreditar que ainda existe sim, pessoas boas no mundo e algo de bom nele.

Naquele dia a pequena Camila teve o privilégio de encontrar duas pessoas boas, que fizeram por ela muito mais do que aqueles que deveriam fazer, aqueles que ela conhecia por sua família, aqueles a qual prometeram cuidar dela quando seus pais já não estavam mais aqui, mas a partir dali, daquele dia, ela teve esperança de uma vida e mundo melhor.

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Espero que gostem...

Tenham uma boa leitura!

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