Capítulo I

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                       (Bruno)

   — De novo olhando a janela Bruno? — Brian me pergunta — Desde quando se interessa tanto por futebol? —. Eu não me interessava por futebol, mas gostava de ver os garotos da outra sala se exercitando.

   — Eu estava só olhando não pode? — Tento fugir do assunto.

   — De uns tempos pra cá você anda muito esquisito —.

   — E você muito intrometido —.
Retruco. Brian era meu melhor amigo, mas às vezes ele se excedia. Todavia, realmente eu estava diferente confesso. Meu corpo vem sentindo cada vez mais necessidades. Muitas das quais nunca fiz.

  — Esquentado você, hein?! —.

   Eu tinhas vários crush, dos quais todos não sabiam minha existência. Tinha o Professor de educação física, o Cassiano do outro time, até o idiota do Henrique. Mas no meu pedestal é claro estava o Henry Cavill. O crush supremo, ninguém chegava perto da beleza e perfeição dele, Henrique era o único que se aproximava. Mas como disse, ele era insuportável.

   Não sei porque, mas ele amava fazer piadinhas com todo mundo, sobretudo comigo. E no ensino médio, ele começou a me assediar as nádegas. Tudo para fazer piada com seus amigos imbecis.

   Na escola eu ouço muito burburinho sobre minha orientação sexual. Uns falam que eu pareço menina, outros dizem que eu falo como uma menina. Eu me incomodo, mas não posso mudar quem sou. Se sou efeminado, deve haver alguma razão.

   Meu maior segredo, era que eu adorava usar saia. Pode parecer estranho, mas é algo tão confortável. No começo foi engraçado, quando eu tinha sete anos de idade, pedi uma saia de presente de aniversário. Me lembro que meu pai ficou branco como a neve, e teve uma queda de pressão. Minha mãe ficou mais preocupada se meu pai sobreviveria, do quê com o que acabou de ouvir.

   Mas tudo aquilo passou, hoje eu posso usar saia o tanto quiser dentro de casa. Eles (meus pais) concordaram que do lado de fora era muito perigoso, afinal era cheio de pessoas com muito ódio.
E realmente eles estão certos.

   Eu só queria chegar em casa, e vestir minha sainha rosa. Deitar na minha cama, e ouvir até derreter o cérebro One Direction.
Meu signo é câncer, então é muito comum eu chorar, por qualquer coisa. Uma vez chorei porque esqueci o nome de um presidente durante a prova de história.

   Quando o sinal toca. Finalmente posso sair daquele inferno, e ir para o único lugar onde tenho paz, a piscina da escola. Milhões de litros de água,. somente para mim e para alguns poucos alunos. Eu não gostava de me trocar no vestiário, porque basicamente todos os garotos da minha classe estavam lá, e eles tinham a mania de ficarem pelados, com a excessão de Henrique. Eu tentava não olhar muito. Certa vez um deles disse:

  — Gostou do meu pinto, Bruno? —. E todos outros riram. Fiquei muito envergonhado desde aquele dia. Então espero todos eles se trocarem, e depois vou.

                 (Henrique)

   Sabe quando você é doido por uma pessoa? Mas ela é tão burra que não percebe, e também você é covarde ao extremo?! Essa era minha situação atual. Eu era apaixonado pelo Bruno, desde a primeira vez que o vi. Foi no quinto ano do fundamental. Eu como sempre alto, e ele minúsculo. Seu cabelo castanho e grande me chamavam a atenção, sua pele era clara e incrivelmente macia. Poucas foram as vezes que tive a honra de tocar, e comprovei. Seus lábios tão vermelhos que parecia sangrar. E os olhinhos brilhantes, lindos.

   Por mais que eu fosse doido por Bruno, e já tendo deixado muitas vezes isso um pouco evidente. Ele parece não enxergar. Ou enxerga e não me quer. Esse impasse é torturante.

   Sobre ser gay, sempre soube disso, desde que era um feto. Não sou efeminado como os outros, não sei se isso é uma desvantagem ou não. Apenas sei que ninguém sabe.

   Já saí com garotas para disfarçar, mas toda vez que as beijo sinto uma agonia, e uma vontade de correr. E é difícil esconder meu segredo, já que na escola sou disputado. Mas a pessoa que eu queria que lutasse por mim, não faz isso.

  Bruninho cresceu, pouco reconheço. É baixinho, tem grandes bochechas, seu corpo ficou espetacular. E minha admiração e desejo cresceu na mesma proporção.

   Já pensei em ir falar com ele, dizer tudo o que ocorria, mas tive medo da sua reação. Ele parecia calmo, mas era surtado isso eu bem sabia. Na verdade eu conhecia tudo sobre ele. Com excessão do seu interior.

                     (Bruno)

   Dezoito anos de vida, nenhum beijo, nenhum contato, ninguém me quer. Assim eu pensava. Achava que isso estava ligado a minha aparência. O que corroborou para minha baixa autoestima. Eu estava um pouquinho acima do peso e era baixinho. Os outros caras gays preferem pernas grandes, e caras malhados e peludos. Eu não tinha nada disso.

   — Bruno, para de nadar em círculos —. O professor gritou com a prancheta em mãos anotando algo.

   — Inferno —. Resmungo e faço o quê ele pede. A piscina era enorme, mas mesmo assim cruzo inúmeras vezes.

   Chega a hora de sair da piscina, vou para o vestiário enquanto dá tempo, tento trocar de roupa, mas quando estou vestindo minha calça Henrique aparece dando uma palmada na minha nádega.

   — Redondinha, tem usado muito esse rabinho? —. O pessoal do time ri, e eu saio daquele lugar envergonhado, mais uma vez, e com ódio da cara do Henrique.

   — Tão bonito, e com o coração tão cheio de bosta —. Resmunguei.

   Eu queria que ele se explodisse, não estou nem ali se ele é lindo ou não, só queria ficar em paz. Se ele tem problemas psicológicos que resolva, mas me deixe quieto no meu lugar.

   — Eu te odeio Henrique —. Resmungo enquanto caminho para fora do colégio.
 
                  (Henrique)

  — Por que você não percebe Bruninho? —. Mentalizo, e me arrependo do que faço. Me despeço dos meus amigos, e vou para casa. Às vezes queria mudar de escola, só para não ver aquela carinha linda de novo, mas aí meu morreria de saudades. Sim sou dramático, sou apaixonado, eu sou o Henrique.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

                    


  

 
  
  

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